Ao longo da minha trajetória, trabalhando com
lideranças e transformação organizacional, testemunhei algo que as planilhas de
desempenho não conseguem medir com exatidão: o poder das conexões humanas no
ambiente corporativo. Redes de apoio, que vão muito além dos grupos formais de
trabalho, são fundamentais para criar ambientes colaborativos, fortalecer as
equipes e proporcionar bem-estar. Não se trata apenas de promover uma boa
convivência, mas de construir uma base sólida para o sucesso coletivo.
Afinal, ninguém cresce sozinho. Isso vale tanto
para as empresas quanto para os indivíduos.
E o que são redes de apoio e
por que são essenciais?
São grupos de pessoas que se ajudam,
compartilham experiências e oferecem suporte emocional e profissional. Elas
surgem de forma espontânea ou estruturada, e podem incluir colegas, mentores ou
até mesmo líderes. Quando essas conexões existem, o ambiente de trabalho se
torna um lugar onde os colaboradores se sentem à vontade para compartilhar
ideias, pedir ajuda e superar desafios sem o medo de julgamentos.
Já participei de organizações onde o simples fato
de os colaboradores se sentirem acolhidos fez toda a diferença nos resultados.
Isso não é coincidência. Um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) revelou que
empresas com redes de apoio bem estruturadas apresentam até 25% menos
rotatividade e um aumento significativo no engajamento dos colaboradores.
Por que isso acontece? Porque, quando as pessoas se
sentem apoiadas, elas se arriscam mais, inovam mais e, acima de tudo, constroem
relações de confiança.
Redes de apoio não são luxo,
mas uma necessidade
Há quem veja o apoio no ambiente corporativo como
algo secundário, algo a ser promovido apenas quando sobra tempo. Eu discordo.
Em um cenário cada vez mais dinâmico, onde mudanças constantes podem gerar
ansiedade e incerteza, as redes de apoio são uma forma de garantir a
resiliência da equipe e assim da própria organização.
Lembro de um projeto de reestruturação que
acompanhei, em uma empresa do setor de tecnologia. Havia tensão no ar: mudanças
de cargo, novas lideranças, incerteza sobre o futuro. Em meio a esse cenário, a
criação de grupos de apoio internos foi crucial. Funcionários mais experientes
ajudavam os mais novos a se adaptar às mudanças, enquanto líderes se mostravam
acessíveis para escutar e orientar. Como resultado, o projeto foi implementado
com menos resistência do que o esperado, e a produtividade não caiu, como
costuma acontecer em momentos de transformação.
Isso reforça algo que sempre digo: redes de apoio
não são um luxo. Elas são uma estratégia de sobrevivência em tempos
desafiadores.
O papel dos líderes na
construção dessas redes
Embora muitas redes de apoio surjam de maneira
espontânea, o papel dos líderes é fundamental para fortalecê-las. Isso começa
com a criação de um ambiente seguro, onde as pessoas sintam que podem ser
autênticas e vulneráveis sem medo de represálias.
Como líder, você não precisa ter todas as
respostas, mas precisa saber escutar e oferecer o suporte necessário. Quando um
colaborador percebe que seu líder está disposto a apoiá-lo, essa confiança se
espalha para o restante da equipe. E, a partir daí, as redes de apoio se
expandem naturalmente.
Uma prática que gosto de sugerir é a implementação
de programas formais de mentoria e grupos de afinidade. Esses espaços são
oportunidades não apenas para o desenvolvimento profissional, mas também para a
troca de experiências pessoais, fortalecendo os vínculos entre os
colaboradores.
Redes de apoio impulsionam
inovação e retenção de talentos
Empresas que valorizam a criação de redes de apoio
são mais inovadoras e conseguem reter seus talentos com maior facilidade. Isso
porque colaboradores que se sentem apoiados tendem a ser mais proativos,
criativos e dispostos a assumir riscos. Eles sabem que, mesmo se falharem,
terão o suporte da equipe para se levantar.
Já vi isso acontecer em uma empresa de varejo, onde
um time de inovação foi incentivado a desenvolver projetos experimentais sem o
peso do “erro imperdoável” nas costas. A segurança de contar com uma rede de
apoio interna fez com que ideias inovadoras fossem testadas rapidamente.
Algumas falharam, mas outras geraram produtos que impulsionaram as vendas e
fortaleceram a marca no mercado.
Esse ambiente de segurança psicológica, essencial
para a inovação, não acontece sem redes de apoio bem estabelecidas.
Criar um ambiente mais humano
e acolhedor não é opcional
Acredito firmemente que um ambiente corporativo
acolhedor não é apenas um benefício para o colaborador — é uma vantagem
estratégica para a empresa. Funcionários felizes e motivados produzem mais e
permanecem por mais tempo nas organizações.
Para isso, as empresas precisam ir além do
discurso. Não basta dizer que o bem-estar é importante; é necessário
demonstrar, na prática, por meio de políticas, programas e
principalmente, da atitude diária dos líderes. A escuta ativa, o reconhecimento
das contribuições individuais e a criação de espaços de diálogo são passos
fundamentais nesse processo.
Como começar a construir redes
de apoio
Se você quer promover redes de apoio no ambiente
corporativo, algumas ações podem ser implementadas imediatamente:
- Crie espaços de conversa abertos e seguros: Promova reuniões periódicas
onde os colaboradores possam compartilhar preocupações, ideias e
conquistas sem medo de julgamentos.
- Incentive programas de mentoria: Colaboradores mais
experientes ou com determinadas competências desenvolvidas podem oferecer
suporte aos menos experientes ou ainda quem precisa desenvolver algo
específico, promovendo a troca de conhecimentos e o desenvolvimento mútuo.
- Estabeleça grupos de afinidade e redes de
suporte:
Crie grupos baseados em interesses comuns, como diversidade, bem-estar e inovação,
onde as pessoas possam se conectar e apoiar umas às outras.
- Lidere pelo exemplo: Líderes empáticos que
demonstram apoio diário inspiram o restante da equipe a fazer o mesmo.
No final do dia, o sucesso de uma empresa não
depende apenas de suas estratégias e processos, mas - e principalmente - das
conexões que seus colaboradores constroem entre si. Redes de apoio não são
apenas “boas de se ter” — elas são o coração de um ambiente corporativo
saudável, produtivo e inovador.
Se queremos empresas mais fortes, precisamos começar fortalecendo as pessoas dentro delas. Porque, no fim, são elas que fazem a diferença. E, quando cada indivíduo sente que faz parte de algo maior, os resultados falam por si.
Beatriz Nóbrega - multi-empreendedora focada no desenvolvimento humano e transformação organizacional, com mais de 25 anos de experiência. Atua como Conselheira Consultiva, CHRO não exclusiva, mentora de líderes, palestrante, escritora, professora e investidora-anjo. É reconhecida com prêmios como TOP Influenciadora de RH (RH Summit), TOP HR Influencer (Go Integro) e Líder Legacy (Think Work), além de ser uma voz ativa em comunidades de liderança como Women Corporate Directors (WCD) e Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Ao longo de sua carreira, liderou projetos que conciliam alta performance e inovação organizacional, utilizando metodologias ágeis para promover mudanças sustentáveis. Bia também integra o Comitê Executivo do IVG (Instituto Vasselo Goldoni), onde contribui para fortalecer lideranças femininas por meio de mentoria e networking. Coautora de livros sobre Futuro do Trabalho, Experiência do Colaborador e Mentoria, já impactou mais de 20 mil pessoas em palestras e eventos e acumula mais de 3 mil horas de mentoria e coaching, consolidando sua influência no universo de Pessoas e Cultura.
https://www.linkedin.com/in/beatrizcaranobrega
www.bianobrega.com.br.
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