O
populismo é uma das doenças mais graves da democracia. É a democracia na sua forma
degenerada (como já denunciava Aristóteles). Populista é o líder carismático
que menospreza as leis e as instituições, ou seja, o Estado de Direito, porque
se julga o intérprete exclusivo da vontade popular, que seria “pura”, “coesa” e
“homogênea”.
Outra
característica do populista é a oferta de soluções fáceis para problemas
complexos. Ele, ademais, odeia qualquer tipo de pluralidade, sobretudo a de
ideias ou de etnias, e trata como inimigos os que pensam de forma contrária ao
seu projeto ou ao seu governo autoritário.
De
todos os tipos de populismos (ditatorial, como na Venezuela; fascista, como o
de Mussolini; nazista, como o de Hitler; nacionalista, como o de Trump,
Berlusconi, Orbán etc.; religioso, como o de Erdogãn, Turquia; racista, como o
do apartheid sul-africano; punitivo,
como o dos EUA a partir dos anos 70; social, como o de Getúlio Vargas etc.), os
mais chamativos são os sanguinários, como o de Duterte nas Filipinas.
O populismo sanguinário, que se
promove por meio de frases curtas eletrizantes, depreciativas e emotivas (vamos
fuzilar todo mundo”, por exemplo), converte-se rapidamente em oclocracia quando
exerce o poder acima das leis e da Constituição, sobrepondo suas bandeiras ao
direito vigente.
Oclocracia é o governo das
irracionalidades das massas, que são “compostas de todas as classes sociais”, como
dizia Ortega y Gasset.
O populismo sanguinário é uma forma de
ditadura democrática, ou seja, uma ditadura aberrante eleita pelo povo. Rodrigo
Duterte, presidente de Filipinas, sem sobra de dúvida, é tido como o ditador
populista sanguinário de maior espetacularidade neste momento.
É conhecido como “justiceiro”;
pertenceu ao esquadrão da morte em sua cidade e chegou ao poder com 40% dos
votos. Ele acaba de apadrinhar a destituição da juíza Maria Lourdes Sereno da
presidência da Corte Suprema, porque ela fez críticas ao seu governo
totalitário.
Em sua campanha eleitoral dizia que
iria ganhar dinheiro no seu mandato quem abrisse uma funerária (“que não vai
falir nunca”). Promoteu matar 100 mil pessoas em seis meses dentre usuários de
drogas, criminosos, corruptos e traficantes.
Em pouco mais de um ano no poder, já
cumpriu boa parte desse escabroso número. Não se trata de torturar. “Nosso
dever é matar”.
Chamou Obama de “filho da puta” e
atacou o embaixador da ONU dizendo que se tratava de um “gay”; utiliza o
“foda-se” a cada cinco minutos e lamentou não ter sido o primeiro estuprador de
uma missionária violada na cidade de que era prefeito. “Ela era bonita. O
prefeito tinha que ser o 1º”.
O populismo sanguinário de Duterte manda
evidentemente “esquecer os direitos humanos”, promete “esquartejar criminosos”
e recomenda que matem todos os usuários de drogas (“sem nenhum problema com a
lei”).
Eu “mataria meu filho se ele fosse
usuário de drogas”. “Se você conhece algum viciado, mate-o. É doloroso pedir
isso para os pais dele. Faça isso você mesmo”. Em suas alucinações
antropofágicas chegou a afirmar “que iria comer terroristas”.
O populismo, sobretudo
o radical, é resultado de governos delinquentes, corruptos e incompetentes. Os populistas ganham muita força quando
os donos do poder (os governantes e os dirigentes) fracassam na condução
da coisa pública. Com a vitória do populismo instala-se na sociedade uma
oclocracia, que é o governo
apoiado pelas multidões seduzidas pelos opiáceos injetados nas mentes carregadas de ódio e de medo.
O populismo sanguinário se adapta a
qualquer país, ainda que seja conhecido equivocadamente como “cordial”. Também
é possível se falar em populismo da cordialidade sanguinária.
LUIZ FLÁVIO GOMES - jurista. Criador do movimento Quero Um
BrasilÉtico. Estou no f/luizflaviogomesoficial
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