Já
sabemos que há uma infinidade de doenças relacionadas ao estresse no dia a dia.
São quadros que vão desde problemas simples, como alergias, até casos extremos,
como complicações cardiovasculares. Aliás, é curioso notar como doenças tão
variadas possam ter origem em uma questão psicológica tão corriqueira. Porém,
diferentemente do que seria natural supor, pouco se fala em profundidade a
respeito das causas do estresse em si.
O
senso comum costuma relacionar o problema a condições cotidianas, como excesso
de trabalho ou crises familiares, uma noção um pouco distorcida do que ocorre
de fato. Afinal, há muitos profissionais que crescem justamente diante de
grandes adversidades. Um exemplo disso são os executivos que mostram seu valor
a partir de grandes crises financeiras. Nesse caso, a questão econômica, em vez
de se transformar em puro estresse, trazendo todos os malefícios decorrentes, é
convertida em combustível para mudanças estruturais vitais para a saúde
financeira da empresa.
Assim,
fica claro que o fator gerador do estresse não são as situações adversas em si,
mas a forma como lidamos com elas. Então, a pergunta que fica é: por que aquela
situação me trouxe tantas emoções negativas? Qual é a raiz do problema?
Nesse
contexto, é importante observarmos um fator que leva para uma série de
conflitos internos e externos e, no final, ao estresse. Diferentemente do
excesso de trabalho ou das crises familiares, esse gatilho é pouco difundido.
Pior ainda: costuma ser considerado um sentimento inofensivo. Estou falando do
apego.
É
normal nos apegarmos. Esse hábito faz parte de nosso ego e serve como uma
ferramenta para que possamos nos defender de situações adversas. Por outro
lado, é a porta de entrada para uma série de emoções destrutivas que geram
muito estresse, como rejeição, indiferença, raiva, ciúmes e outras.
O
tipo de apego mais evidente para a maioria das pessoas é o afetivo, quando
amamos alguém. Algumas vezes, pensamos que temos posse de determinada pessoa e
passamos a ser mais exigentes, esperando ou mesmo exigindo o que o outro não
pode cumprir. Daí vêm os as emoções negativas mencionadas anteriormente.
Por
outro lado, o apego pode ser dirigido a coisas, como objetos de valor
financeiro ou sentimental, e até mesmo a ideias – alguns, preocupados em terem
seus projetos de negócios "roubados", acabam jamais compartilhando
suas ideias com outros, deixando de receber feedbacks importantíssimos, às
vezes determinantes para o sucesso da empreitada.
Já
imaginou quantos problemas enfrentamos por conta do apego? Imagine grandes
líderes apegados obstinadamente às próprias ideias autoritárias o que não são
capazes de fazer?
Se
o apego faz parte do nosso ego, mas ao mesmo tempo é a raiz de tantos
problemas, o que devemos fazer para lidar com ele? A solução não é simples, mas
todo o processo começa pela mais elementar das ações: respirar. Mais
especificamente, meditar.
Ao
meditarmos, usamos a respiração como uma bússola que nos orienta pelo caminho
da interiorização. Esse processo permite entrarmos em contato com o nosso
íntimo, dando início a um processo de autoconhecimento, pois quando temos toda
a atenção voltada para nós mesmos, aprendemos a conhecer melhor os nossos
próprios sentimentos. E assim podemos identificar onde está o apego.
Na
prática meditativa, sempre que um pensamento indesejado vem à tona, damos um
gentil sinal mental para que ele vá embora e lembramos de voltar o nosso foco à
respiração. No dia a dia, o mesmo processo deve ocorrer. O apego por ser
inerente à natureza humana irá se manifestar constantemente.
Cabe
a nós usarmos o autoconhecimento obtido na meditação para identificar quando
estamos tomando atitudes impulsionadas pelo apego ou se pelo bom-senso. Se a
causa for o primeiro caso, basta colocar em prática o que se aprendeu na
prática meditativa e gentilmente afastar essa ideia de sua mente, como se fosse
um pensamento fora de lugar.
O
processo é longo e a meditação é apenas a primeira parte. Mas se começarmos a
praticá-la periodicamente, já daremos um salto enorme para abandonar as emoções
negativas que causam tantos problemas, desde o estresse do dia a dia até
grandes guerras.
Andréa Duque - coaching de
desenvolvimento humano e comunicação, palestrante e facilitadora da Unipaz-SP
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