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quinta-feira, 2 de maio de 2019

“Pouco leite”, “leite fraco”: mitos sobre a amamentação


A amamentação, que poderia ser um processo natural, depende de muitos fatores para que seja estabelecida de forma tranquila e segura


O estímulo ao aleitamento é cultural, social, filosófico, antes até de ser prático. “Em grande parte das minhas primeiras consultas, quando pergunto pelo tipo de parto, constato que a maioria (como esperado) foi cesariana. Ainda que possa haver uma influência médica favorável a esse procedimento, o que me chama a atenção é a quantidade de mães que optam pela cesariana (para não ter dor, por ansiedade, por medo, dentre outras causas). Assim, fica claro que essas situações são preconceitos que, na maioria das vezes, não são esclarecidos ou conversados durante o pré-natal”, afirma o pediatra Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).

A mesma situação é observada em relação ao aleitamento materno. “Apesar de ser o mais indicado, o mais adequado, há mães que durante a primeira consulta já se mostram mais resistentes à ideia de amamentar. Nesses casos, nós, profissionais da saúde, devemos ser mais acolhedores, mais esclarecedores, mais empáticos, por mais trabalhoso que isso possa parecer”, destaca o médico.

Segundo o pediatra, na prática, uma vez esclarecidas e orientadas, uma vez sentindo-se menos “acusadas e culpadas”, as mães aderem ao aleitamento e, após perceberem os resultados (crescimento e desenvolvimento, vínculo) tornam-se praticantes e defensoras da “arte”.


Imagens falam mais que palavras

Chencinski destaca que, além da questão da pega inadequada, há dois fatores importantes que podem colaborar no desmame e que podem facilmente ser orientados, bastando uma explicação simples. A seguir, o médico se propõe a fazer exatamente isso:


Pouco leite

Uma das maiores preocupações e dramas que povoam o imaginário materno é a possibilidade de que seu bebê esteja passando fome. E isso se deve a alguns fatores:

  • O seio não é transparente. A mãe não sabe que volume de leite o bebê mama;

  • Com o tempo, o bebê suga mais forte e o leite sai mais facilmente. Com isso a duração da mamada diminui, parecendo que o bebê mama menos;

  • Quando a mãe espreme a mama para saber se seu seio está com muito leite, muitas vezes não sai nada ou sai muito pouco líquido. A saída do leite está intimamente ligada à proximidade do bebê, à hora da mamada e a estímulos neuroendócrinos. Assim, quando o bebê suga, sai muito mais leite do que quando “a bombinha suga” ou quando a mãe tenta retirar o leite manualmente;

  • Como a orientação é de aleitamento materno exclusivo (sem água, sem chá, sem mais nada) até o 6º mês e em livre-demanda (quando o bebê quiser mamar e quando a mãe quiser dar), pode ocorrer de o bebê pedir em intervalos curtos (pode ser sede, por exemplo). Isso, na visão da mãe que não está orientada, poderia significar que seu bebê está mamando pouco de cada vez e por isso precisa mamar mais;

  • Por volta dos 3 meses, ocorre um pico de crescimento que faz o bebê querer mamar em intervalos menores.

“Vale lembrar que é nos contatos e nas consultas de acompanhamento com o pediatra que esses dados ganham objetividade. O crescimento (peso, estatura e perímetro cefálico) e o desenvolvimento (evolução das atividades do bebê) são parâmetros importantes para essa avaliação”, observa o pediatra.

Para explicar essas informações para as mães, o médico gosta de utilizar a imagem abaixo. “O volume e o tamanho do estômago do recém-nascido, durante o primeiro mês de vida, sofrem uma transformação intensa, partindo de 5 a 10 ml no primeiro dia a chegando até 150 ml após 30 dias de vida. Isso explica porque o bebê pode precisar mamar com mais frequência nos primeiros dias. Além de o primeiro leite ser o colostro (menos quantidade, mais rico em anticorpos), o volume do estômago do recém-nascido é pequeno”, revela Moises Chencinski.



Leite fraco

Outra crença popular que persistiu durante décadas e ainda precisa ser esclarecida para que não haja crise de consciência e preocupação das mães em relação a seus bebês é aquela história de leite forte e leite fraco. Segundo o pediatra, vale repetir, ainda mais essa vez e tantas quantas forem necessárias: “não existe leite forte e/ou leite fraco. Existe muito leite ou pouco leite. Assim, a livre-demanda estimula a produção do leite. Quanto mais o bebê mamar, mais leite materno vai ser produzido”, explica.

Então qual a razão para essa crença? A do pouco leite é porque a mãe não vê quanto o bebê mama. A do leite forte ou fraco pode estar relacionada ao que a mãe vê. O leite materno tem algumas características únicas que merecem ser lembradas:

  • Ele é o leite próprio da espécie, tendo em sua composição os nutrientes em quantidade e proporções adequadas a cada fase de desenvolvimento do bebê. Assim, quando dizemos que o aleitamento materno pode durar 2 anos ou mais, a principal questão que aparece – se após um ano ou até dois anos de idade o leite materno tem os nutrientes necessários – fica fácil de se responder. Até os 6 meses TUDO o que o bebê precisa está no leite materno. Após os 6 meses, a alimentação complementar “complementa” o que ele precisa e não tem no leite materno. Mas ainda assim, o leite materno é fundamental para o crescimento e desenvolvimento adequados a cada fase de sua vida;
  • O leite muda de sabor de acordo com o começo, meio e fim da mamada e com a alimentação materna. Assim, é importante que a mãe tenha uma refeição saudável, variada e adequada, para que quando esse bebê passar a se alimentar, não encare aquele sabor da fruta ou do legume como uma novidade. Vai ser já um sabor conhecido;
  • Ficou muito difundida e divulgada a ideia de o leite ser diferente do começo (mais rico em água, proteínas e carboidratos, ajudando na “sede” por hidratação da criança e energia para formação e desenvolvimento dos órgãos) ao final da mamada (mais rico em gordura, sendo responsável maior pelo crescimento – engordar e crescer – e pela sensação de saciedade).

Isso trouxe algumas informações “quase verdadeiras”, mas um pouco distorcidas:

·         Uma delas é a de que o bebê tem que mamar APENAS um seio por mamada, por decreto e, no máximo, por 15 a 20 minutos. Dessa forma, o bebê esvaziaria o seio e estaria garantido o seu crescimento e sua saciedade. A recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria é que sejam oferecidos os dois seios em cada mamada (o primeiro até o final). Quem deve decidir se a mamada vai constar de um ou dos dois seios é o bebê e cada mamada não deve ter tempo estipulado;

·         A outra é que, até pela composição do leite do início (com muita água, carboidratos e proteínas) ser diferente do leite do final (gordura), a sua aparência é diferente. Assim, quando a mãe vai tentar retirar seu leite para ver se tem bastante e se ele é “forte”, ela se assusta por notar que ele é ralinho, clarinho.

“Mais uma vez, uma imagem vale mais do que mil palavras. Ver a diferença entre os tipos de leite auxilia a eliminar os preconceitos a respeito do leite materno, que podem ser abordados de forma clara, simples, trazendo à consciência das mães e das famílias a importância do estímulo ao aleitamento materno, desde a primeira hora, exclusivo e em livre-demanda até o 6º mês de vida, estendido até 2 anos ou mais”, diz o médico.



Moises Chencinski - www.drmoises.com.br

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