"Como
explicar o estranho arco da parentalidade para novas mães? É como se mudar para
um novo país - que é lindo -, mas está envolvido em uma guerra. E aí a guerra
acaba e você começa a se reconstruir." Meaghan O'Connell
A experiência de ter um filho é um verdadeiro
idílio, correto? Uma história maravilhosa que começa com a descoberta da
gravidez; a futura mãe se emociona e prepara sapatinhos de bebê para
surpreender o pai. O parto humanizado – a escolha certa para essa trajetória de
encantamento –, contará com uma emocionante sessão de fotos. Por fim, o
cotidiano da maternidade traz a certeza de que a amamentação é um processo natural
e fácil; a rápida adaptação do bebê à casa; a transformação tranquila de um
casal para uma linda família. Um conto de fadas. Longe disso! A boa notícia é
que as mulheres do mundo inteiro estão tirando as mordaças para falar
honestamente sobre os desafios da maternidade. Essas “novas” mães se recusam a
perpetuar essa imagem de perfeição. Uma porta-voz dessa revolução é a
jornalista Meaghan O’Connell, autora do livro Embaraçada.
Com a autoridade de quem viveu uma realidade muito
distante dessa idealização social da maternidade, Meaghan traz na obra Embaraçada(no
original, And Now We Have Everything- On Motherhood before I was
Ready) um diário honesto e sagaz sobre os desafios que pontuaram
toda a trajetória da gestação, passando pela romantização do parto natural que
corrói a autoestima materna, os problemas com o sexo, a aceitação das
transformações do corpo no pós-parto e a fascinante estranheza de adotar uma
nova identidade para a qual não se sente confortável.
É uma obra desconcertante; daquelas que desarmam o
leitor pelo alto teor de honestidade. Aos 29 anos, planejando o casamento,
Meaghan se descobre grávida. A partir desse momento, uma enxurrada de emoções –
nem sempre são boas, nobres ou o que se espera de uma grávida. Trata-se de um
livro que lança um novo olhar para um velho tema. Entre muito susto,
questionamentos sobre a natureza materna das mulheres e um parto difícil, essa
autora me levou a um lugar de profunda reflexão. Será natural esperarmos das
mulheres uma adesão incondicional à maternidade? Por que insistimos em falar
somente sobre o “lado A” da experiência de dar à luz? A coragem da autora em
expor as feridas de todo o processo – o tal país lindo, envolvido em guerra –
tocou a equipe feminina da Primavera Editorial.
Ocorre que estamos conectadas com algumas reflexões
singulares do feminismo do século XXI – sobretudo do papel das mulheres no
processo de apoiar outras mulheres, incentivando-as a expor todos os lados da
vivência. Sororidade implica na empatia e na busca por representatividade. E
Meaghan representa uma legião de jovens mães que – a despeito de todo o
romantismo e idealização em torno da maternidade – se depara com a realidade: a
dúvida, a tristeza, a sensação de não estar pronta, a dor física e emocional, o
medo da morte do bebê, a incompreensão do marido... uma lista infindável.
Mas, chega de silêncios. Na Primavera, seguimos
acreditando no poder da informação; na disseminação de conhecimento inspirador.
É nesse contexto que o livro Embaraçada se insere nofortalecimento
da emancipação da mulher por meio da leitura. Feliz Dia das Mães. Que seja uma
data celebrada com toda a honestidade que ela merece.
Lu
Magalhães - presidente da Primavera Editorial
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