Descoberta feita por pesquisadores brasileiros reforça a importância do Brasil na paleontologia mundial e desafia teorias sobre a origem africana do grupo
Uma descoberta
feita por cientistas brasileiros está ajudando a reescrever parte da história
evolutiva dos moluscos de água doce. Um artigo recém-publicado na revista
científica Journal of South American Earth Sciences apresenta dois novos
gêneros e espécies fósseis da família Iridinidae, identificados
a partir de fósseis coletados no sertão de Pernambuco, na região da Bacia do
Jatobá.
Os exemplares, batizados de Duplexium jatobensis e Anhapoa
munizi, foram encontrados na Formação Salvador, datada do
início do período Cretáceo (cerca de 140 milhões de anos atrás). Esses fósseis
são agora os registros mais antigos da família Iridinidae no mundo e
os primeiros encontrados na América do Sul, até então
considerada fora da área de origem desse grupo, que se acreditava restrito à
África.
O estudo (acesse neste link) é assinado por Débora Eliza Baumann, Luiz
Ricardo L. Simone, Rafael Costa da Silva (pesquisador
do Museu de Ciências da Terra/SGB) e Renato Pirani Ghilardi, em parceria
com instituições como a Unesp (Bauru) e o Museu de
Zoologia da USP.
Reescrevendo a história da fauna de água doce
A descoberta surpreende a comunidade científica porque contradiz a ideia de que
os Iridinidae – moluscos de água doce, hoje encontrados quase exclusivamente no
continente africano – teriam se originado apenas por lá. A presença desses
fósseis no Brasil, datados de um período anterior à separação dos continentes
sul-americano e africano, sugere que o grupo estava presente em Gondwana
antes do rompimento do supercontinente.
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| Divulgação SGB |
Divulgação / SGB
“Trata-se de um
achado de enorme relevância paleobiogeográfica, que mostra que esses moluscos
existiam na América do Sul muito antes do que se imaginava. Isso pode indicar
que o grupo tenha se originado aqui, ou pelo menos que era muito mais
amplamente distribuído no Gondwana”, explica Rafael Costa da Silva,
pesquisador do SGB e coautor do artigo.
Dois novos gêneros para a ciência
O artigo descreve em detalhes as características anatômicas que justificam a
criação dos gêneros e espécies:
- Duplexium
jatobensis apresenta uma combinação inédita de dentição
heterodonte e taxodonte, com uma concha longa e estreita, além de
cicatrizes musculares específicas.
- Anhapoa
munizi possui morfologia distinta, com uma concha
ovalada, também muito alongada e comprimida, e dentição heterodonte típica
da família.
Os fósseis foram
encontrados durante trabalhos de campo no canal de transposição do Rio
São Francisco, onde o afloramento de rochas da Formação
Salvador foi exposto por obras de infraestrutura.
Os exemplares analisados foram incorporados à coleção de paleontologia do Museu de Ciências da Terra (MCTer), no Rio de Janeiro, onde estão devidamente catalogados e disponíveis para futuras pesquisas.
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| Divulgação SGB |
Avanço na pesquisa e contribuição do SGB
O trabalho reforça o papel do SGB como instituição estratégica na geração e preservação de conhecimento paleontológico no Brasil. Além de apoiar atividades de campo e manter coleções científicas de referência, o SGB atua na divulgação de descobertas que contribuem para o entendimento da história da vida no planeta.
Embora não tenha aplicações econômicas diretas imediatas, a descoberta ajuda a esclarecer a evolução dos moluscos de água doce e reforça a importância da paleontologia brasileira na reconstrução dos processos geológicos e biogeográficos globais.
“Cada nova descoberta
como essa reforça a importância de preservarmos e estudarmos nosso patrimônio
geológico. O Brasil tem muito a revelar sobre os caminhos da vida ao longo da
história da Terra”, conclui Rafael Costa da Silva.


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