Por que boa parte dos empresários ainda têm medo das férias? Parece algo errado, estranho e “quando” as férias acontecem, muitas vezes, ficamos com um sentimento de culpa. Mas se traz algum alívio, já adianto que boa parte dos empresários pensam desta forma. A sensação ocorre por não termos certeza de que a empresa funcionará sem solavancos, e então, se algo der errado, a responsabilidade pelo erro é nossa por termos “largado tudo para trás”.
Ainda carregamos a crença de que o sucesso só nasce
depois de muito sacrifício aliado a uma dedicação maternal, mas isso é
totalmente ultrapassado. O gestor deve trabalhar bem e ser produtivo, mas não
colocar isso à frente de tudo, a ponto de dizer que não tira férias ou pior,
que não precisa dessa pausa, frase dita por muitos com muito orgulho. A verdade
é que isso está longe de ser um mérito e empresas que perpetuam essa
mentalidade não estão olhando para um novo diálogo empresarial e por isso
deixarão de ser relevantes com o passar dos anos.
Desconectar-se um pouco do trabalho, leia-se não
ignorá-lo totalmente e fingir que “não é comigo”, traz sim inúmeros benefícios
para a saúde mental que também vai colaborar para executar as demandas de forma
mais focada, produtiva, criativa e feliz.
Claro que não é necessário e nem recomendável se
afastar por trinta dias corridos, fazendo uma referência ao antigo modelo que
temos de férias, mas é possível descansar uma semana aqui, outra ali, e ao
final do ano, ter tirado 60 dias de férias, o que deveria ser a meta de
qualquer empresário. Afinal, estamos falando de uma pessoa que abdicou muitas
vezes do Carnaval, do Natal, dos aniversários de familiares, e de tantos outros
feriados, finais de semana, festinhas da escola dos filhos para que a sua
empresa ou serviço prosperasse. Clientes precisam ser atendidos, trabalhos
entregues no prazo e muitas vezes não há equipe para tudo isso e o empreendedor
estava lá, lutando enquanto a maioria descansava. Não tem jeito, a entrega
maior é sempre dele. E aí, se identificou?
Mas depois de algum tempo nessa jornada, é preciso
ter qualidade de vida. Se você empreende há alguns anos, e já tem um negócio
mais estruturado, você deve sim, preparar seu time e sua organização para
maiores períodos da sua ausência, para que você possa chegar neste novo ponto
de equilíbrio que passa a valorizar mais o seu ativo mais precioso: o tempo!
Ganhar mais, crescer, prosperar, tudo isso compõe um importante cenário de
desenvolvimento, tornando o empresário mais confiante. Com confiança e
tranquilidade todo o processo fica mais suave. E o mais importante, sentimos
mais prazer no trabalho, que é a morada do empresário, e então, a cada entrega,
nos aproximamos ainda mais do real propósito que move toda essa roda.
Sendo realista, afirmo que é impossível desligar
totalmente do seu negócio, e também reforço que não há mal algum nisto. O
empresário pode participar de algumas reuniões, responder mensagens, ou ainda,
dedicar uma ou duas horinhas para algumas demandas rápidas no meio das suas
férias. Entretanto, reforço que o ideal seria que ações estratégicas como
fusões, aquisições, entrada em novos mercados ou lançamento de novos produtos
sejam realizadas após a volta deste gestor. Uma semana, provavelmente, não será
um divisor de águas entre o sucesso ou fracasso do seu negócio, e se for, é só
mudar os planos e não tirar férias exatamente neste período mais crítico, não
é?
Grandes instituições não interrompem suas operações
porque o gestor está em férias, entretanto, a equipe precisa estar treinada e
engajada com a cultura organizacional, porque é essa filosofia que vai dominar
o ambiente corporativo na ausência do gestor, sendo que a total compreensão e
absorção influenciarão o comportamento dos empregados e molda a imagem
corporativa passada ao público, o que impacta na aceitação e consumo dos
produtos da marca, entre outros aspectos. Seria uma verdadeira prova de
fogo. Já pensou se a sua equipe consegue superar a meta sem você no
comando? Sonho ou pesadelo? Deixo para você responder.
Rica Mello - apaixonado por gestão, números,
estratégia e pessoas. Dedicou uma década auxiliando grandes empresas como
consultor estratégico da McKinsey e Bain & Company antes de criar seus
próprios negócios. É empreendedor serial e está à frente de negócios em
diversos segmentos como indústria, distribuição, importação, varejo, e-commerce
e educação. Auxilia empresários a navegar no desafiante mercado brasileiro e é
uma das lideranças da indústria que se preocupam com iniciativas de coleta e
reciclagem de materiais. Possui MBA pela Kellogg School e especialização pela
Singularity University. Ele aprendeu a gerenciar empresas de qualquer lugar do
mundo, para alimentar sua outra grande paixão, que é viajar. Conhece 136
países e almeja visitar todos os países do mundo até 2025.
@ricamello
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