A decisão recente nos Estados Unidos de eliminar ou restringir programas de diversidade e inclusão (D&I) tem gerado discussões profundas sobre seus impactos nas empresas e na sociedade.
Essas
iniciativas que visavam aumentar a representatividade de grupos
sub-representados, promover a equidade e criar ambientes mais inclusivos,
sempre foram consideradas pilares para a promoção de justiça social e avanço
econômico. Com sua revogação ou enfraquecimento, diversas consequências vão
começar a ser observadas, afetando não apenas a dinâmica empresarial, mas
também a sociedade.
Nos
últimos anos, programas de D&I tornaram-se elementos centrais em muitas
organizações, uma vez que equipes diversas geram mais inovação, melhor
desempenho. Além disso, iniciativas de inclusão promovem ambientes de trabalho
mais acolhedores, melhorando a satisfação e retenção de talentos. Esses
esforços ajudam empresas a atrair profissionais de diversas origens e
experiências, refletindo a diversidade dos mercados que atuam. Com o
enfraquecimento dessas políticas, a exclusão de talentos qualificados pode gerar
lacunas significativas, tanto no capital humano quanto na capacidade de
inovação.
As
empresas americanas com atuação global, incluindo no Brasil, tendem a alinhar
suas estratégias locais às diretrizes de suas matrizes. Como algumas
organizações estão eliminando os programas de D&I existe alta probabilidade
que suas filiais no Brasil também sejam pressionadas a descontinuar ou reduzir
iniciativas semelhantes. Isso pode significar cortes em programas voltados a
contratação das minorias, treinamentos de conscientização sobre vieses
inconscientes e ações afirmativas para promover a equidade de gênero e raça.
Consequentemente,
podemos vir a observar um “efeito cascata” no Brasil, onde empresas brasileiras
e, principalmente aquelas que buscam competir globalmente, sintam-se menos
pressionadas a adotar ou manter políticas de diversidade e inclusão. Isso significa
um retrocesso significativo que pode abranger empresas de diversos setores e
mercados de atuação. Ademais, empresas brasileiras que dependem de parcerias
com companhias americanas podem enfrentar desafios para justificar manter um
programa de D&I caso essas práticas deixem de ser prioridade para seus
parceiros internacionais.
Outra
razão para a descrença em programas de D&I é que muitos dos benefícios dessas
iniciativas não são imediatos ou tangíveis. Executivos, especialmente aqueles
focados em resultados financeiros de curto prazo, podem ter dificuldade em
perceber como os esforços relacionados a inclusão afetam o desempenho da
empresa. Esses executivos ainda associam o sucesso corporativo a fatores mais
tradicionais, como vendas, inovação de produto e controle de custos.
Temos
que levar em conta ainda que muitas empresas enxergam os programas de D&I
não como um investimento, mas como um custo adicional para a empresa. Por esta
lógica existe a percepção de que cortar ou eliminar esses programas vai gerar
“economia em gastos desnecessários” para a empresa. Departamentos ou áreas de
D&I poderão ser desmanteladas, colaboradores demitidos e uma série de controles
internos (“burocracia”) serão eliminados. O pensamento que fica é que a empresa
poderá vir a focar no que é realmente importante: produção e vendas.
Ademais,
muitos executivos de empresas acreditam que as promoções e contratações
deveriam se basear somente na meritocracia (desempenho e competências
individuais). Dessa forma, os programas de D&I são vistos como
interferências injustas que favorecem determinados grupos em detrimento de
outros.
Outro
importante ponto a ser comentado é a questão da cultura corporativa enraizada.
Empresas com culturas corporativas tradicionais ou lideradas por perfis homogêneos
podem resistir a mudanças que desafiem o status quo. Programas de D&I
frequentemente questionam práticas e valores estabelecidos, o que pode gerar desconforto
entre líderes e colaboradores. Essa resistência cultura é ainda mais forte em
indústrias dominadas por homens brancos, como finanças, tecnologia e
construção, onde a inclusão pode ser vista como uma ameaça a práticas
existentes.
Apesar
do acima exposto, essa decisão pode gerar reações negativas por parte dos
consumidores e da sociedade, impactando diretamente a reputação, a fidelidade
dos clientes e o desempenho financeiro da empresa.
Em
um cenário global altamente competitivo, a eliminação ou enfraquecimento dessas
políticas, as empresas podem correr o risco de perder contratos e parcerias.
Muitos investidores e consumidores, principalmente as gerações mais jovens
valorizam profundamente as empresas e marcas que promovem inclusão, equidade e
responsabilidade social.
Portanto,
caso seja eliminado esse programa, isto poderá ser gerar uma percepção negativa
de que a empresa está desconectada das demandas sociais contemporâneas. Ao
negligenciarem esses valores, essas empresas podem vir a enfrentar boicotes e
abalo reputacional.
As
pressões nas redes sociais e boicotes por parte dos consumidores pode levar a
protestos públicos campanhas negativas nas redes sociais vinculando as empresas
e seus produtos que não têm mais esses programas. Tais críticas podem
afetar as empresas em larga escalar, afetando diretamente a reputação das
empresas.
As empresas devem pensar muito antes de tomarem uma decisão por eliminar ou negligenciar esses programas, pois dependendo da decisão poderá vir a sofrer efeitos negativos tais como rejeição social, boicotes e perda de relevância no mercado.
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