De inteligência
artificial à edição de genes, CEO da iClinic, Felipe Lourenço, destaca as
principais inovações que devem impactar a área de saúde nos próximos 10 anos
A tecnologia hoje é um dos maiores ativos da área
de saúde. Do diagnóstico ao tratamento, passando pela gestão do negócio, todos
os setores vêm sendo positivamente impactados por soluções que otimizam de
alguma forma a rotina dos médicos e, sobretudo, dos pacientes.
Felipe Lourenço, fundador e CEO da iClinic, plataforma de
soluções em saúde e uma das principais health techs brasileiras, acredita que o
setor vai passar por uma forte revolução tecnológica nos próximos dez anos.
Graduado em Informática Médica e especialista em gestão em saúde pela
Universidade de São Paulo (USP), Lourenço pontua três etapas para o avanço da
tecnologia aplicada em medicina. “Precisamos digitalizar os processos,
padronizá-los e aí conectá-los. Com os sistemas interligados, a medicina vai
alcançar altos níveis de resolutividade a um custo cada vez menor. Já existe tecnologia
para isso, mas elas ainda atuam de forma individual e pontual”, avalia.
Confira abaixo as 7 tendências em saúde listadas
pelo CEO da iClinic.
1) Digitalização, padronização e conexão
No mundo ideal, todo o histórico de um indivíduo
deve estar disponível para qualquer instituição de saúde acessar. E por
incrível que pareça, muitos consultórios e instituições ainda estão na fase do
papel. E estamos falando não só de regiões mais interioranas, mas de grandes
centros urbanos, incluindo São Paulo e Rio de Janeiro. Se usam um prontuário
eletrônico, ele não é completo. E se é completo, não conversa com outros
prontuários, o que inviabiliza a conexão. Por isso, a primeira etapa para que a
tecnologia possa ter impacto real na medicina em larga escala é a digitalização,
padronização e conexão dos sistemas. Dessa forma, todos os dados ficam
disponíveis e acessíveis.
2) Inteligência artificial
Uma vez online, os dados de saúde podem ter
infinitas utilidades, especialmente quando aplicadas soluções de inteligência
artificial. A IA permite que uma máquina aprenda e chegue a conclusões
lógicas baseadas em casos anteriores, uma vez que tem muito mais capacidade de
memória e processamento que um ser humano. Partindo desse princípio, os
desdobramentos da IA no campo da saúde são diversos. Uma vez que a medicina
trabalha com protocolo, a IA deve ser cada vez mais utilizada para nortear
diagnósticos, modelos de prevenção, tratamento e gestão. A decisão será sempre
do médico, mas a tecnologia será cada vez mais decisiva nas análises de
possibilidades.
Além disso, uma vez que a base de dados de um
determinado grupo populacional esteja bastante completa, a inteligência
artificial também poderá prever o tempo que um paciente em determinada condição
tende a ocupar um leito, quando possivelmente receberá alta, entre outros
fatores. Também é possível que o próprio sistema seja capaz de disparar
automaticamente avisos de retorno periódicos aos pacientes baseado em
monitoramento em tempo real. Todas essas possibilidades terão forte impacto na
gestão de instituição de saúde, na prevenção, no diagnóstico e no tratamento
dos pacientes.
3) Value based care
Outra revolução na área da saúde deve se dar no
campo de gestão e remuneração dos prestadores de serviços de saúde como um
todo. Trata-se da value based care, ou em português, da assistência médica
baseada em valor. Neste modelo, médicos, hospitais, convênios, entre outros,
são remunerados pela qualidade dos resultados clínicos alcançados, o que deve
ser entendido como a melhor resolução possível para o problema de saúde do
paciente e/ou a manutenção de seu estado saudável, pelo menor custo. Na
prática, a ideia é elevar a régua da qualidade, alcançando resultados melhores
com menos orçamento, o que se torna viável pela aplicação de tecnologia.
Atualmente, o modelo difundido é exatamente o
oposto: conhecido como volume based care ou fee for service (pagamento por
serviço), o sistema consiste na rentabilidade proveniente da quantidade de
procedimentos, ou seja, quanto mais exames, quanto mais tempo o paciente fica
internado, mais os prestadores ganham. Ao redor do mundo, é sabido que esse
modelo vem se mostrando insustentável e pouco resolutivo.
4) Medicina preventiva
As alternativas anteriores invariavelmente colocam
o foco da medicina no paciente e não mais na doença. Logo, todos os esforços
médicos e tecnológicos devem ser empregados na saúde e bem-estar do paciente.
Além do benefício óbvio ao indivíduo, a manutenção de sua saúde custa menos que
o tratamento de possíveis doenças, o que, em larga escala, desafogaria o
sistema como um todo, público e privado. Os recursos poupados seriam então
direcionados para quadros graves, que realmente não puderam ser evitados.
5) Blockchain
O tema que ficou conhecido principalmente por conta
das moedas digitais pode ter um grande potencial na saúde. As iniciativas nesse
sentido ainda são poucas, mas a proposta de rastreabilidade e inviolabilidade
das informações trazida pelo blockchain é muito interessante para garantir
maior segurança aos dados de saúde. Na prática, o blockchain é uma estrutura de
dados que só pode ser acessada por pessoas autorizadas. Ele pode ser usado para
certificar documentos, registrar contratos, entre muitas outras aplicações. Na
saúde alguns exemplos de usos são: segurança das informações dos pacientes;
armazenamento e compartilhamento de ensaios clínicos ou do histórico do
paciente.
6) Impressão 3D
Muito se fala na impressão 3D na indústria e seu
uso também vem crescendo na medicina. A tecnologia pode ser usada em diferentes
frentes, como criação de dispositivos médicos, impressão de próteses e
materiais e até impressão de órgãos e tecidos. Nesse último caso, a
matéria-prima de impressão são células-tronco, que são induzidas a um processo
de reprodução.
A tecnologia ajuda a resolver o problema de
“substituição”, tendo em vista que ganhar um novo rim ou um novo braço, por
exemplo, não é algo simples. Mas vai além disso: ela permite a precisão. A
impressora 3D “traz à vida” um projeto que foi desenhado para aquele paciente,
o que propicia ganhos de “exatidão” em próteses e cirurgias plásticas, por
exemplo, mas também em transfusões de órgãos com a diminuição do risco de
rejeição. Vale lembrar que há algumas semanas, um grupo israelense imprimiu,
ainda em caráter experimental, o primeiro coração humano em uma impressora 3D,
com células do próprio paciente.
7) Edição de genes
Com o avanço da bioinformática e o maior
conhecimento do genoma humano, técnicas de manipulação e edição de material
genético vêm ganhando escala. O tema abre inúmeras possibilidades, como testes
genéticos para predição de doenças; criação de tratamentos personalizados para
quadros que envolvem o DNA e até mesmo a edição de genes em organismos.
Uma ferramenta chamada CRISPR é uma das mais
recentes nesse campo. Ela funciona quase como um bisturi molecular, permitindo
incisões precisas no genoma, que levam à edição do mapeamento dos genes. Essa
ferramenta possibilita a modificação com uma precisão nunca atingida até então.
Ela pode auxiliar no avanço de cura de doenças genéticas, mas também pode levar
a uma era de “design de bebês”.
iClinic
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