Da agropecuária à prestação de serviço,
seja qual for o setor da economia, os avanços tecnológicos já vinham impactando
os mais diversos negócios nos últimos anos. A área da saúde não foge à regra.
Porém, a pandemia do novo coronavírus expôs ainda mais o sistema de saúde a
inovações que podem trazer melhorias para toda a cadeia: atendimento médico,
medicina diagnóstica e procedimentos cirúrgicos. Mais do que otimizar os
processos, essas soluções digitais podem ainda aliviar a sobrecarga nos
hospitais, melhorar o acesso à saúde e reduzir desperdícios importantes de
tempo e recursos. Fatores essenciais no momento atual, principalmente em países
como o Brasil, em que apenas 25% da população tem plano de saúde, enquanto o
SUS sofre falta de investimentos e demandas acima da capacidade de atendimento.
Engana-se quem pensa que inovações na saúde envolvem somente inteligência
artificial, machine learning e robôs. Pelo contrário, a popularização de
smartphones e o acesso à internet móvel romperam a barreira entre online e
offline, tornando possível a criação de recursos que são mais acessíveis e práticos
para os brasileiros de diferentes regiões do país. É o caso da telemedicina,
que é uma tendência mundial e foi autorizada no Brasil pelo Ministério da Saúde
em março do ano passado e vem auxiliando na Gestão de Saúde Populacional, que é
responsável por promover o desenvolvimento e a disseminação de estratégias
destinadas a melhorar a saúde da população.
A regulamentação do governo é um passo crucial para que o setor continue se
desenvolvendo e investindo cada vez mais em soluções digitais, que além de
salvar e ajudar pacientes, podem trazer mais qualidade de vida aos brasileiros.
Em outros países, o recurso já é amplamente utilizado, principalmente para
atendimento de medicina básica, que totaliza cerca de 80% a 90% das
necessidades de saúde de um indivíduo ao longo de sua vida. A telemedicina pode
auxiliar no acesso aos cuidados primários, que segundo dados de uma pesquisa da
Carolina do Norte, cerca de 60% dos problemas dos pacientes poderiam ter sido
solucionados no modelo de atenção primária, o que teria gerado uma economia de
três a sete vezes no custo total.
Diante da pandemia da Covid-19 no Brasil e no mundo, a aceitação e curva de
utilização de novas tecnologias vem se acentuando, tanto para profissionais
quanto pacientes. A telemedicina plena se destaca e vem sendo amplamente
utilizada, já que à princípio demanda apenas o uso de um smartphone ou
computador com acesso à internet. Este novo recurso tem sido muito usado na
rede pública e privada de saúde para proporcionar atendimento médico à
distância em casos de procedimentos eletivos das mais diversas especialidades,
assim como para tirar dúvidas da população sobre o novo coronavírus, sem que
precise sair de casa.
Apesar de parecer um contato impessoal à primeira vista, nas teleconsultas o
médico profissional pode dar ainda mais atenção ao paciente por ter mais tempo
disponível, diferente do que pode acontecer nos hospitais públicos durante um
plantão em que há alta procura e o atendimento precisa ser mais ágil. Outra
vantagem é melhorar o acesso à saúde em regiões mais afastadas dos grandes
centros urbanos, uma vez que a tecnologia elimina a distância.
Além das teleconsultas, a telemedicina pode ser usada também entre os próprios
profissionais da saúde para discutir casos e prescrever tratamentos mais
assertivos de acordo com cada paciente. Essa transformação digital na saúde é
um modelo ganha-ganha, uma vez que também torna a prática da medicina mais
fácil e ágil para os profissionais.
Por enquanto, no Brasil os atendimentos via telemedicina têm sido utilizados
amplamente na Atenção Primária, por médicos da família e clínicos gerais,
porém, já há uma adoção significativa de teleconsultas por praticamente todas
as especialidades médicas e nas demandas por saúde mental e nutricional, por
exemplo, muito ligadas a qualidade de vida e bem-estar do indivíduo. Portanto,
a tendência para os próximos anos é que essa transformação digital ocupe todos
os espaços disponíveis que hoje são analógicos e a telemedicina plena terá
papel determinante nos sistemas de saúde.
Dr. Caio Soares - diretor médico da
Teladoc Brasil, empresa pioneira e líder global em cuidados virtuais de saúde,
e membro da ASAP.
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quarta-feira, 4 de agosto de 2021
A transformação digital da saúde veio e não deve voltar atrás
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