“A única escolha que faz sentido para a oposição, hoje,
é ser 100% contra qualquer ideia que tenha chance de melhorar o país.” (J.R.Guzzo, tweet em
27/04)
Vivemos tempo demais sob a severa
influência de uma ideologia escancaradamente reacionária. Aliás, com tanto por
modernizar talvez devesse afirmar que ainda vivemos tempos remotos,
paleolíticos. Os adeptos dessa ideologia, atuando em salas de aula,
acorrentando-se a fórmulas superadas, se dedicam, por todos os modos, a puxar
as rédeas da humanidade, da civilização e do país. Foi em nome dessa ideologia,
num prenúncio do que estava por vir, que saíram às ruas no ano 2000 a vociferar
contra o Descobrimento.
Vale
lembrar os fatos. Aqui no Rio Grande do Sul, Olívio Dutra era governador e Raul
Pont prefeito da Capital. Um grande relógio fora montado no ano anterior pela
Rede Globo em contagem regressiva para o dia 22 de abril. Ficava próximo à
Usina do Gasômetro. Tanta era (e continua sendo) a repulsa pela história
nacional que, chegado o dia dos festejos, um grupo de trabalhadores em não sei
o que resolveu acabar com o relógio. Espontaneamente, sem qualquer combinação,
chegaram juntos, na hora certa, equipados e bem dispostos. Sua posição sobre os
500 Anos afinava-se pelo diapasão do petismo que dava as cartas e jogava de mão
no Estado e na prefeitura. Tocaram fogo no artefato sob os olhos atentos da
Brigada Militar, num dia em que oficial circulava sem camisa, inspetor de
polícia dava ordens para capitão e secretário de Estado assistia tudo sorrindo.
Era a festa dos Outros Quinhentos.
Chamavam
de Invasão o feito de Cabral, e, por algum motivo obscuro, não o escolheram
patrono do MST. É claro que se os portugueses tivessem tocado direto para as
Índias, nosso país seria hoje o que são as tribos que se mantiveram sem contato
com a civilização. Vale dizer: viveríamos lascando pedra.
Essa ideologia, se pudesse, acabaria com
o imenso usucapião denominado Brasil. Os negros voltariam à África, os
invasores brancos seriam banidos para a Europa e os índios promoveriam uma
continental desapropriação do solo e das malfeitorias aqui implantadas. Alerta:
os defensores de tão escabrosa geopolítica se aborrecerão terrivelmente se você
apontar o racismo embutido nesses conceitos que viriam a dividir os brasileiros
a partir da eleição de Lula em 2002.
O
estrago foi grande. Não voltamos às cavernas como se poderia presumir do
discurso retrógrado que condenava o “grande capital”, a “grande empresa”, a
“grande propriedade”, e para o qual até o nomadismo parecia fenômeno
reprovável, precursor do famigerado neoliberalismo. No entanto, se não voltamos
às cavernas, se o agronegócio não acabou e não tocamos tambor para chover, os
“negócios” foram tantos e tão grandes que o país entrou em recessão, a economia
foi para o saco, as contas nos paraísos fiscais engordaram e os desempregados
se contam em oito dígitos. Tal história, como se sabe, acabou nos
confessionários de Curitiba.
Dois
grupos disputam espaço político no Brasil. De uma banda, o novo governo, de
perfil liberal e conservador, inova e alimenta a esperança de que,
modernizando-nos, podemos escapar do caos. De outra, a oposição, que recicla
velhos chavões, bate palmas para Maduro, se aferra ao paleolítico e alimenta o
caos com esperança de voltar.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é
arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo;
Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do
grupo Pensar+.
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