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terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Por que é angustiante saber que não cumpri os objetivos que tracei para o ano passado?



Desde 1999, existe um dia internacional inteiramente dedicado aos homens, mas pouca gente sabe disso. Segundo a psicanalista Débora Damasceno – diretora da Escola de Psicanálise de São Paulo – essa pouca representatividade, em comparação com o Dia Internacional da Mulher, é compreensível. “O homem não aparece muito no nosso discurso como uma figura que também precisa de reconhecimento”. 

E falando em discurso social, o da atualidade vem enxergando o homem como um agressor em sua essência. “Falamos mais do homem como objeto de desejo, mas ninguém parou para pensar que ele não é uma entidade pronta. É um ser humano com angústias e medos. Porém, quando nos referimos ao homem, repetem-se apenas aqueles rótulos tão antigos como ‘não presta’, ‘só pensa naquilo’, ‘não quer compromisso’”, completa Débora. 

O que vem acontecendo, então? Por que o homem está sendo tão ‘vilanizado’? Débora lembra que a situação social vem passando por profundas transformações e o processo de educação – nas famílias, nas escolas e demais núcleos – não acompanhou com a mesma velocidade. “A sociedade exige um papel do homem – e também da mulher – para o qual eles não foram educados. E aí está o grande desafio: educar as pessoas para dar conta das demandas atuais”, ilustra a psicanalista. “Não nascemos prontos. Exigir algo do outro não o torna capaz de realizar. Educação é um processo do qual todos temos de participar”. 

Débora faz, ainda, outra reflexão: “As mulheres têm conquistado espaço social e, com muita naturalidade, fazem muitas coisas que só os homens faziam. Diante desta nova realidade e do surgimento de tanta tecnologia, não temos ideia do que fazer e para onde ir. Estão todos perdidos, homens e mulheres. Neste conflito, é preciso encontrar conforto. E culpar alguém é mais fácil do que admitir que estamos perdidos socialmente. É o que as mulheres vêm fazendo em relação aos homens:  eles são o ‘elemento mau’ e sem eles a sociedade seria perfeita e poderia viver em paz”. 

Para a psicanalista, a superioridade atribuída ao homem ainda é visível não só em termos econômicos – lembrando que eles ainda ganham mais do que elas mesmo em cargos semelhantes, estão em maior número na política e à frente de grandes organizações e ainda gozam de mais privilégios sociais. “Infelizmente, o machismo é um estilo de vida social propagado também pelas mulheres, que tanto clamam por igualdade”, ilustra. 

Considerando sua vivência em consultório, Débora afirma que o grande medo do homem da atualidade é não ‘dar conta’. Ele não tem claro o que está sendo exigido dele e, por isso, não sabe corresponder a isso. “Ele pode abordar uma mulher na balada, elogiá-la, ou este ato será interpretado como abusivo? Pode expressar livremente suas emoções sem ser taxado como frouxo ou mesmo ter sua masculinidade questionada? São muitos os conflitos relatados nas sessões de análise”. 

O caminho para homens e mulheres, segundo a psicanalista, é ambos se reconhecerem em suas necessidades e se enxergarem além do discurso social. “A única chance de vivermos harmoniosamente é, por meio da educação, não responsabilizar o outro por sua condição, mas sim, assumir as responsabilidades do que somos e sentimos. É preciso dar as mãos, juntar recursos e enfrentar esta nova realidade social – sem achar que existem opressores e oprimidos. Assim como as mulheres, os homens também sofrem as dores de sobreviver neste mundo caótico, o que mostra que, independentemente de gênero, somos todos seres humanos”.





Escola de Psicanálise de São Paulo - um espaço dedicado à difusão da Psicanálise por meio de cursos livres, de formação e pós-formação, que congrega profissionais idealistas para quem a Psicanálise, além de ser um campo de conhecimento fundamental para a manutenção da saúde mental e emocional, é também uma ferramenta imprescindível na interpretação do mundo contemporâneo. Débora Damasceno é bacharel em Filosofia pela Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH -USP); pós-graduada em Psicanálise pela École Doctorale Recherches en Psychanalyse.(Sorbonne ); especializada em Sexualidade Humana pelo Instituto de Ciências Biomédicas (USP) e tem formação em Neuropsicanálise pelo Departamento de Estudos Comportamentais da UNIFESP. É coordenadora de Psicanálise do Grupo de Estudos de Neuropsicanálise e Medicina Comportamental da Unifesp e Pesquisadora do Grupo de Estudos em Saúde Oral e Sistêmica também da Unifesp – além de dirigir a Escola de Psicanálise de São Paulo.


 

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