Um recente relatório da McKinsey Institute mostrou que aproximadamente 50% da força de trabalho mundial é feminina. Mas, mesmo diante desse cenário, no Brasil, de acordo com um estudo do IBGE de 2019, mulheres em cargos de diretoria e gerências receberam 39% a menos que os homens para desempenhar as mesmas funções.
Dados como esses, somados ao que presenciamos no dia a dia do mercado, nos
mostram a necessidade de lutar pela equidade de gênero. E, nesta linha, no
próximo dia 26 de agosto, comemora-se o Dia Internacional da Igualdade
Feminina, em homenagem à aprovação do direito ao voto às mulheres
norte-americanas, em 1973. Mesmo que ao longo dos anos, outros direitos venham
sendo conquistados, como a licença maternidade, criação de leis contra a
violência doméstica e o acesso ao anticoncepcional, ainda temos muito o que discutir.
Precisamos trazer para toda a população, de empresa a escolas, a percepção de
que a desigualdade de gênero ainda existe e prejudica as mulheres.
Trazendo essa realidade para as mulheres negras, os dados são ainda mais
alarmantes: uma mulher negra, na mesma posição que um homem branco, pode chegar
a receber 75% a menos, exercendo a mesma função. Eu sou uma mulher negra. Ao
longo da minha carreira, mais de uma vez me vi na posição de descobrir que um
par, homem ou uma mulher branca, ganhavam mais do que eu. Por isso, pra mim é
tão importante hoje ocupar a posição de inclusivista na cadeira de diversidade,
equidade e inclusão de uma healthtech promissora, audaciosa e que pretende
mudar o sistema de saúde do Brasil. É uma honra, e eu acredito muito no impacto
que informação, estratégia, oportunidades e ações afirmativas podem
proporcionar.
É importante que a sociedade tenha a percepção desse cenário de desigualdade
entre mulheres e homens, sobretudo quando o tema são as mulheres negras, cujas
oportunidades são, historicamente, mais escassas. Em um dos países mais
miscigenados do mundo, é surpreendente que pessoas pretas ocupem tão poucos
lugares cargos de liderança das empresas. Precisamos aprender a questionar:
"Por que existem tão poucas pessoas negras nos cargos de liderança se
56,2% da população do Brasil é de pessoas pretas e pardas?".
Para mudar essa realidade, o papel das empresas é fundamental. Iniciativas como
contratar mulheres, principalmente, para posições de liderança e optar por
contratações afirmativas, com foco nas mulheres negras, podem fazer total
diferença. Há diversas pesquisas que demonstram que mulheres na liderança podem
aumentar o faturamento, além de potencializar a inovação dentro das
organizações. A pesquisa Diversity Matters América Latina, feita pela McKinsey
& Company, por exemplo, confirma que na América Latina, as empresas com
maior diversidade de gênero nos níveis executivos têm 14% mais probabilidade de
performar melhor que os concorrentes. Outro dado relevante é que empresas
percebidas como diversas pelo time têm probabilidade 93% maior de superar a
performance financeira de seus pares na indústria.
Outro ponto para destacar é o movimento da paternidade ativa. Ainda parece ser
natural que a criação dos filhos seja uma responsabilidade apenas das mulheres.
Dados do Conselho Nacional de Justiça de 2013, revelam que mais de 80% das
crianças de até quatro anos têm como primeira responsável uma mulher (seja mãe,
avó, mães de criação ou madrastas). Então, precisamos também abrir o espaço
para essa mudança cultural, e tirar do "colo" da mulher essa
responsabilidade quase exclusiva.
Abrir esses novos caminhos é uma construção que demanda,
além de tempo, uma necessidade de ajuda mútua. Seja no âmbito particular ou
profissional, apostar em iniciativas de inclusão e representatividade é o único
caminho para um cenário diferente do que temos hoje.
Melina Fontes - Líder de Inclusão e Diversidade na Sami.
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