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terça-feira, 9 de agosto de 2022

Dia do Controle da Poluição Industrial


Para os céticos menos informados e desligados da realidade do planeta, o dia do Controle da Poluição Industrial pode parecer uma data para preencher o calendário anual das comemorações que não geram feriado. Porém, a data serve para manter aceso o sinal de alerta e provocar reflexões sobre o caos ambiental que assombra o nosso planeta, tornando-o um local inabitável. 

A partir do advento da Revolução Industrial, que teve seu início na Europa, os seres humanos começaram a viver em um ambiente diferente daquele de outrora, especialmente por conta da poluição e dos resíduos despejados no solo e na água, não que isso fosse uma completa novidade para o povo europeu. 

Na Grécia e em Roma, ainda na antiguidade, regras foram criadas para manter algumas atividades distantes da população. Sendo assim, curtumes, fundição de metais e produção de vidros, por exemplo, eram deslocados para ambientes em que os odores produzidos, a poluição do ar e da água impactassem em menores níveis a sociedade. 

Com o início da industrialização, novos produtos surgiram e com eles seus processos de produção. A novidade acaba por abrir caminho para a chegada de um problema até então desconhecido pelos seres humanos: a poluição do ambiente. 

No Japão, a baía de Minamata é um exemplo clássico do quanto a poluição industrial pode afetar as nossas vidas. 

Nas décadas de 1950 e 1960, existia uma indústria de PVC localizada próxima à baía. Na época, uma das formas de produção do material consistia em incluir o mercúrio no processo, descoberto posteriormente como um metal extremamente nocivo à saúde humana. 

O descarte do composto nas águas de Minamata trouxe à tona um problema: a substância, em contato com as águas, poderia ser ingerida pelos peixes ou absorvida pelas plantas aquáticas. No entanto, naquele tempo ainda não havia estudos que demonstrassem isso. 

No caso dos peixes, o metabolismo deles transformava o mercúrio metálico em metilmercúrio, uma substância muito mais tóxica para o ser humano, pois quando ingerida é 99% absorvida pelo metabolismo humano. 

Para as plantas aquáticas, o mercúrio metálico se transformava em mercúrio iônico, e, quando absorvido pelos peixes, também se transformava em metilmercúrio. 

Agravamento da crise: a dieta da população local era baseada no consumo de pescados, portanto, a maioria das pessoas ficaram por meses, anos ou décadas vivendo em longos ciclos de exposição à contaminação. 

O mercúrio, na linguagem técnica antiga, é considerado um metal pesado. Ao ser ingerido pelo ser humano, acumula-se nos rins, fígado e, principalmente, no sistema nervoso central, tirando toda a autonomia da pessoa sobre seu corpo, ocasionando, por exemplo, perda total de locomoção, falta de controle das mãos, apodrecimento das gengivas e comprometimento do cérebro. 

Os japoneses não tinham ideia dos riscos e dos problemas a que estavam expostos. Por anos a fio, pessoas de todas as idades morreram e os diagnósticos não eram conclusivos. 

Com avanço nas pesquisas, descobriu-se a fonte do problema: as autópsias levaram à conclusão de que a maioria arrasadora dos óbitos tinha, por “coincidência”, o excesso de mercúrio no organismo das pessoas. 

Em Estocolmo, em 1972, na Conferência sobre o Meio Ambiente e Poluição, ação promovida pela ONU, pessoas acometidas pelo problema em Minamata foram apresentadas ao mundo para que se tomasse a verdadeira ciência daquele que seria o problema chamado Poluição Ambiental. 

Com esse exemplo, torna-se urgente e cristalina a necessidade de refletirmos acerca do Controle da Poluição Industrial, algo vital para a manutenção da continuidade da vida em nosso planeta.

 

Rogério Ap. Machado - docente de Química e Meio Ambiente na Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) e Doutor em Saúde Pública pela USP.

 

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