Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH) orienta sobre quadros clínicos de plaquetopenia, vasodilatação sanguínea e da necessidade de transfusão de sangue em casos mais severos.
Dados do Ministério da Saúde informam que o Brasil já registrou 920.427 casos prováveis de dengue. O país contabiliza ainda 184 mortes confirmadas da doença e 609 óbitos em investigação. O coeficiente de incidência de dengue no Brasil é de 453,3 casos para cada grupo de 100 mil habitantes.
Doença infecciosa causada pelo vírus Aedes aegypti, a dengue tem repercussão no sangue devido à vasodilatação, com potenciais riscos, como o desenvolvimento de plaquetopenia, cujas pintinhas vermelhas são características, podendo apresentar a necessidade de transfusão sanguínea em casos hemorrágicos, sua forma mais grave.
O médico hematologista Dr. Carmino de Souza, diretor científico da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), explica que nos pacientes diagnosticados com dengue acontece uma vasodilatação com extravasamento de plasma sanguíneo, a parte líquida do sangue, havendo risco de pressão baixa, de desidratação e até de morte.
“Além disso, um fenômeno que acompanha a vasodilatação é o extravasamento de plaquetas, células responsáveis pela coagulação, o que leva a uma plaquetopenia, que são o aparecimento de pintinhas vermelhas nos membros do corpo. No entanto, ela é reversível à medida que a dengue vai se controlando”, diz ele, que também é professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Em casos raros, complementa Souza, pode haver a necessidade de o paciente receber doação de sangue para elevar o nível de plaquetas: “Mas é pouco comum, embora quando o paciente tem dengue hemorrágica seja importante esse acompanhamento do médico clínico geral para avaliação por meio de exames como o hemograma”, conta. Nesses casos, um médico hematologista pode oferecer um suporte. Também é importante mencionar que o paciente com dengue não deve doar sangue por aproximadamente 30 dias após o diagnóstico.
Vacina - Em alguns municípios, o governo federal irá iniciar a imunização contra a dengue de pessoas de 10 a 14 anos, a partir deste mês. De acordo com a médica virologista Drª Ester Sabino, membro do Comitê de Doenças Infecciosas Transmitidas por Transfusão da ABHH, o Ministério da Saúde definiu essa estratégia porque ainda existem poucas doses de vacina, sendo escolhida a faixa etária considerada mais vulnerável e com mais internações.
Mas a vacina da dengue não é indicada para pacientes em tratamento onco-hematológico, como detalha a Drª Adriana Scheliga, médica hematologista e membro do Comitê do Comitê de Linfomas não-Hodgkin da ABHH. “Devido a vacina ser produzida por um vírus vivo atenuado, não indicamos aos pacientes em tratamento do câncer, assim como vacinas para caxumba, sarampo, rubéola, febre amarela, poliomielite, entre outras. Neste caso, é necessário a prevenção usando repelente e combatendo o mosquito com as medidas cabíveis em casa, por exemplo, não deixando água parada em vasos de planta”, orienta ela.
“Para pacientes com uma imunossupressão mais severa, por exemplo, em pessoas vivendo com HIV com o organismo mais debilitado, é importante uma avaliação do médico, que irá verificar a situação clínica e o contexto epidemiológico da região onde ele vive”, completa Souza.
Atenção à saúde - Para os especialistas, a experiência da pandemia da COVID-19 também serviu de alerta ao governo no gerenciamento do Sistema Único de Saúde (SUS) em epidemias como a de dengue. “A COVID-19 desorganizou os serviços de saúde inclusive a resposta à dengue. Essa desorganização associada ao aumento da temperatura fará com que este ano tenhamos uma das maiores epidemias de dengue”, pontua Sabino, também, professora da Universidade de São Paulo (USP).
Para Souza, a pandemia da COVID-19 evidenciou que com um serviço
de saúde organizado, seja ele público ou privado, a resposta à epidemia de
dengue deve ser mais efetiva. “Na grande maioria dos casos de dengue, com
exceção dos casos mais graves, o tratamento é feito na rede básica do SUS.
Portanto, quanto mais bem organizadas as equipes e a relação com os
laboratórios para diagnóstico, melhor. Com uma população bem informada, com o
diagnóstico precoce e a hidratação do paciente no tratamento, haverá uma boa
evolução dos casos”, conclui o médico.
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