Os relacionamentos amorosos representam uma parte significativa da experiência humana, mas quando se trata de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), ainda persistem mitos e concepções errôneas.
Em meio às celebrações do Dia dos Namorados, o
neurologista Dr. Matheus Trilico traz à luz uma realidade frequentemente
negligenciada: pessoas autistas não apenas desejam conexões românticas como
também são plenamente capazes de construir relacionamentos saudáveis e
duradouros, desde que com o suporte adequado.
"Existe uma narrativa equivocada de que
pessoas autistas não teriam interesse ou capacidade para relacionamentos
românticos. Esta visão não apenas é incorreta como também prejudicial, pois reforça
estereótipos e contribui para o isolamento social", afirma Dr. Matheus
Trilico, neurologista referência em TEA em adultos.
O isolamento social entre adultos com Transtorno do
Espectro Autista (TEA) está associado a um risco aumentado de desenvolver depressão
e ansiedade. “A literatura médica destaca que indivíduos com TEA frequentemente
enfrentam dificuldades sociais que podem levar ao isolamento social, o que, por
sua vez, está associado a sintomas como depressão e ansiedade”, afirma o
neurologista.
Com o aumento crescente nos diagnósticos de TEA em
adultos nos últimos anos, torna-se urgente abordar aspectos fundamentais da
vida social e afetiva desta população crescente.
Segundo pesquisas recentes publicadas no Journal of
Autism and Developmental Disorders, aproximadamente 73% dos adultos com TEA
expressam interesse em relacionamentos românticos, embora muitos relatem
dificuldades específicas em iniciar e manter essas conexões.
“Esses desafios estão frequentemente relacionados
às características próprias do transtorno, como a interpretação literal da
linguagem e a dificuldade em compreender sinais sociais não-verbais”, explica o
especialista.
Dr. Trilico enfatiza que a comunicação é
frequentemente um dos maiores desafios no relacionamento. Pessoas neurotípicas
dependem muito de comunicação indireta e sinais sutis que podem não ser
imediatamente perceptíveis para aqueles no espectro. No entanto, quando há
compreensão mútua e adaptações na comunicação, relacionamentos
extraordinariamente profundos podem florescer.
Estratégias para relacionamentos
entre neurodivergentes
O especialista compartilha três estratégias
práticas que têm demonstrado eficácia em relacionamentos neurodiversos:
- Comunicação
explícita e direta: Substituir insinuações por solicitações
claras e estabelecer um "dicionário emocional" para traduzir
sentimentos em palavras específicas.
- Criação
de rotinas compartilhadas: Desenvolver rituais de conexão previsíveis
que proporcionem segurança emocional e reduzam ansiedade.
- Implementação
de "pausas sensoriais": Reconhecer sinais precoces de sobrecarga
sensorial e estabelecer acordos prévios para momentos de regulação
necessários.
"Minha experiência clínica contradiz
completamente o estereótipo de que pessoas autistas seriam emocionalmente
distantes. Na verdade, muitas demonstram uma lealdade e dedicação
extraordinárias em seus relacionamentos, além de uma honestidade que elimina
jogos emocionais tão comuns nas relações neurotípicas", observa Dr.
Trilico, compartilhando uma perspectiva raramente discutida.
Estudos da Universidade de Cambridge mostram que
pessoas com TEA tendem a desenvolver apego seguro quando suas necessidades
específicas são compreendidas e respeitadas dentro dos relacionamentos. Isso
contrasta fortemente com o estereótipo de que seriam incapazes de conexão
emocional profunda.
A crescente visibilidade de casais onde um ou ambos
os parceiros estão no espectro tem contribuído significativamente para mudar
percepções. Representações culturais como o documentário "Amor no Espectro"
têm auxiliado na desconstrução de preconceitos e na demonstração da diversidade
de experiências amorosas entre pessoas autistas.
"Cada pessoa no espectro é única, assim como
seus relacionamentos. O que observamos clinicamente é que, com suporte adequado
e compreensão mútua, esses relacionamentos podem ser tão gratificantes e
significativos quanto quaisquer outros", conclui Dr. Matheus Trilico.
Dr. Matheus Luis Castelan Trilico - CRM 35805PR,
RQE 24818. Médico
pela Faculdade Estadual de Medicina de Marília (FAMEMA); Neurologista com
residência médica pelo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná
(HC-UFPR); Mestre em Medicina Interna e Ciências da Saúde pelo HC-UFPR;
Pós-graduação em Transtorno do Espectro Autista
Mais artigos sobre TEA e TDAH em adultos podem ser
vistos no portal do neurologista:
https://blog.matheustriliconeurologia.com.br/

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