20% dos abortos espontâneos estão associados à gestação anembrionada
A gestação anembrionada (GA), também conhecida como “ovo cego”, ocorre quando um óvulo fertilizado se implanta no útero, mas não se desenvolve (ou para de se desenvolver), é reabsorvido pelo organismo da mãe e deixa o saco gestacional vazio. Ou seja, uma gravidez sem bebê.
“Muitas vezes, ocorre tão cedo que a
mulher nem chega a saber que estava grávida”, afirma Carlos Moraes,
ginecologista e obstetra pela Santa Casa/SP, membro da FEBRASGO e especialista
em Perinatologia pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert
Einstein.
O que ocorre na gestação anembrionada
Quando uma mulher engravida, o óvulo fertilizado se liga à parede uterina. Ao redor de cinco ou seis semanas de gravidez, um embrião deve estar presente. Nesse momento, o saco gestacional (onde o feto se desenvolve) tem cerca de 18 milímetros de largura. Na GA, o saco gestacional se forma e cresce, mas o embrião não se desenvolve.
No entanto, a gestante tem os mesmos sinais e sintomas de uma gravidez normal: teste de gravidez positivo, atraso na menstruação, náuseas, sonolência, vômitos, entre outros.
“Isso acontece porque há produção do
HGC (gonadotrofina coriônica), hormônio produzido pela placenta após a implantação.
A placenta pode crescer por um breve período de tempo, mesmo quando um embrião
não está presente”, frisa Carlos Moraes, que também é especialista em
Infertilidade e Ultrassom em Ginecologia e Obstetrícia pela FEBRASGO, e médico
nos hospitais Albert Einstein, São Luiz e Pro Matre.
O que causa a gestação anembrionada
Não há uma causa específica para a GA,
embora alguns fatores podem contribuir para a condição: alterações
cromossômicas do óvulo fertilizado, baixa qualidade do esperma ou do óvulo, divisão
celular anormal e causas genéticas. Em um determinado momento, o corpo
reconhece essa anormalidade e interrompe a gravidez.
Sintomas
Quando a produção de HCG é interrompida, a gestante pode apresentar sinais de abortamento:
- Cólicas abdominais moderadas a
intensas
- Sangramento vaginal de leve a
moderado
- Interrupção dos sintomas gestacionais (náuseas, tontura, sonolência)
Segundo o Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia, 20% dos abortos espontâneos estão associados à gestação anembrionada.
“Vale lembrar que nem todo sangramento
no primeiro trimestre termina em aborto. Portanto, não deixe de consultar o seu
médico imediatamente se tiver algum destes sinais”, alerta Carlos Moraes.
Diagnóstico e procedimentos
A gravidez anembrionada é diagnosticada logo nas primeiras semanas de gestação, no início do pré-natal, quando é solicitado o ultrassom transvaginal. Por meio deste exame, é possível identificar a falta do embrião e da vesícula vitelínica no interior do saco gestacional.
O ultrassom transvaginal é normalmente realizado a partir da 7ª semana de gestação. Em caso de suspeita da GA, o exame deve ser repetido após 7 ou 10 dias para confirmar o diagnóstico.
O procedimento deve sempre ser discutido entre paciente e médico. “Algumas mulheres optam por realizar a dilatação do colo uterino e posterior curetagem ou a aspiração a vácuo (remoção do conteúdo uterino), com eficácia próxima a 100%. A complicação mais frequente é a infecção, que pode estar presente em até 10% dos casos”, explica Carlos Moraes.
Segundo o ginecologista, há também a opção de uso do misoprostol. No entanto, o medicamento pode levar vários dias para o corpo expulsar todo o tecido gestacional, além de causar mais sangramento e efeitos colaterais, como dores abdominais intensas.
“Há ainda quem prefira optar pela
conduta expectante, quando o corpo expulsa o tecido por si só. Após o aborto, o
médico pode recomendar que você espere, pelo menos, de um a três ciclos
menstruais antes de tentar engravidar novamente, dependendo do procedimento
escolhido na GA. Por fim, é importante a mulher entender que não fez nada de
errado para causar esse aborto e, provavelmente, não poderia ter evitado”,
finaliza Carlos Moraes.
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