Sociedade Brasileira de Medicina de Família e
Comunidade (SBMFC) tira as principais dúvidas sobre a gripe que atinge a
maioria dos Estados do país e causa grande preocupação na população
No Brasil, é comum as pessoas chamarem qualquer início de
espirros e garganta arranhando de gripe. Há uma banalização do termo gripe. O
que na maioria das vezes é um resfriado, ou até mesmo rinite alérgica - que nem é
uma doença infecciosa, é chamado popularmente de gripe. Por exemplo, as
crianças têm em média oito resfriados no ano, sendo
mais comum quando frequentam creches (e podem chegar até 12 recorrências no
ano). Neste ano, a H1N1 se manifestou mais cedo no país (geralmente começa a se
manifestar no início do inverno, em junho), e por conta dessa antecipação tem
causado grande comoção na população em busca da vacina para prevenção, devido
ao número de pessoas contaminadas, mais de mil em todo o Brasil e mais de 150
mortes, segundo dados do Ministério da Saúde. Ronaldo Zonta, médico de família
e comunidade, membro da SBMFC, desmistifica a H1N1 com as principais dúvidas da
população. “Atitudes simples como hábitos saudáveis, evitar lugares fechados e
aglomerados, lavar e higienizar as mãos e manter a hidratação com água, são
medidas que previnem e tratam a H1N1”, explica Zonta.
Confira mitos e verdades da H1N1:
1. O
vírus da gripe comum é o mesmo da H1N1. MITO. O vírus da gripe, influenza,
não se manifesta apenas no nariz e garganta e sim em toda a árvore respiratória
- na traqueia, brônquios e eventualmente nos pulmões. Portanto, trata-se de uma
doença de maior extensão e intensidade, sobretudo para as pessoas debilitadas.
Quem morre de gripe são pessoas que apresentam algum tipo de debilidade, como
pessoas que: são malnutridas, vivem em condições de vida precárias e pobres,
são alcoolistas pesadas, têm doenças como HIV ou diabetes, mas não fazem o
tratamento correto, tem câncer, estão fazendo quimioterapia, são muito idosas e
frágeis, tem algum problema de nascimento no pulmão ou outra doença genética,
crianças menores de três meses ou recém-nascidas, pessoas que vivem em
asilos ou instituições de saúde.
2.Os sintomas da
gripe e do resfriado são diferentes. VERDADE. O resfriado comum geralmente
apresenta-se com coriza (secreção nasal), nariz entupido e espirros, além da
febre baixa (em torno de 37-38ºC), dor ou irritação de garganta que arranha ou
arde um pouco, tosse, dores de cabeça e ouvido, rouquidão, perda de apetite,
irritação nos olhos, mal-estar ou outros sintomas que duram em média de três a
sete dias. Já a gripe inicia-se com febre alta (ultrapassa 38,5º),
calafrios, seguida de dor muscular/articular, dores de garganta e cabeça,
fadiga/indisposição, nariz entupido, espirros e tosse. A gripe deixa a
pessoa de cama com dores no corpo, popularmente descritas como quebradeira,
sensação de mal-estar muito intensa, cabeça leve. Os sintomas da
gripe são mais intensos enquanto que os sintomas do resfriado são mais leves e
tem uma menor duração.
3.A melhor prevenção
para a gripe e outras doenças é manter-se saudável. VERDADE. Ter hábitos
saudáveis, como uma alimentação que inclua diariamente frutas e verduras e
evitar os excessos alimentares como consumo de açúcar. Manter-se
hidratado, ao consumir água ou sucos naturais. Buscar cultivar sono de
qualidade e boas relações familiares e com amigos também contribuem para uma
melhor saúde global. Consumir moderadamente álcool. Evitar, parar ou diminuir o
cigarro e outras drogas, incluindo excesso de consumo de remédios como
analgésicos, xaropes, vitaminas sem qualquer necessidade. Se tiver alguma
doença como diabetes, mantê-la bem controlada.
4.Evitar ambientes fechados com muitas pessoas evita a
contaminação da H1N1. VERDADE. Começou a tossir e a garganta
está arranhando: não vá ao pronto-socorro. Nesses casos, recorrer ao
pronto-socorro pode expor a pessoa ao vírus da gripe ao ficar por
horas numa sala de espera cheia de pessoas doentes. O que era um resfriado
pode se tornar uma gripe. Se estiver realmente gripado, ou seja, não
for um resfriado e sim uma gripe, recomenda-se que a pessoa infectada evite
contato próximo com outras pessoas e fique longe do trabalho ou escola até se
sentir melhor, o que deve ocorrer em cerca de três a cinco dias. O período mais
contagioso, iniciado quando os sintomas aparecem, pode durar até sete dias –
crianças e pessoas com baixa imunidade podem precisar de uma folga ainda maior,
já que nelas o vírus permanece ativo por mais tempo. Ou seja: não dá para
mascarar os sintomas com antitérmico e mandar os filhos para a escola.
5.Ações como lavar
e higienizar as mãos são atos preventivos. VERDADE.
Lave bem as mãos ou higienize-as com álcool gel ao compartilhar
utensílios e equipamentos públicos (comércio, bares e restaurantes,
aeroporto, terminais, igrejas e todos os lugares com grande circulação de
pessoas). Proteja a boca ao tossir - use o antebraço ou lenços de papel
descartáveis ao tossir e espirrar; se usar as mãos para tapar a tosse,
espirro e limpar o nariz, lave-as para não espalhar o vírus. Não se
recomenda o uso de máscaras. Máscaras feitas de feltro e tecido têm vida
útil de quinze minutos. Depois disso, elas já não têm mais eficácia. Ficam
úmidas com a respiração e os poros do material vão abrindo. É como se não
estivesse usando uma.
6.Não existem
remédios para tratar a gripe e/ou resfriados. VERDADE. A
medicação é somente para aliviar os sintomas. Não use TAMIFLU® ou RELENZA® sem orientação
médica para tratar gripe. Esses remédios apenas diminuem de sete para 6,3
dias em média os sintomas da gripe e somente se iniciados em até 48 horas do
início dos sintomas. Gripes, resfriados e dores de garganta são doenças
autolimitadas, na maioria dos casos basta o tratamento de suporte (com
analgésicos, antitérmicos), repouso e hidratação. Antibióticos não
funcionam para tratar a gripe e são prescritos somente nos casos de eventuais
complicações como infecções bacterianas.
7. Medidas simples podem aliviar os sintomas do H1N1 e demais
vírus. VERDADE. Hidrate-se com água e sucos naturais ricos em vitamina C
(laranja, goiaba, acerola). Não há necessidade e não há evidência que funcione
tomar vitamina C em comprimidos. Para tratar a dor e febre, dê
preferência ao PARACETAMOL ou DIPIRONA. Evite anti-inflamatórios (Ibuprofeno,
Diclofenaco, Nimesulida), pois apesar de aliviarem a dor quando mais intensa
podem causar efeitos colaterais. Reserve esses remédios se os sintomas de dor
forem muito intensos.
8. Utilizar descongestionante nasal e xaropes auxiliam no
tratamento. MITO. Para o nariz entupido e coriza, use soro fisiológico
nas narinas várias vezes ao dia ou solução caseira para o nariz com meia colher
de chá de sal em um copo de água morna. Não use descongestionantes nasais
contendo fenoxazolina/nafazolina/oximetazolina (Afrin®/Sorine®/Neosoro®), pois
podem causar complicações. Evite remédios, xaropes ou similares para gripe
que contenham substâncias como pseudoefedrina / efedrina / cafeína (Naldecon®/Apracur®/Benegripe®/Cimegrip®/Coristina
D®/Descon®), pois podem causar complicações graves principalmente em pessoas
com pressão alta.
9. A vacina contra a H1N1 é necessária. MITO. A
vacina contra o H1N1 é relativamente nova e tem poucos estudos. Ainda há
poucas evidências de que a vacinação contra a gripe realmente proteja o
indivíduo de complicações da gripe, ou reduza mortes por gripe. Portanto, se é
você é uma pessoa saudável, sem outras doenças ou problemas de saúde crônicos
NÃO HÁ EVIDÊNCIAS DE QUE PRECISE VACINAR-SE. Há melhor evidência embora
não definitiva para grupos como populações vulneráveis e com doenças crônicas
especialmente respiratórias como asma. A decisão de tomar ou dar a vacina
para adultos saudáveis é pessoal e não médica ou científica. Qualquer
dúvida consulte seu médico de família.
Quem é o médico de
família e comunidade (MFC)?
A medicina de família
e comunidade é uma especialidade médica, assim como a cardiologia, neurologia e
ginecologia. O MFC é o especialista em cuidar das pessoas, da família e da
comunidade no contexto da atenção primária à saúde. Ele acompanha as
pessoas ao longo da vida, independentemente do gênero, idade
ou possível doença, integrando ações de promoção, prevenção e recuperação
da saúde. Esse profissional atua próximo aos pacientes antes mesmo do
surgimento de uma doença, realizando diagnósticos precoces e os poupando de
intervenções excessivas ou desnecessárias.
É um clínico e
comunicador habilidoso, pois utiliza abordagem centrada na pessoa e é capaz de
resolver pelo menos 90% dos problemas de saúde, manejar sintomas
inespecíficos e realizar ações preventivas. É um coordenador do cuidado,
trabalha em equipe e em rede, advoga em prol da saúde dos seus pacientes e
da comunidade. Atualmente há no Brasil mais de 3.200 médicos com título de
especialista em medicina de família e comunidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário