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sábado, 14 de agosto de 2021

Agosto, o mês do cachorro louco

O mês de agosto carrega alguns mitos populares que nos acompanham por muito tempo. Quem já ouviu falar que "Quem casa em agosto tem desgosto", "Agosto é mês do desgosto" ou ainda que "Agosto é o mês do cachorro louco"? Vivemos cercados de mitos que a cultura popular propaga e muitas vezes repetimos e acreditamos sem sequer questionar.

Como estamos em agosto, vamos pensar o porquê de este ser considerado o mês do cachorro louco. Antes das vacinas contra doenças se tornarem populares, muito cães que viviam soltos pelas ruas tinham sérios acessos de raiva, o que causava grandes problemas, inclusive para as pessoas. O dado curioso é que os casos eram maiores no mês de agosto quando comparados com outros períodos do ano. A explicação mais plausível é a mais simples também, em função do clima (chuvas, temperatura, ar) o período do cio das cadelas é mais sincronizado. Com as fêmeas mais férteis, os machos disputam mais entre si, para decidir quem vai acasalar e caso ele esteja com raiva, vai transmitir através da saliva criando um ciclo de animais contaminados.

Independente da veracidade da história, o que nos interessa aqui é a relação que acabamos fazendo com o que consideramos loucura. Associamos loucura com raiva, brigas, descontrole, agressividade, ou seja, com coisas muito negativas. E aí entra nossa análise, será que estamos certos quando qualificamos alguém de "louco"? Estendemos esse conceito muito além de uma situação de "doença mental". Aliás, falar sobre a história, a antropologia e o tratamento da loucura poderia ser um capítulo à parte. Agora, nosso foco aqui é simplesmente chamar atenção para o quanto somos preconceituosos e até maldosos em relação ao que consideramos "loucura". Friso que para a psicanálise a loucura não existe, o que existe são diferentes estruturas de personalidade, quer dizer, funcionamentos diferentes com abordagens distintas de tratamento.

Pensar um pouco fora do padrão, se vestir ou agir diferente daquilo que se espera pode ser considerado um ato de loucura e nós somos rápidos em julgar, acusar ou até nos autoacusar. Temos ouvido falar sobre saúde mental - finalmente - nos esportes, nas empresas e nas nossas casas, então essa discussão cabe muito bem no mês de agosto. Seriam os cachorros ou os humanos, "loucos"? Devemos nos considerar raivosos por querermos ter atitudes diferentes? Não estamos preconizando a violência, até porque quando houver casos de pessoas com sofrimento psíquico e emocional e que são auto ou heterohostis é necessário tratamento rápido e adequado. Mas quando somos considerados loucos por acordar cedo para treinar, por abrir mão de um estilo de vida mais suntuoso para viver de forma mais simples, quando abrimos mão de parte do trabalho para cuidar dos filhos, ou quando desistimos de uma competição, podemos realmente considerar isso loucura? Trabalhar alucinadamente para bancar coisas que nos trazem uma efêmera satisfação egóica é menos "louco" do que ser mais simples?

Em agosto, tenha gosto pela vida que possui e repense o que de fato é loucura.

 


Márcia Tolotti - psicóloga e psicanalista, consultora e especialista em educação psicofinanceira pessoal e corporativa. Já publicou sete livros sobre autoconhecimento e mercado psicofinanceiro, como ‘O Desafio da Independência - Financeira e Afetiva’, que já teve mais de 50 mil exemplares vendidos, e ‘As Armadilhas do Consumo’. https://marciatolotti.com.br/


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