Os Estados Unidos estão enfrentando uma enorme
crise relacionada ao abuso de opioides, com o número de overdoses atingindo
níveis alarmantes. Essa situação, agravada pela pandemia de COVID-19, levanta
preocupações sobre a possibilidade de um fenômeno semelhante ocorrer no
Brasil.
Dados levantados pelo Departamento de Saúde e
Serviços Humanos dos Estados Unidos apontam que quase 110 mil overdoses fatais
foram confirmadas em 2022. Entre essas mortes, aproximadamente 80 mil envolveram
os opióides.
História farmacêutica
americana
Ao longo da história farmacêutica dos Estados
Unidos, a analgesia foi frequentemente associada ao uso de opióides como
codeína, tramadol, hidrocodona e hidromorfona. “A falta de dipirona, amplamente
utilizada em outros países, fez com que a prescrição de opióides se tornasse
comum nos EUA, contribuindo para essa dependência”, revela Thiago de Melo,
farmacêutico e pesquisador na área de Ciências Farmacêuticas, professor de
pós-graduação nos cursos de Ciências Farmacêuticas e Farmacologia e no curso de
graduação de Medicina pela Universidade Vila Velha (UVV).
Os opióides são compostos químicos psicoativos,
capazes de produzir efeitos farmacológicos semelhantes aos do ópio ou das
substâncias nele contidas. Mesmo com medicamentos como paracetamol e ibuprofeno
sendo preferidos em muitas partes do mundo, a prescrição de opióides é recorrente
nos Estados Unidos.
Durante a pandemia de COVID-19, o país contou com
um aumento alarmante nos casos de overdoses relacionadas a opióides. “As
medidas de isolamento social, a ansiedade generalizada e as dificuldades
econômicas criaram um ambiente propício para o aumento do consumo de
substâncias psicoativas. Até hoje, em 2024, os números de overdoses não
retornaram aos padrões anteriores”, lamenta.
Além disso, o farmacêutico acredita que o tráfico
de heroína e outros produtos sintéticos contribuem significativamente para a
crise dos opióides nos EUA. “A acessibilidade dessas substâncias no mercado
ilegal amplifica os problemas de dependência, levando a consequências
devastadoras para a saúde pública”, relata.
Diferenças no contexto
brasileiro
No Brasil, a prescrição de opioides é mais restrita
e controlada, o que dificulta a replicação do cenário americano. “Os
profissionais de saúde brasileiros tendem a ser mais comedidos na prescrição
dessas substâncias, evitando a liberalidade que contribuiu para a crise nos
Estados Unidos”, pontua.
Thiago acredita que, apesar das preocupações levantadas pela crise dos opioides nos Estados Unidos, o contexto brasileiro apresenta diferenças significativas que podem impedir a replicação desse problema. “A restrição, a presença da dipirona e a conscientização dos profissionais de saúde são fatores que contribuem para a prevenção do crescimento descontrolado do abuso de opióides no Brasil. No entanto, é preciso manter a vigilância e adotar medidas preventivas para garantir que o país não siga o caminho observado nos EUA”, finaliza.
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