Estudo aponta a
necessidade de propostas que defendam a igualdade de gênero em espaços de poder
No Brasil é lamentável a diferença na proporção
entre mulheres e homens que ocupam lugares de destaque nos parlamentos. A
partir da alta taxa de homens no poder, a estudante de Direito do Centro
Universitário de Brasília (CEUB) Gabriela Colnago (21) realizou um estudo que
aponta as dificuldades de representação de gênero na política. Nomeada “Ouvindo
as Parlamentares para o Incremento da Representação de Gênero no Congresso
Nacional”, a publicação acadêmica identificou o porquê dessa sub-representação
e meios para superá-la, compreendendo e afirmando a violência política de
gênero.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), 51,1% da população brasileira em 2021 era de
mulheres. Com um país composto por mais mulheres, apenas 9.892 mulheres
pleitearam algum posto nas eleições deste ano — o que representa 34% das
candidaturas. Mesmo com um número recorde de candidaturas homologadas, o dado
ainda está distante da paridade.
Durante o processo imersivo de visitas ao Congresso
Nacional, a pesquisadora Gabriela Colnago buscou ouvir as vivências e
perspectivas das parlamentares sobre como é ser uma mulher na cúpula do Poder
Legislativo. “Concretizar uma democracia representativa exige a
representatividade de minorias, pois somente assim a política e governabilidade
pode ser exercida de forma plural e para todos”, destaca a autora do estudo.
A cota para as mulheres candidatas é vista como
necessária e a maioria afirmou pela sua efetividade e impacto positivo. A
mostra apontou que 100% das deputadas e senadoras entrevistadas presidiram
comissões ou grupos de trabalho sobre diversos temas, demonstrando o papel de
liderança. O saldo da pesquisa também mostra que 40% das entrevistadas nunca
elaboraram um PL sobre igualdade política de gênero. Dentre as proposições
reveladas no artigo, estão a reserva de cadeiras das casas legislativas, cotas
e financiamento de candidaturas femininas, além do voto do eleitor em mulheres
que apoiam as causas femininas.
Orientadora da pesquisa acadêmica, a professora de Direito do CEUB Mariana
Cirne destaca que as cotas dedicadas às candidatas são insuficientes. Segundo
ela, as propostas legislativas devem buscar reduzir a atual desigualdade de
gênero, para que futuramente não seja necessária uma política de cotas para
eleger mulheres. “Temos grandes desafios nessa pauta. Precisamos divulgar e
debater o quadro de desigualdade e os obstáculos das mulheres. A pesquisa
defende a importância do voto em candidatas progressistas e que trabalhem em
prol do direito das mulheres. Lugar de mulher é representando”, considera
Cirne.
Metodologia e aplicação da pesquisa
Gabriela Colnago aplicou como metodologia a revisão bibliográfica, pesquisa
documental e entrevistas com as parlamentares. O estudo mapeou, por meio dos
sites das casas legislativas, proposições de autoria ou de pautas de interesse
feminino dentro da política. Ao todo, 73 Projetos de Lei da Câmara dos
Deputados e Senado Federal contemplam os aspectos: autoria, votos favoráveis ou
contrários aos direitos emancipatórios e o gênero do proponente e status.
Do total de PLs selecionados, 52,05% possuem como
autora ou coautoras mulheres, mostrando como as mulheres são maioria, porém
31,50% destes não são favoráveis à pauta das mulheres na política. Dentro dos
31,50%, 73,91% são de autoria de homens. “O número ainda é baixo, o que
reafirma como há pouca preocupação com a inserção de mulheres na política e
como as parlamentares não estão engajadas com essa pauta. Ou seja, estes
projetos, de alguma forma, buscam retirar ou regredir em direitos do
ordenamento atual para as mulheres”, argumenta Gabriela.
Após a análise legislativa, a pesquisa migrou para a etapa de entrevista, com
um questionário direcionado às parlamentares do Congresso Nacional. Dividida
por eixos, a proposta buscou compreender os obstáculos que elas encontram na
vida política desde a sua campanha até o fim do mandato. Foram ouvidas cinco
representantes e todas afirmaram ter sofrido violência política de gênero.
“Concluímos que o nosso dever para mudar este
cenário é também observar e analisar as pautas das candidatas mulheres, o seu
comprometimento com o tema, sua campanha e suas ações já como parlamentar para
fazer a diferença e alcançar um equilíbrio, que por mais difícil que seja de se
alcançar, é possível”, arremata.
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