Cânceres
de boca, laringe, esôfago, estômago e bexiga são desconhecidos por pelo menos
dois em cada dez brasileiros e a tendência é ainda pior entre os fumantes
Quando se fala da
relação direta entre câncer e cigarro, grande parte da população
automaticamente se lembra do tumor no pulmão. De acordo com pesquisa da
Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), essa é uma das variedades da
doença mais lembradas pelos brasileiros, sendo citada por nove em cada dez
pessoas. Entretanto, o tabagismo está relacionado a meia dúzia de outros
tumores que não recebem a mesma atenção. Na semana em que se celebra o Dia
Mundial sem Tabaco (31), a SBOC ressalta a importância de conscientizar a
população sobre os diversos outros tumores que possuem relação direta com a
substância.
O tabagismo é um dos
hábitos que mais causam danos ao organismo, sendo responsável por cerca de um
terço de todas as mortes por câncer, segundo dados da Organização Mundial de
Saúde (OMS). Entre os tumores cuja incidência está diretamente relacionada ao
tabaco estão o da cavidade oral, laringe, esôfago, estômago, bexiga e colo do
útero. Pelo menos cinco dessas formas de câncer são desconhecidas por uma
parcela preocupante da população: laringe e estômago não são lembrados por dois
em cada dez brasileiros (19%); o tumor de boca não é conhecido por um quarto
deles (24%); esôfago não é lembrado por um terço (33%); e quase metade dos brasileiros
não reconhece o câncer de bexiga (44%). O câncer de colo de útero é o sexto
tumor mais lembrado de todos, sendo desconhecido por 14% da população.
“O fato de as
campanhas de conscientização contra o tabagismo terem criado o alto
reconhecimento do câncer de pulmão é uma ótima notícia – afinal, o tumor de
pulmão, brônquio e traqueia é o que mais mata no Brasil. Entretanto, é muito
preocupante que uma parcela tão significativa da população desconheça os
cânceres da cavidade oral, laringe, estômago, esôfago e bexiga, que, juntos,
representam mais de 20% de todos os casos de tumor diagnosticados no país. Se
considerarmos também o colo de útero, a incidência chega a ser de quase 30% de
todos os casos de câncer do Brasil. Isso significa que pelo menos 13% da
população desconhece as formas de câncer responsáveis por um terço de todos os
diagnósticos. É um número assustadoramente alto”, afirma a Dra. Clarissa
Baldotto, diretora da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.
Outro dado alarmante
do estudo da SBOC é que, por mais que os níveis de desconhecimento já sejam
altos entre a população como um todo, os fumantes são ainda menos propensos a
conhecerem todas as formas de câncer com relação direta com seu hábito: colo de
útero (20%) e estômago (21%) são desconhecidos por dois em cada dez fumantes;
laringe (23%) e boca (27%) por cerca de um quarto; esôfago por quatro em cada
dez fumantes (39%); e bexiga por metade deles (50%). No que refere ao câncer de
pulmão, o nível de conhecimento, apesar de mais baixo do que entre os
brasileiros como um todo, é o tumor mais lembrado por aqueles que fumam (89%).
“Um número importante
de brasileiros ainda mantém o hábito do tabagismo – 14%, segundo a pesquisa da
SBOC. Eles são 20 vezes mais propensos a ter câncer de pulmão, dez vezes mais a
ter câncer de laringe e têm de duas a cinco vezes mais chances de desenvolver
câncer de esôfago. Essa é a parcela da população a quem mais interessa saber os
riscos do tabagismo, porém, de maneira contraditória, é a que menos sabe. Por
mais que o acesso à informação e à saúde seja precário no Brasil, precisamos
nos esforçar ao máximo para alcançar essas pessoas e conscientizá-las sobre o
risco que elas correm por prosseguir fumando”, diz a Dra. Clarissa Mathias,
diretora da SBOC.
Ex-fumantes conhecem
mais o câncer
A informação parece
ser um fator-chave para a decisão de deixar o tabagismo. De acordo com o
levantamento da SBOC, ex-fumantes tendem a conhecer mais os diversos fatores
relacionados ao câncer do que aqueles que ainda fumam. Em alguns dos tumores, a
diferença percentual é bem relevante – no caso do câncer de esôfago, por
exemplo, a discrepância é de mais de 10 pontos percentuais (28% dos ex-fumantes
não conhece a doença contra 39% entre os fumantes). Nos demais subtipos da
doença, os percentuais de desconhecimento entre aqueles que largaram o cigarro
são: 12% não conhecem o tumor colo de útero; 15% o de laringe; 17% o de
estômago; 19% o de boca; e 43% o de bexiga.
“Por mais que os
números ainda sejam baixos e haja muito espaço para avanços, o fato de
ex-fumantes conhecerem mais os diferentes tipos de câncer do que aqueles que
ainda fumam é motivo para muita esperança, por ter como uma das explicações
possíveis a possibilidade de que quanto mais informação sobre os diferentes
tipos de câncer a população tem, menos as pessoas tendem a fumar. Nosso papel
no combate ao câncer, como Sociedade, é lutar ao máximo para melhorar o acesso
que todos têm à informação e defender o aprimoramento, além das condições de
tratamento dos pacientes oncológicos, da disposição de todos a adotarem hábitos
preventivos essenciais – como parar de fumar”, conclui Baldotto.
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