A amamentação, que poderia ser um
processo natural, depende de muitos fatores para que seja estabelecida de forma
tranquila e segura
O estímulo ao aleitamento é
cultural, social, filosófico, antes até de ser prático. “Em grande parte das
minhas primeiras consultas, quando pergunto pelo tipo de parto, constato que a
maioria (como esperado) foi cesariana. Ainda que possa haver uma influência
médica favorável a esse procedimento, o que me chama a atenção é a quantidade
de mães que optam pela cesariana (para não ter dor, por ansiedade, por medo, dentre
outras causas). Assim, fica claro que essas situações são preconceitos que, na
maioria das vezes, não são esclarecidos ou conversados durante o pré-natal”,
afirma o pediatra Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).
A
mesma situação é observada em relação ao aleitamento materno. “Apesar de ser o
mais indicado, o mais adequado, há mães que durante a primeira consulta já se
mostram mais resistentes à ideia de amamentar. Nesses casos, nós, profissionais
da saúde, devemos ser mais acolhedores, mais esclarecedores, mais empáticos,
por mais trabalhoso que isso possa parecer”, destaca o médico.
Segundo
o pediatra, na prática, uma vez esclarecidas e orientadas, uma vez sentindo-se
menos “acusadas e culpadas”, as mães aderem ao aleitamento e, após perceberem
os resultados (crescimento e desenvolvimento, vínculo) tornam-se praticantes e
defensoras da “arte”.
Imagens falam mais que palavras
Chencinski
destaca que, além da questão da pega inadequada, há dois fatores importantes
que podem colaborar no desmame e que podem facilmente ser orientados, bastando
uma explicação simples. A seguir, o médico se propõe a fazer exatamente isso:
Pouco leite
Uma
das maiores preocupações e dramas que povoam o imaginário materno é a
possibilidade de que seu bebê esteja passando fome. E isso se deve a alguns
fatores:
- O seio
não é transparente. A mãe não sabe que volume de leite o bebê mama;
- Com o
tempo, o bebê suga mais forte e o leite sai mais facilmente. Com isso a
duração da mamada diminui, parecendo que o bebê mama menos;
- Quando
a mãe espreme a mama para saber se seu seio está com muito leite, muitas
vezes não sai nada ou sai muito pouco líquido. A saída do leite está
intimamente ligada à proximidade do bebê, à hora da mamada e a estímulos
neuroendócrinos. Assim, quando o bebê suga, sai muito mais leite do que
quando “a bombinha suga” ou quando a mãe tenta retirar o leite
manualmente;
- Como a
orientação é de aleitamento materno exclusivo (sem água, sem chá, sem mais
nada) até o 6º mês e em livre-demanda (quando o bebê quiser mamar e quando
a mãe quiser dar), pode ocorrer de o bebê pedir em intervalos curtos (pode
ser sede, por exemplo). Isso, na visão da mãe que não está orientada,
poderia significar que seu bebê está mamando pouco de cada vez e por isso
precisa mamar mais;
- Por
volta dos 3 meses, ocorre um pico de crescimento que faz o bebê querer
mamar em intervalos menores.
“Vale
lembrar que é nos contatos e nas consultas de acompanhamento com o pediatra que
esses dados ganham objetividade. O crescimento (peso, estatura e perímetro cefálico)
e o desenvolvimento (evolução das atividades do bebê) são parâmetros
importantes para essa avaliação”, observa o pediatra.
Para
explicar essas informações para as mães, o médico gosta de utilizar a imagem
abaixo. “O volume e o tamanho do estômago do recém-nascido, durante o primeiro
mês de vida, sofrem uma transformação intensa, partindo de 5 a 10 ml no
primeiro dia a chegando até 150 ml após 30 dias de vida. Isso explica porque o
bebê pode precisar mamar com mais frequência nos primeiros dias. Além de o
primeiro leite ser o colostro (menos quantidade, mais rico em anticorpos), o
volume do estômago do recém-nascido é pequeno”, revela Moises Chencinski.
Leite fraco
Outra
crença popular que persistiu durante décadas e ainda precisa ser esclarecida
para que não haja crise de consciência e preocupação das mães em relação a seus
bebês é aquela história de leite forte e leite fraco. Segundo o pediatra, vale
repetir, ainda mais essa vez e tantas quantas forem necessárias: “não existe
leite forte e/ou leite fraco. Existe muito leite ou pouco leite. Assim, a
livre-demanda estimula a produção do leite. Quanto mais o bebê mamar, mais
leite materno vai ser produzido”, explica.
Então
qual a razão para essa crença? A do pouco leite é porque a mãe não vê quanto o
bebê mama. A do leite forte ou fraco pode estar relacionada ao que a mãe vê. O
leite materno tem algumas características únicas que merecem ser lembradas:
- Ele é
o leite próprio da espécie, tendo em sua composição os nutrientes em
quantidade e proporções adequadas a cada fase de desenvolvimento do bebê.
Assim, quando dizemos que o aleitamento materno pode durar 2 anos ou mais,
a principal questão que aparece – se após um ano ou até dois anos de idade
o leite materno tem os nutrientes necessários – fica fácil de se
responder. Até os 6 meses TUDO o que o bebê precisa está no leite materno.
Após os 6 meses, a alimentação complementar “complementa” o que ele
precisa e não tem no leite materno. Mas ainda assim, o leite materno é
fundamental para o crescimento e desenvolvimento adequados a cada fase de
sua vida;
- O leite muda de sabor de acordo com o começo, meio e fim da mamada e com a alimentação materna. Assim, é importante que a mãe tenha uma refeição saudável, variada e adequada, para que quando esse bebê passar a se alimentar, não encare aquele sabor da fruta ou do legume como uma novidade. Vai ser já um sabor conhecido;
- Ficou
muito difundida e divulgada a ideia de o leite ser diferente do começo
(mais rico em água, proteínas e carboidratos, ajudando na “sede” por
hidratação da criança e energia para formação e desenvolvimento dos
órgãos) ao final da mamada (mais rico em gordura, sendo responsável maior
pelo crescimento – engordar e crescer – e pela sensação de saciedade).
Isso
trouxe algumas informações “quase verdadeiras”, mas um pouco distorcidas:
·
Uma
delas é a de que o bebê tem que mamar APENAS um seio por mamada, por decreto e,
no máximo, por 15 a 20 minutos. Dessa forma, o bebê esvaziaria o seio e estaria
garantido o seu crescimento e sua saciedade. A recomendação da Sociedade
Brasileira de Pediatria é que sejam oferecidos os dois seios em cada mamada (o
primeiro até o final). Quem deve decidir se a mamada vai constar de um ou dos
dois seios é o bebê e cada mamada não deve ter tempo estipulado;
·
A
outra é que, até pela composição do leite do início (com muita água,
carboidratos e proteínas) ser diferente do leite do final (gordura), a sua
aparência é diferente. Assim, quando a mãe vai tentar retirar seu leite para
ver se tem bastante e se ele é “forte”, ela se assusta por notar que ele é
ralinho, clarinho.
“Mais
uma vez, uma imagem vale mais do que mil palavras. Ver a diferença entre os
tipos de leite auxilia a eliminar os preconceitos a respeito do leite materno,
que podem ser abordados de forma clara, simples, trazendo à consciência das
mães e das famílias a importância do estímulo ao aleitamento materno, desde a
primeira hora, exclusivo e em livre-demanda até o 6º mês de vida, estendido até
2 anos ou mais”, diz o médico.
Moises
Chencinski - www.drmoises.com.br
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