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terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Programas de diversidade e inclusão irão terminar?


A decisão recente nos Estados Unidos de eliminar ou restringir programas de diversidade e inclusão (D&I) tem gerado discussões profundas sobre seus impactos nas empresas e na sociedade.

Essas iniciativas que visavam aumentar a representatividade de grupos sub-representados, promover a equidade e criar ambientes mais inclusivos, sempre foram consideradas pilares para a promoção de justiça social e avanço econômico. Com sua revogação ou enfraquecimento, diversas consequências vão começar a ser observadas, afetando não apenas a dinâmica empresarial, mas também a sociedade.

Nos últimos anos, programas de D&I tornaram-se elementos centrais em muitas organizações, uma vez que equipes diversas geram mais inovação, melhor desempenho. Além disso, iniciativas de inclusão promovem ambientes de trabalho mais acolhedores, melhorando a satisfação e retenção de talentos. Esses esforços ajudam empresas a atrair profissionais de diversas origens e experiências, refletindo a diversidade dos mercados que atuam. Com o enfraquecimento dessas políticas, a exclusão de talentos qualificados pode gerar lacunas significativas, tanto no capital humano quanto na capacidade de inovação.

As empresas americanas com atuação global, incluindo no Brasil, tendem a alinhar suas estratégias locais às diretrizes de suas matrizes. Como algumas organizações estão eliminando os programas de D&I existe alta probabilidade que suas filiais no Brasil também sejam pressionadas a descontinuar ou reduzir iniciativas semelhantes. Isso pode significar cortes em programas voltados a contratação das minorias, treinamentos de conscientização sobre vieses inconscientes e ações afirmativas para promover a equidade de gênero e raça.

Consequentemente, podemos vir a observar um “efeito cascata” no Brasil, onde empresas brasileiras e, principalmente aquelas que buscam competir globalmente, sintam-se menos pressionadas a adotar ou manter políticas de diversidade e inclusão. Isso significa um retrocesso significativo que pode abranger empresas de diversos setores e mercados de atuação. Ademais, empresas brasileiras que dependem de parcerias com companhias americanas podem enfrentar desafios para justificar manter um programa de D&I caso essas práticas deixem de ser prioridade para seus parceiros internacionais.

Outra razão para a descrença em programas de D&I é que muitos dos benefícios dessas iniciativas não são imediatos ou tangíveis. Executivos, especialmente aqueles focados em resultados financeiros de curto prazo, podem ter dificuldade em perceber como os esforços relacionados a inclusão afetam o desempenho da empresa. Esses executivos ainda associam o sucesso corporativo a fatores mais tradicionais, como vendas, inovação de produto e controle de custos.

Temos que levar em conta ainda que muitas empresas enxergam os programas de D&I não como um investimento, mas como um custo adicional para a empresa. Por esta lógica existe a percepção de que cortar ou eliminar esses programas vai gerar “economia em gastos desnecessários” para a empresa. Departamentos ou áreas de D&I poderão ser desmanteladas, colaboradores demitidos e uma série de controles internos (“burocracia”) serão eliminados. O pensamento que fica é que a empresa poderá vir a focar no que é realmente importante: produção e vendas.

Ademais, muitos executivos de empresas acreditam que as promoções e contratações deveriam se basear somente na meritocracia (desempenho e competências individuais). Dessa forma, os programas de D&I são vistos como interferências injustas que favorecem determinados grupos em detrimento de outros.

Outro importante ponto a ser comentado é a questão da cultura corporativa enraizada. Empresas com culturas corporativas tradicionais ou lideradas por perfis homogêneos podem resistir a mudanças que desafiem o status quo. Programas de D&I frequentemente questionam práticas e valores estabelecidos, o que pode gerar desconforto entre líderes e colaboradores. Essa resistência cultura é ainda mais forte em indústrias dominadas por homens brancos, como finanças, tecnologia e construção, onde a inclusão pode ser vista como uma ameaça a práticas existentes.

Apesar do acima exposto, essa decisão pode gerar reações negativas por parte dos consumidores e da sociedade, impactando diretamente a reputação, a fidelidade dos clientes e o desempenho financeiro da empresa.

Em um cenário global altamente competitivo, a eliminação ou enfraquecimento dessas políticas, as empresas podem correr o risco de perder contratos e parcerias. Muitos investidores e consumidores, principalmente as gerações mais jovens valorizam profundamente as empresas e marcas que promovem inclusão, equidade e responsabilidade social.

Portanto, caso seja eliminado esse programa, isto poderá ser gerar uma percepção negativa de que a empresa está desconectada das demandas sociais contemporâneas. Ao negligenciarem esses valores, essas empresas podem vir a enfrentar boicotes e abalo reputacional.

As pressões nas redes sociais e boicotes por parte dos consumidores pode levar a protestos públicos campanhas negativas nas redes sociais vinculando as empresas e seus produtos que não têm mais esses programas.  Tais críticas podem afetar as empresas em larga escalar, afetando diretamente a reputação das empresas.

As empresas devem pensar muito antes de tomarem uma decisão por eliminar ou negligenciar esses programas, pois dependendo da decisão poderá vir a sofrer efeitos negativos tais como rejeição social, boicotes e perda de relevância no mercado.

  

Patricia Punder - advogada e compliance officer com experiência internacional. Professora de Compliance no pós-MBA da USFSCAR e LEC – Legal Ethics and Compliance (SP). Uma das autoras do “Manual de Compliance”, lançado pela LEC em 2019 e Compliance – além do Manual 2020. Com sólida experiência no Brasil e na América Latina, Patricia tem expertise na implementação de Programas de Governança e Compliance, LGPD, ESG, treinamentos; análise estratégica de avaliação e gestão de riscos, gestão na condução de crises de reputação corporativa e investigações envolvendo o DOJ (Department of Justice), SEC (Securities and Exchange Comission), AGU, CADE e TCU (Brasil). www.punder.adv.br


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