Já ouviu falar de herpes zóster? Mais popularmente conhecido como
“cobreiro”, o herpes zóster é uma doença que causa erupção cutânea dolorosa,
quase sempre com o aparecimento de bolhas. Ela surge pela reativação do vírus
varicela-zoster (que, por sua vez, é o causador da catapora), que em muitos
casos persiste, adormecido, no organismo após a pessoa desenvolver a doença
durante a infância ou a adolescência. Entre outros sintomas que podem surgir
nos casos leves, há febre, dor de cabeça e tremores.
Contudo, justamente por não ser tão conhecida e por não
exigir notificação junto aos agentes de saúde, pois não é contagiosa, a doença
tem poucos dados oficiais disponíveis, então é difícil estabelecer um cenário
preciso a seu respeito. Um estudo da Universidade Estadual de Montes Claros
(Unimontes), publicado em 2021, mostrou que o número de casos de herpes zóster
aumentou 35,4%, na média, de pouco mais de 30 casos/milhão de habitantes, antes
da pandemia de Covid-19, para quase 41 casos/milhão de pessoas em 2020.
A complicação que mais preocupa nos quadros agudos de
herpes zóster é a chamada neuralgia pós-herpética (NPH), que se caracteriza
pela ocorrência de dor neuropática. O quadro causa sensação de queimação,
agulhada, choque, formigamento ou adormecimento e pode comprometer bastante a
qualidade de vida do paciente. A condição normalmente surge cerca de um mês
depois do aparecimento das bolhas.
O risco de desenvolver o herpes zóster aumenta com a idade.
Assim, pessoas idosas têm mais chance de ter a doença em sua forma mais grave,
associada à NPH. Ao longo de toda a vida, cerca de 30% da população pode
desenvolver a doença. Porém, ela também pode ser desencadeada por estresse e
baixa imunidade, o que faz com que atinja muitas pessoas fora da principal
população de risco. O fator emocional, que interfere na imunidade, é um caminho
para explicar a reativação do vírus.
Além da possibilidade de a pessoa desenvolver a NPH, que
vira uma dor crônica, o herpes zóster pode atingir cérebro e pulmões de pessoas
incluídas na população mais vulneráveis, causando pneumonia, cegueira,
encefalite e podendo levar a óbito. Vale lembrar, também, que é comum que
pessoas idosas tomem diferentes remédios, o que facilita a interação
medicamentosa e torna o tratamento ainda mais complexo.
O diagnóstico é realizado por exames clínicos e pela
observação da evolução do quadro clínico-epidemiológico. O tratamento
geralmente é realizado por meio do uso de antivirais e analgésicos, que devem
ser prescritos por um médico de confiança.
Recentemente, foi disponibilizada no Brasil uma nova opção
de vacina inativada recombinante contra o herpes zóster. A vacina Shingrix atua
de maneira diferente da vacina até então disponível, a Zostavax – composta por
vírus vivo atenuado. A Shingrix tem uma vantagem importante, pois é segura
também para a população imunossuprimida em razão de doenças ou do uso de
medicamentos imunossupressores – os quais, inclusive, aumentam as chances de
desenvolvimento da doença. Indicada para adultos a partir de 50 anos de idade e
para pessoas com mais de 18 anos com risco aumentado de herpes zóster, a
proteção dessa vacina dura até 10 anos.
É muito importante que as pessoas dentro da faixa indicada
se vacinem contra o herpes zóster. Além disso, também é essencial que as
pessoas mais jovens, que dadas as crescentes exigências do mercado de trabalho,
as complexidades no dia a dia das grandes cidades e as dificuldades de
relacionamento tão típicas deste momento em que tudo é digital – inclusive a
vida perfeita dos outros, não a nossa –, estão comprometendo a própria saúde
mental. Fora dos grupos de risco, a manutenção da qualidade de vida e da saúde
global, física e mental, é crítica para evitar o surgimento de herpes zoster.
Sandra Gomes de Barros - infectologista e professora do
curso de Medicina da Universidade Santo Amaro – Unisa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário