O mês de agosto carrega alguns mitos populares que nos acompanham por muito tempo. Quem já ouviu falar que "Quem casa em agosto tem desgosto", "Agosto é mês do desgosto" ou ainda que "Agosto é o mês do cachorro louco"? Vivemos cercados de mitos que a cultura popular propaga e muitas vezes repetimos e acreditamos sem sequer questionar.
Como estamos em
agosto, vamos pensar o porquê de este ser considerado o mês do cachorro louco.
Antes das vacinas contra doenças se tornarem populares, muito cães que viviam
soltos pelas ruas tinham sérios acessos de raiva, o que causava grandes
problemas, inclusive para as pessoas. O dado curioso é que os casos eram
maiores no mês de agosto quando comparados com outros períodos do ano. A
explicação mais plausível é a mais simples também, em função do clima (chuvas,
temperatura, ar) o período do cio das cadelas é mais sincronizado. Com as
fêmeas mais férteis, os machos disputam mais entre si, para decidir quem vai
acasalar e caso ele esteja com raiva, vai transmitir através da saliva criando
um ciclo de animais contaminados.
Independente da
veracidade da história, o que nos interessa aqui é a relação que acabamos
fazendo com o que consideramos loucura. Associamos loucura com raiva, brigas,
descontrole, agressividade, ou seja, com coisas muito negativas. E aí entra
nossa análise, será que estamos certos quando qualificamos alguém de
"louco"? Estendemos esse conceito muito além de uma situação de
"doença mental". Aliás, falar sobre a história, a antropologia e o
tratamento da loucura poderia ser um capítulo à parte. Agora, nosso foco aqui é
simplesmente chamar atenção para o quanto somos preconceituosos e até maldosos
em relação ao que consideramos "loucura". Friso que para a
psicanálise a loucura não existe, o que existe são diferentes estruturas de
personalidade, quer dizer, funcionamentos diferentes com abordagens distintas
de tratamento.
Pensar um pouco fora
do padrão, se vestir ou agir diferente daquilo que se espera pode ser
considerado um ato de loucura e nós somos rápidos em julgar, acusar ou até nos
autoacusar. Temos ouvido falar sobre saúde mental - finalmente - nos esportes,
nas empresas e nas nossas casas, então essa discussão cabe muito bem no mês de
agosto. Seriam os cachorros ou os humanos, "loucos"? Devemos nos
considerar raivosos por querermos ter atitudes diferentes? Não estamos
preconizando a violência, até porque quando houver casos de pessoas com
sofrimento psíquico e emocional e que são auto ou heterohostis é necessário
tratamento rápido e adequado. Mas quando somos considerados loucos por acordar
cedo para treinar, por abrir mão de um estilo de vida mais suntuoso para viver
de forma mais simples, quando abrimos mão de parte do trabalho para cuidar dos
filhos, ou quando desistimos de uma competição, podemos realmente considerar
isso loucura? Trabalhar alucinadamente para bancar coisas que nos trazem uma
efêmera satisfação egóica é menos "louco" do que ser mais simples?
Em agosto, tenha
gosto pela vida que possui e repense o que de fato é loucura.
Márcia Tolotti - psicóloga e psicanalista, consultora e especialista em
educação psicofinanceira pessoal e corporativa. Já publicou sete livros sobre
autoconhecimento e mercado psicofinanceiro, como ‘O Desafio da Independência -
Financeira e Afetiva’, que já teve mais de 50 mil exemplares vendidos, e ‘As
Armadilhas do Consumo’. https://marciatolotti.com.br/
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