Pesquisa aponta quatro fatores de risco controláveis.
A catarata, doença que embaça o cristalino, lente natural
do olho, é a maior causa de cegueira no mundo e ocupa no Brasil a quarta
posição no ranking das doenças crônicas relacionadas ao envelhecimento. Esta é
a conclusão de recente levantamento realizado pela Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz) em parceria com o Ministério da Saúde, O levantamento também aponta a
doença em 25% da população com mais de 50 anos.
Segundo o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto do
Instituto Penido Burnier, significa que parte dos brasileiros tem catarata
precoce. Isso porque, metade dos
participantes do estudo da Fiocruz tinha entre 50 e 59 anos e a estimativa da OMS (Organização Mundial da
Saúde) é de que a doença surge a partir dos 55 anos com uma prevalência mundial
de 17% até a idade de 65 anos. Dos 65
aos 75 anos atinge 47% das pessoas e 73% das que têm mais de 75 anos.
Cirurgia
lidera fila do SUS
O médico destaca que a perda da visão causada pela
catarata é reversível através do implante de uma lente dentro do olho que
substitui o cristalino opaco. A cirurgia é o único tratamento efetivo, mas a
dificuldade de acesso ao procedimento faz a doença responder por 49% dos casos
de perda da visão no Brasil, bem acima dos 35% apontados pela OMS no restante
do mundo. O médico explica que por aqui o índice é tão alto porque é a cirurgia
eletiva mais procurada pelos usuários do SUS (Sistema único de Saúde) que hoje responde por mais de 77% das
operações realizadas no país. Para se ter ideia, pesquisa do CFM (Conselho Federal de
Medicina) mostra que o tempo de espera no SUS para conseguir uma cirurgia
dobrou nos últimos quatro anos e em dezembro de 2017um total de 113.185 estavam
inscritos na fila do procedimento. O oftalmologista afirma que embora seja uma
cirurgia eletiva, pode se se transformar em urgência dependendo do tempo de
espera e da evolução da catarata.
Pesquisa
A boa notícia para usuários do SUS é que uma pesquisa
realizada por Queiroz Neto com 814 participantes de 25 a 65 anos revela quatro
fatores de risco para o desenvolvimento precoce da catarata que podem ser
monitorados: o stress, a exposição dos
olhos ao sol sem proteção, a falta de sono e o uso contínuo de corticóide.
Stress
O especialista conta que mais da metade dos participantes
da pesquisa, 68%, afirmaram ter uma rotina estressante tanto no trabalho como
na vida familiar. “O stress aumenta a
produção de radicais livres que leva ao envelhecimento precoce de todo o nosso
organismo, inclusive dos olhos”, saliente. Para reduzir este efeito a dica do
médico é praticar alguma atividade física durante as manhãs, pelo menos 3 vezes
por semana.
Exposição
ao sol
A pesquisa mostra que só 45% têm hábito de proteger os
olhos do sol durante o ano todo, 40% de vez em quando e 15% nunca. O médico
destaca que a recomendação da OMS é usar lentes com 100% de proteção UV, chapéu
ou boné sempre que a radiação ultrapassar 5, índice atingido praticamente durante
o ano todo no Brasil.
A falta de filtro UV nos olhos aumenta em 60% a chance de
desenvolver catarata, comenta. “O chapéu e boné é indicado para crianças de até
8 anos porque o olho está em desenvolvimento até esta idade e o bloqueio da luz
pode prejudicar a visão”, explica.
Falta
de sono
Tres em cada 10 participantes relataram que têm sono
irregular. O especialista explica que a falta de sono desorganiza o consumo de
glicose pelo organismo e dificulta a absorção da insulina secretada pelo
pâncreas. O resultado é o ganho de peso e a maior chance de desenvolver
diabetes, doença que dobra o risco de contrair catarata. Isso porque,
explica, cria depósitos de glicemia nas
paredes do cristalino e eleva a formação de radicais livres que aceleram a
opacificação da lente do olho. Quem tem diabetes também pode perder a visão por
retinopatia diabética, alerta. Para evitar surpresas a recomendação do médico é
consultar um oftalmologista periodicamente.
Uso
contínuo de corticóide
Por incluir participantes de 25 aos 65 anos, o uso
contínuo de corticóide para tratar doenças autoimunes como artrite e reumatismo
neste estudo foi de 9% contra uma prevalência de 21% entre os brasileiros com
mais de 50 anos. O médico afirma que além do medicamento facilitar o desenvolvimento
da catarata também aumenta o risco de contrair glaucoma, maior causa de
cegueira definitiva no Brasil que em 90% dos casos está relacionada ao aumento
da pressão intraocular.
Para este grupo a recomendação do especialista é
consultar um oftalmologista a cada seis meses. Isso porque, o glaucoma não
apresenta sintomas e o tratamento desde o início aumenta a chance de preservar
a visão. Prevenir é sempre melhor que remediar, conclui.