Pesquisa explica a piora do ceratocone de 75% dos portadores e o crescimento do transplante de córnea no Brasil. Entenda.
No mundo todo o transplante de córnea está em queda, mas no Brasil a fila única da cirurgia quase triplicou nos últimos 10 anos. Segundo recente levantamento do CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) saltou de 10.734 em 2014 para 28.937 em junho do ano. O que explica este aumento num País em que a Oftalmologia está entre as melhores do mundo?
De acordo com o
oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, diretor executivo do Instituto Penido
Burnier de Campinas, um levantamento realizado nos prontuários de 920
portadores de ceratocone atendidos pelo hospital, revela que 690 deles ou 75%
não realizam os exames no período prescrito pelos oftalmologistas.
O que é o ceratocone e como a lente
pode piorar a doença
O oftalmologista afirma que o ceratocone é uma condição degenerativa que enfraquece as fibras de colágeno da córnea, lente externa e transparente do olho, responsável por 60% de nossa refração. A doença afina e curva a córnea que normalmente é esférica e passa a ter o formato de um cone. Altamente incapacitante, os sintomas do ceratocone são: troca frequente dos óculos, dificuldade de enxergar à noite, miopia associada ao astigmatismo, fotofobia, visão dupla e turva.
“A falta de acompanhamento oftalmológico do ceratocone é um erro porque o prognóstico de todas as condições de saúde é melhor quanto antes são tratadas”, pontua.
Queiroz Neto afirma que no início, a correção da refração pode ser feita com uso óculos associado à instilação de colírio hidratante para melhorar a lubrificação das pálpebras, córnea, conjuntiva, esclera e cílios e evitar danos na porção externa dos olhos.
A maioria das pessoas, ressalta, descobrem a condição em estágio intermediário. Uma evidência disso é que dos 920 prontuários avaliados no hospital, 61% ou 561 pacientes já usavam lente de contato rígida que aplana a córnea e melhora a correção refrativa.
O especialista
explica que o maior risco da falta de
acompanhamento oftalmológico é o aumento da curvatura da córnea em um curto
espaço de tempo. Isso porque, prejudica a adaptação da lente de
contato que entra em atrito com a córnea e provoca evolução mais rápida do
ceratocone. É, portanto, tão perigoso quanto o
hábito de coçar os olhos, já que as duas situações fragilizam as fibras
de colágeno e aumentam o risco de transplante.
Outros fatores de risco
O oftalmologista
salienta que há indícios de que a condição pode estar associada à genética,
atopia, fatores ambientais como o excesso de poluição, poeira ou contato com
pelo de animais, alterações hormonais que interferem na síntese do colágeno,
excesso de limpeza e exposição precoce aos antibióticos. A atopia, explica,
pode causar reação alérgica nos olhos, eczema na pele, rinite no nariz e asma
nos pulmões. Por isso, toda pessoa que apresenta uma ou mais dessas alterações
deve fazer um checkup da córnea.
Diagnóstico e tratamento
O oftalmologista ressalta que o exame oftalmológico de rotina não é suficiente para diagnosticar o ceratocone. “O diagnóstico é feito através da tomografia que faz o mapeamento 3D da córnea e possibilita flagrar a doença logo no início.
“Quanto mais precoce é o diagnóstico, maiores são as chances de escapar do transplante de córnea. No início o tratamento combina o uso de óculos para corrigir a refração e colírio hidratante que melhoram a lubrificação das pálpebras, córnea, conjuntiva, esclera e cílios visando evitar danos porção externa dos olhos.
O crosslink é
único procedimento que interrompe a progressão da doença. A cirurgia, explica,
é ambulatorial, feita com anestesia local e consiste na aplicação de
riboflavina (vitamina B2) associada à radiação UV (ultravioleta) na superfície
da córnea para aumentar sua resistência em até três vezes.
Causas e sinais de alerta
Queiroz Neto
afirma que a maioria dos casos de ceratocone começa na adolescência. Além dos
casos na família, são sinais de alerta as alterações hormonais que podem ser a causa
do distúrbio no colágeno, apneia obstrutiva do sono e a síndrome da
pálpebra flexível que dobra durante a noite, causando olho seco. Nem todas
estas alterações aparecem em quem tem ceratocone, mas se mais de uma coexistir
sinaliza risco de desenvolver a condição.
Outros sinais da
doença são: alteração frequente de grau, dificuldade de permanecer em locais
ensolarados ou muito iluminados, olhos irritados e queda no rendimento escolar.
Dicas de prevenção
O oftalmologista
finaliza com algumas dicas para prevenir a piora do ceratocone. São elas:
· Mantenha as consultas regularmente
para ajustar suas lentes
· Evite coçar os olhos.
· Aplique compressas frias em crises de
coceira ou sensação de areia nos olhos.
· Dê preferência às soluções
higienizadoras de lente sem conservante para evitar irritações oculares.
· Só use colírio com corticoide sob
supervisão médica para afastar o risco de glaucoma.
· Interrompa o uso de antialérgico caso
use lente e sinta os olhos ressecados.
· Faça polimento semestral das lentes
com seu oftalmologista para eliminar resíduos que deformam a superfície.
· Use óculos escuros com proteção
ultravioleta em locais ensolarados.
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