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Especialistas do mercado financeiro comentam sobre expectativas em relação à decisão da taxa de juros e o que fazer e onde investir com a alta da Selic
Na
expectativa pela próxima decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) nesta
quarta-feira (19), o mercado financeiro já dá como certa a elevação da taxa
Selic em 1 ponto percentual, passando dos atuais 13,25% para 14,25% ao ano. O
movimento ocorre em meio a um cenário de inflação persistente e atividade
econômica aquecida, reforçando uma política monetária mais contracionista.
Para
Alison Correia, analista de investimentos e sócio-fundador da Dom
Investimentos, o mercado já precificou a alta da Selic, mas a grande
expectativa está no comunicado que será divulgado pelo Banco Central. "Temos
uma semana com decisões bem importantes quanto aos juros tanto no Brasil como
no cenário externo. Por aqui, os investidores estão atentos não somente em
relação à decisão de alta da Selic em 1%, que já é amplamente esperada e deve
causar zero surpresa, mas sim, principalmente, em relação ao comunicado que
será divulgado na sequência para se entender melhor os possíveis passos da
política monetária nos próximos meses".
Correia
observa que a inflação está menos pior, pelo menos devido aos últimos dados que
saíram: “Mas ainda isso é muito precoce para qualquer tipo de alteração na
decisão dessa próxima quarta. Então por enquanto a gente continua com a mesma
expectativa de alta para a taxa de juros aqui e que a ponta final seja em
dezembro na casa dos 15%. Então, por enquanto, está longe de cogitação a gente
poder ter cortes neste ano".
Josias
Bento, especialista em investimentos e sócio da GT Capital, ressalta que a
dúvida principal vai ficar para qual será o guidance das próximas reuniões: “Isso
é o que o mercado de fato vai ficar de olho. Pensando em investimentos, os
títulos atrelados à Selic com prazos mais curtos são uma excelente opção
justamente com o objetivo de acompanhar o rendimento da taxa mais alta. Outra
opção é começar a se expor a prefixados para médio prazo, desde que o
investidor leve até o vencimento, pois devemos ter mais altas de juros ao longo
do ano e, com isso, é preciso tomar cuidados com a marcação a mercado".
Ele também projeta novas elevações para o restante do ano: "Acredito
que podemos esperar mais dois aumentos, um de 0,75 p.p. e um de 0,25 p.p. para
encerrar o ciclo de alta e fecharmos o ano nos 15% de Selic".
Onde
investir na Renda Fixa?
Ana
Paula Carvalho, planejadora financeira e sócia da AVG Capital, destaca que a
alta de 1 ponto percentual confirma um movimento indicado pelo próprio Copom em
comunicado anterior em que já indicou duas altas do mesmo patamar. Em relação
aos investimentos, ela avalia que ativos ligados ao IPCA ainda são
interessantes, especialmente para prazos mais longos. “A proteção contra a
inflação continua sendo atrativa, principalmente quando as taxas oferecidas nos
títulos do governo estão em níveis acima de 7% ao ano. Isso proporciona ao
investidor não só a proteção da variação da inflação, mas também um retorno
real consistente ao longo do tempo", diz.
Ela
alerta também que os ativos prefixados, nesse momento, são uma escolha mais
arriscada. “A expectativa de elevação da Selic e o cenário de inflação ainda
elevado tornam esses ativos mais vulneráveis. Minha recomendação seria limitar
a exposição a 2,5% para clientes com perfil arrojado e evitar para perfis
conservadores, dada a volatilidade que esse tipo de ativo pode
apresentar", comenta.
Jeff
Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, acredita que a
decisão do Copom reflete a necessidade de conter a inflação. Ele ainda avalia
que investimentos de renda fixa tendem a se tornar mais atrativos,
especialmente aqueles atrelados à taxa Selic ou ao CDI, como o Tesouro Selic,
CDBs e LCIs e LCAs. “Acredito que essas opções são as mais interessantes
porque proporcionam retornos mais elevados em períodos de juros altos, além de
oferecerem segurança e, em alguns casos, benefícios fiscais como no caso das
LCIs e LCAs".
Patzlaff
alerta ainda para os riscos de longo prazo: "Aconselho cautela com
investimentos de renda fixa prefixados de longo prazo, bem como títulos
públicos de prazos mais longos, como o Tesouro IPCA+ com vencimentos distantes,
porque se os juros continuarem a subir, esses investimentos podem sofrer
desvalorização de mercado, impactando negativamente o retorno do investidor,
devido à marcação a mercado".
Para o
curto prazo, Andressa Bergamo, especialista em mercado de capitais e
sócia-fundadora da AVG Capital, acredita que o ideal são os CDBs pós fixados,
além do Tesouro Selic, que acompanha o CDI e até mesmo os fundos de renda fixa
com composição de ativos pós fixados. “Esses produtos são mais vantajosos
para curto prazo porque evitam perdas com marcação a mercado e garantem um
retorno previsível, acompanhando os juros da economia. Já entre os títulos
atrelados ao IPCA, o ideal é algum título com prazo mais longo, pois esses
ativos são mais vantajosos quando mantidos até o vencimento ou em cenários de
alta inflação”, diz.
Para
Bergamo, um detalhe muito importante é reforçar que o perfil do investidor e o
momento do mercado são fundamentais na escolha do investimento. “Se a
intenção é preservar o capital e garantir liquidez no curto prazo, produtos
pós-fixados, como CDBs e Tesouro Selic, são mais indicados. Já os títulos
atrelados à inflação são ótimos para o longo prazo, quando há tempo para diluir
oscilações e capturar um rendimento mais previsível”, explica.
Lucas
Buffon, sócio da GT Capital, acredita que o Tesouro IPCA+ 2026, o Tesouro IPCA+
2027 e o Tesouro IPCA+ 2029 são boas opções de investimentos, pois oferecem uma
rentabilidade acordada com a inflação, protegendo o investidor de um modo
eficaz a este cenário: “O prazo do investimento é um ponto muito relevante
para se analisar, pois esses títulos tendem a ser mais vantajosos no longo
prazo, como, por exemplo, o tesouro IPCA que tende a ter um maior beneficio,
pois o efeito de correção da inflação é digerido ao longo do tempo. A liquidez
também deve ser observada. Embora esses títulos tenham boa liquidez, o preço de
mercado pode ser muito volátil na precificação a mercado no curto prazo. E,
obviamente, é essencial alinhar seu perfil de risco com seus objetivos
financeiros para garantir que o tipo de investimento esteja de acordo com a
estratégia”.
Bolsa
e investimentos fora do país
Já em relação à bolsa, para Rodrigo Cohen, analista de investimentos, nesse cenário de alta de juros, as ações de bancos são as que mais costumam se beneficiar da alta de juros porque as instituições financeiras ganham com o aumento do spread bancário, que é a diferença entre as taxas que pagam para captar dinheiro e as que cobram nos empréstimos. “Quando a Selic sobe, os bancos ajustam as taxas de crédito para cima, aumentando sua receita com juros. Além disso, produtos financeiros como CDBs e fundos de renda fixa se tornam mais atrativos, elevando a captação de recursos pelas instituições”, afirma.
Pensando ainda em cenário internacional, Mariana Conegero, especialista em investimentos e sócia da The Hill Capital, acredita que, se o investidor tivesse que escolher apenas uma estratégia para proteção patrimonial no exterior, essa seria renda fixa global, especialmente Treasuries americanos de curto e médio prazo.
“Os títulos do governo dos EUA são considerados os ativos mais seguros do mundo e eles são fáceis de resgatar em qualquer momento sem grandes perdas. Em momentos de crises e incertezas, possuir uma moeda forte é de extrema importância e com os juros ainda elevados nos EUA, os Treasuries oferecem retornos razoáveis com risco baixo”, comenta.
A escolha dessa estratégia, segundo Conegero, visa segurança, uma vez que a maior parte do capital está em ativos soberanos dos EUA. “Para investidores que estão conhecendo agora o mercado internacional, acredito que ter uma certa liquidez também é muito importante, uma vez que podemos ter a possibilidade de mudanças relativamente rápidas em qualquer desconforto. E, por isso, a escolha dos Treasuries que podem ser resgatados facilmente em qualquer momento. Com essa escolha, acredito que temos a proteção cambial com a exposição ao dólar como hedge para o patrimônio”.
É uma estratégia que tem, segundo a especialista, uma rentabilidade estável, pois mesmo que os juros caiam, os títulos médios e longos podem se valorizar: “Essa estrutura é eficiente para quem busca proteção patrimonial sem volatilidade, mas ainda quer um rendimento moderado e, pensando hoje na realidade de juros altos aqui no Brasil, ainda considero uma estratégia super válida para investidores que querem proteção patrimonial de longo prazo e redução de risco Brasil”.
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