A morte de um turista de 54 anos na escadaria de
acesso ao Cristo Redentor expõe de forma alarmante os desafios da gestão de um
dos principais atrativos turísticos do Brasil. De acordo com a comissão
responsável pelo acesso e bilheteria, o monumento recebe cerca de 2,5 milhões
de visitantes por ano, o que equivale a aproximadamente 6,8 mil pessoas por
dia.
O ocorrido evidenciou a fragmentação administrativa
do local, a precariedade da infraestrutura e a ausência de protocolos eficazes
para emergências. O Cristo Redentor é um dos monumentos mais icônicos do mundo,
está localizado no Parque Nacional da Tijuca, administrado pelo Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). No entanto, a sua
administração envolve também a Arquidiocese do Rio de Janeiro, responsável pelo
Santuário do Cristo Redentor. Essa sobreposição de responsabilidades gera
conflitos administrativos e dificulta a implementação de soluções ágeis e
eficazes.
A acessibilidade e a segurança de um dos atrativos
mais visitados do país refletem os desafios estruturais do turismo nacional. O
transporte até o monumento é operado por duas transportadoras: a
Paineiras-Corcovado, responsável pelas vans, e o Trem do Corcovado, que
gerencia o acesso ferroviário. Embora essa diversificação de operadores possa
garantir uma experiência bem coordenada, na prática, contribui para a
desorganização e a indefinição de responsabilidades.
O incidente também destacou um problema crítico: a
precariedade do atendimento médico em pontos turísticos de grande fluxo. O
Santuário do Cristo Redentor denunciou que o posto médico local permanecerá
fechado grande parte do dia, comprometendo o socorro a turistas em emergências.
Esse cenário se repete em diversos destinos do país, onde a falta de suporte
adequado agrava a vulnerabilidade dos visitantes.
Além disso, a burocracia excessiva compromete a
gestão eficiente do turismo. O debate entre a Arquidiocese e o ICMBio
exemplifica como as disputas institucionais dificultam melhorias na
infraestrutura do Alto Corcovado. Medidas essenciais, como manutenção de
acessos, instalação de equipamentos de segurança e aprimoramento do atendimento
médico, são frequentemente postergadas devido à falta de coordenação entre os
órgãos responsáveis.
A tragédia no Cristo Redentor é um alerta para a
necessidade urgente de uma gestão turística mais eficiente e integrada. O
turismo é um dos principais motores da economia brasileira, gerando empregos e
impulsionando o desenvolvimento local. No entanto, sem planejamento adequado,
segurança e acessibilidade, seu potencial fica comprometido.
Para evitar novos incidentes e melhorar a experiência dos visitantes, algumas ações são fundamentais:
- Garantir
infraestrutura adequada, incluindo postos médicos operacionais e
acessibilidade para todos os públicos;
- Investir
na capacitação de profissionais para atendimento e gestão de crises;
- Adotar tecnologias que melhorem a segurança e o monitoramento dos turistas.
O Brasil possui um enorme potencial turístico, mas sem uma gestão eficiente, continua a desperdiçar boas oportunidades. O episódio no Cristo Redentor não pode ser ignorado. Ele deve servir como um ponto de partida para uma discussão completa e estruturada sobre a melhoria da gestão dos atrativos turísticos do país, garantindo um turismo mais seguro, acessível e bem planejado a todos.
Grazielle Ueno - professora e coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Turismo do Centro Universitário Internacional Uninter. Doutora em Tecnologia e Sociedade, mestre em Turismo e especialista em Educação e em Meio Ambiente.
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