Para os céticos menos informados e desligados da
realidade do planeta, o dia do Controle da Poluição Industrial pode parecer uma
data para preencher o calendário anual das comemorações que não geram feriado.
Porém, a data serve para manter aceso o sinal de alerta e provocar reflexões
sobre o caos ambiental que assombra o nosso planeta, tornando-o um local
inabitável.
A partir do advento da Revolução Industrial, que
teve seu início na Europa, os seres humanos começaram a viver em um ambiente
diferente daquele de outrora, especialmente por conta da poluição e dos
resíduos despejados no solo e na água, não que isso fosse uma completa novidade
para o povo europeu.
Na Grécia e em Roma, ainda na antiguidade, regras
foram criadas para manter algumas atividades distantes da população. Sendo
assim, curtumes, fundição de metais e produção de vidros, por exemplo, eram
deslocados para ambientes em que os odores produzidos, a poluição do ar e da
água impactassem em menores níveis a sociedade.
Com o início da industrialização, novos produtos
surgiram e com eles seus processos de produção. A novidade acaba por abrir
caminho para a chegada de um problema até então desconhecido pelos seres
humanos: a poluição do ambiente.
No Japão, a baía de Minamata é um exemplo clássico
do quanto a poluição industrial pode afetar as nossas vidas.
Nas décadas de 1950 e 1960, existia uma indústria
de PVC localizada próxima à baía. Na época, uma das formas de produção do
material consistia em incluir o mercúrio no processo, descoberto posteriormente
como um metal extremamente nocivo à saúde humana.
O descarte do composto nas águas de Minamata trouxe
à tona um problema: a substância, em contato com as águas, poderia ser ingerida
pelos peixes ou absorvida pelas plantas aquáticas. No entanto, naquele tempo
ainda não havia estudos que demonstrassem isso.
No caso dos peixes, o metabolismo deles
transformava o mercúrio metálico em metilmercúrio, uma substância muito mais
tóxica para o ser humano, pois quando ingerida é 99% absorvida pelo metabolismo
humano.
Para as plantas aquáticas, o mercúrio metálico se
transformava em mercúrio iônico, e, quando absorvido pelos peixes, também se transformava
em metilmercúrio.
Agravamento da crise: a dieta da população local
era baseada no consumo de pescados, portanto, a maioria das pessoas ficaram por
meses, anos ou décadas vivendo em longos ciclos de exposição à contaminação.
O mercúrio, na linguagem técnica antiga, é
considerado um metal pesado. Ao ser ingerido pelo ser humano, acumula-se nos
rins, fígado e, principalmente, no sistema nervoso central, tirando toda a
autonomia da pessoa sobre seu corpo, ocasionando, por exemplo, perda total de locomoção,
falta de controle das mãos, apodrecimento das gengivas e comprometimento do
cérebro.
Os japoneses não tinham ideia dos riscos e dos
problemas a que estavam expostos. Por anos a fio, pessoas de todas as idades
morreram e os diagnósticos não eram conclusivos.
Com avanço nas pesquisas, descobriu-se a fonte do
problema: as autópsias levaram à conclusão de que a maioria arrasadora dos
óbitos tinha, por “coincidência”, o excesso de mercúrio no organismo das
pessoas.
Em Estocolmo, em 1972, na Conferência sobre o Meio
Ambiente e Poluição, ação promovida pela ONU, pessoas acometidas pelo problema
em Minamata foram apresentadas ao mundo para que se tomasse a verdadeira
ciência daquele que seria o problema chamado Poluição Ambiental.
Com esse exemplo, torna-se urgente e cristalina a
necessidade de refletirmos acerca do Controle da Poluição Industrial, algo
vital para a manutenção da continuidade da vida em nosso planeta.
Rogério
Ap. Machado - docente de Química e Meio Ambiente na Universidade Presbiteriana
Mackenzie (UPM) e Doutor em Saúde Pública pela USP.
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