Movimento em defesa do ar limpo lançará Manifesto à Nação no
próximo dia 4. Pleito é que o governo defina prazos para tornar o ar mais
“respirável”
Regra atual tem parâmetros permissivos e não fixa prazos para
implementar metas gradativas de adequação às mais recentes Diretrizes de
Qualidade do Ar da Organização Mundial de Saúde (OMS)
Debate decisivo ocorrerá em 4 e 5 de março em Brasília. Brasil
joga contra o relógio
Uma relevante causa ambiental e climática acaba de unir entidades médicas de credibilidade e sólida contribuição científica, como a Associação Médica Brasileira (AMB), Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular - Regional São Paulo (SBACV-SP), Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (Sindhosp), Federação dos Hospitais, Clínicas, Casas de Saúde, Laboratórios de Pesquisas e Análises Clínicas e Demais Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado de São Paulo (FEHOESP), Associação Paulista de Neurologia, (APAN), Instituto Olinto Marques de Paulo (IOMP), Projeto Árvore Generosa, entre outras. Os profissionais das mais diversas áreas da Medicina, da saúde e do meio ambiente saem a campo nesta segunda-feira, 4 de março, para alerta de vida ou morte: o Brasil têm parâmetros permissivos e não fixam prazos para implementar metas gradativas de adequação às mais recentes Diretrizes de Qualidade do Ar da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Segundo revisão de estudos sobre a qualidade do ar no
país coordenada pela World Resources Institude (WRI) e realizada por 14
pesquisadores brasileiros em 2021, aqui a poluição atmosférica mata mais de 50
mil pessoas por ano, eleva o número de internações hospitalares, onera o
sistema público de saúde e altera o regime de chuvas.
O cenário é alarmante, para dizer o mínimo, mas pode
começar a ser transformado após o encontro que acontecerá em Brasília nos dias
4 e 5 de março: Ministério Público, representantes do setor privado e do
governo, médicos e outros membros da sociedade civil serão recebidos pelo
Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) para discutir a revisão da Resolução
n° 491/2018, que versa sobre os nossos padrões de qualidade do ar.
Regras
para a atualização desses padrões – valores de referência para a concentração
de poluentes na atmosfera, que consideram as evidências científicas mais atuais
acerca dos impactos do ar tóxico na promoção de doenças - foram determinadas
pelo Conama. No entanto, além de ter fixado parâmetros extremamente
permissivos, o órgão pecou ao deixar de estabelecer prazos para implementar
metas gradativas de adequação às mais recentes Diretrizes de Qualidade do Ar da
Organização Mundial de Saúde (OMS).
A lacuna fez com que a Procuradoria Geral da República
(PGR), com apoio do Grupo de Trabalho de Qualidade do Ar do Ministério Público
Federal (MPF), judicializasse o caso, sustentando que a Resolução 491 não
garante de maneira satisfatória o direito fundamental à saúde e ao meio
ambiente.
O
Supremo Tribunal Federal (STF), embora tenha indeferido a ação, solicitou ao
Conama a revisão da resolução em até 24 meses, visando atender às diretrizes da
OMS, bem como garantir todos os mecanismos necessários para a proteção à saúde.
Portanto, caso uma nova edição da norma não seja aprovada dentro do prazo
previsto, o Brasil deverá instaurar automaticamente as medidas mais restritivas
sugeridas pela organização, impactando de maneira direta concessões de
licenciamento ambiental. Faltam apenas seis meses para encerrar o prazo, e o
relógio não para de tiquetaquear.
Morrer
pelo ar que se respira não é mais uma possibilidade remota. Dados da OMS
indicam que 40 dentre 45 avaliados municípios já ultrapassaram os limites
seguros de poluentes atmosféricos, colocando em risco milhões de vidas. Diante
do cenário, o Instituto Ar e o movimento Médicos Pelo Ar Limpo
(institutoar.org.br/medicospeloarlimpo) convidam a população e demais entidades
médicas e de saúde a se unirem e cobrarem medidas mais eficazes contra o
problema em todas as instâncias governamentais.
De acordo com dados do Instituto, em comparação com 12
outros países[1], o Brasil ocupa o 3º pior lugar no ranking de padrões
de qualidade do ar atuais para material particulado na atmosfera, ao lado da
Índia. Apenas China e Argentina apresentam legislações mais permissivas à
poluição. Apesar de a maioria das nações analisadas ainda apresentar padrões
nacionais elevados, em suas legislações vigentes já são definidos prazos para
aprimoramento gradual, a fim de alcançar as diretrizes da OMS.
Médica diretora do Instituto Ar e embaixadora da
iniciativa, a dra. Evangelina Araújo frisa que a resolução que trata dos
padrões de qualidade do ar ficou em discussão durante sete anos no Conama, e
ainda assim foi aprovada em 2018 sem a devida proteção à saúde. “Agora, em
2024, após 6 anos em vigor, não avançou em nenhuma meta, justamente porque não
há prazos. Essa é a prova de que a norma atual é ineficiente para a salvaguarda
da saúde”, protesta.
Iniciativa Médicos Pelo Ar Limpo
Primeira iniciativa brasileira formada por médicos e
associações médicas no combate à crise climática e poluição do ar, em prol da
saúde humana. Tem como objetivo a mobilização e o engajamento da classe na
conquista de um ar limpo, pela saúde de todos.
Instituto Ar
Think tank sem fins lucrativos que atua no enfrentamento
da mudança climática e da poluição do ar pela perspectiva da saúde humana, por
meio da produção de conhecimento e da mobilização da sociedade e das
instituições.
[1] Na América do Sul e Central: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Peru, Uruguai, Equador e México. Na América do Norte: Canadá, Estados Unidos. Bem como na União Europeia, China e Índia.
[CA1]Ela aderiu?
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