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quarta-feira, 16 de maio de 2018

REPRODUÇÃO HUMANA


NOVOS ESTUDOS MOSTRAM QUE TRANSFERIR UM ÚNICO EMBRIÃO PODE GERAR MAIS RESULTADOS POSITIVOS QUE DOIS

Ilustração--Pixabay

Novo exame imunológico na reprodução assistida pode melhorar as chances de sucesso nos tratamentos, diminuir as chances de abortos, evitar a restrição de crescimento do bebê durante a gestação e até a pré-eclâmpsia. Esse exame demonstra que, para alguns casos, transferir um único embrião para o útero pode ser melhor do que dois. Menos é mais.

A pior frustração para aqueles que se submetem a um tratamento de fertilização assistida é quando o procedimento não dá certo. Isso porque muitos passam por uma verdadeira via sacra. No início havia um otimismo, e até o medo de uma gestação múltipla como consequência dos tratamentos, mas, de repente o receio passa a ser algo de menor importância. E ele é trocado pela ousadia de acreditar que, quanto maior o número de embriões transferidos para o útero, maior será a chance de um resultado positivo.

Já não importa mais o risco: 1, 2, 3 e até mais. Isto passa a não ter mais relevância. O que importa é estar grávida, seja lá de quantos bebês for. Aí pode estar o engano: acreditar que quanto maior o número de embriões transferidos, maior será a chance de engravidar. “Agora, com esse novo exame, o conceito de quanto mais embriões transferidos, maior chance de engravidar, poderá se inverter. Em algumas situações específicas, quando houver mais do que um embrião dentro do útero, poderá ser iniciada uma reação imunológica de rejeição”, explica o médico Arnaldo Cambiaghi, diretor do Centro de Reprodução Humana do IPGO.

 
KIR e HLA-C

Este novo exame de sangue, que tem o nome de KIR - HLA-C (KIR = Killer Immunoglobulin-like Receptors e HLA-C = Human Leucocyte Antigen - Antígenos Leucocitários Humanos), pode ajudar a melhorar os resultados nos tratamentos de fertilização assistida.  Ao definir que a transferência de um único embrião para o útero oferece melhores chances de um resultado positivo e  de uma gravidez com menos riscos  do que quando transferimos dois embriões, por exemplo.

Isso se baseia no fato de que todas as mulheres têm, no útero, células imunológicas (chamadas NK) com receptores capazes de reconhecer o embrião quando este chega ao útero materno. Esses receptores, KIR, se dividem em três grandes grupos genéticos (KIR AA, KIR AB e KIR BB) e têm função inibitória ou estimulatória sobre as células NK e importância fundamental na implantação dos embriões, na formação da placenta e, consequentemente, no próprio desenvolvimento da gestação.

“No passado, acreditava-se que todas as células NK (natural killer = células assassinas), tinham capacidade extremamente citotóxica, ou seja, de matar células estranhas ao organismo, como, por exemplo, as tumorais ou infectadas por vírus. Nos últimos anos, observou-se que existe outro tipo de célula NK no útero com outra função: liberar substâncias imunomoduladoras que estimulam a invasão das células trofoblásticas (do embrião) no endométrio de forma adequada, sendo importante para garantir a implantação e formação adequada da placenta”, esclarece Cambiaghi.

A ausência das células NK pode causar falhas de implantação e, por uma formação deficiente da placenta, abortos, restrição de crescimento do bebê e pré-eclâmpsia. A ação dessas células, tão importantes para uma gestação normal, depende de uma perfeita interação imunológica entre uma molécula da superfície das células do embrião (chamada HLA-C) e os receptores KIR das células NK uterinas.

Todo ser humano dispõe de antígenos nas células denominados HLA que distinguem os antígenos do próprio organismo dos estranhos. As células HLA representam a “marca registrada” de cada indivíduo, a “impressão digital” única, que pode ter uma similaridade maior ou menor com duas pessoas.

O antígeno HLA é uma denominação genética que, nos casos de transplantes de órgãos, tem o objetivo de avaliar o doador ideal para determinado paciente. Os antígenos são divididos em tipos: classe I (A, B e C), classe II (DR, DP, DQ) e outras. Os antígenos HLA estão presentes em todas as células do corpo humano e coordenam a resposta imunológica do nosso organismo não só nos transplantes, mas também em diversas doenças e reações a medicamentos, estimulando a formação de células de defesa, os leucócitos. O antígeno do embrião é o HLA-C.

"Como o embrião é composto de 50% de material genético paterno e 50% de material genético materno, ele tem as moléculas HLA-C materna e paterna. As células NK reconhecem o HLA-C estranho ao seu organismo, ou seja, o HLA de origem paterna. Entretanto, quando a célula NK reconhece este HLA compatível, ela não induz à rejeição, como nos transplantes, mas libera citocinas importantes para gestação", explica o ginecologista Rogério Leão, membro da equipe médica do IPGO.

O HLA-C do embrião pode ser de dois tipos: C1 e C2. A molécula C1 interfere pouco na atividade da célula NK, então pouco afeta a gestação. Já a C2 tem uma ação muito maior sobre os receptores KIR, sendo, então, mais importante para a gestação. Entretanto, sua ação vai depender do tipo de receptor KIR. Este é determinado por um grupo de genes (haplotipo) que pode ser definido como grupo A, quando gera receptores somente com atividade de inibição; ou grupo B, quando gera algum receptor com atividade estimulatória. Assim, a mãe pode ser AA, AB ou BB (pois tem um haplotipo herdado do pai e um da mãe).


Novos estudos

Cambiaghi acrescenta: “Novos estudos, realizados na Espanha pela equipe liderada pela médica Diana Alecsandru, imunologista da clínica IVI Madri, revelaram, entre outras coisas, que a união dos receptores KIR AA com antígeno HLA-C2 paterno é uma combinação de risco para o ser humano. Isso porque o HLA-C2 possui uma forte ação sobre os receptores KIR AA, que têm função inibitória sobre as células NK protetoras que se tornam inativas”.

Isso, portanto, dificulta a implantação e formação da placenta de forma adequada, levando às complicações já descritas. Quando dois embriões são transferidos, a situação se agrava, pois há estímulo HLA-C2 paterno de mais de um embrião, bloqueando, no caso de KIR AA, ainda mais essa ação protetora.

Para evitar essas complicações, pode-se avaliar o KIR da mulher e o HLA-C paterno do marido, por meio de exames de sangue. No exame do KIR, avalia-se se a mulher é KIR AA, AB ou BB. No caso do HLA, considerando que herdamos um HLA-C do pai e um da mãe, o marido poderá ser C1C1, C1C2 ou C2C2. Se for C1C1, o embrião gerado terá sempre HLA paterno C1. Se C2C2, sempre o embrião terá C2. E se o marido for C1C2, os embriões formados têm 50% de chances de terem HLA paterno C1 e 50% de chances de terem C2.

Quando a mulher é AB ou BB, não há risco, podendo-se transferir quantos embriões forem indicados. O mesmo ocorre quando o homem é C1C1. Já nos casos da mulher KIR AA e o marido C2C2, há um risco aumentado de complicações se dois embriões forem transferidos, sendo indicado transferir somente um por vez", explica Leão. E complementa: "No caso da mulher KIR AA com marido C1C2, como há uma chance de 50% de cada embrião ter C2 paterno, aconselha-se também transferir somente um embrião".







Arnaldo Schizzi Cambiaghi - diretor do Centro de reprodução humana do IPGO, ginecologista-obstetra especialista em medicina reprodutiva. Membro-titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Laparoscópica, da European Society of Human Reproductive Medicine. Formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa casa de São Paulo e pós-graduado pela AAGL, Illinois, EUA em Advance Laparoscopic Surgery. Também é autor de diversos livros na área médica como Fertilidade Natural, Grávida Feliz, Obstetra Feliz, Fertilização um ato de amor, e Os Tratamentos de Fertilização e As Religiões, Fertilidade e Alimentação, todos pela Editora LaVida Press e Manual da Gestante, pela Editora Madras. Criou também os sites: www.ipgo.com.br; www.fertilidadedohomem.com.br; www.fertilidadenatural.com.br, onde esclarece dúvidas e passa informações sobre a saúde feminina, especialmente sobre infertilidade. Apresenta seu trabalho em congressos no exterior, o que confere a ele um reconhecimento internacional.



Rogério Leão - membro da equipe do IPGO e Médico Assistente na área de Ginecologia do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM/ UNICAMP). Graduado pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).  Residente em Ginecologia e Obstetrícia, no Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM/ UNICAMP). Especializado em Endoscopia Ginecológica , pelo Hospital Pérola Byington (São Paulo –SP) e em Infertilidade Conjugal , pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (São Paulo –SP). Mestre em Ciências Médicas pelo Departamento de Tocoginecologia da FCM / Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Especialista em Ginecologia e Obstetrícia – (TEGO n°0732 / 2004). 


Gravidez tardia é possível; entenda riscos


Número de mulheres que optam pela gestação após os 35 anos é crescente



Tem sido grande o número de mulheres que decidiram engravidar após os 35 anos, por uma série de motivos. Nesta faixa etária, a futura mãe tende a estar mais estável profissional e financeiramente, além de possivelmente mais madura com relação aos seus desejos e disponibilidade para a maternidade. Além disso, foi-se o tempo em que a idade e a opinião alheia ditavam a 'obrigação' de ter um filho ou não.

Dados do Ministério da Saúde, divulgados no início de 2017, indicam que o índice de mulheres que se tornaram mães após os 40 anos subiu para 49,5% em um período de 20 anos - de 51.603 gestantes em 1995 para 77.138 em 2015. Nesta última coleta de dados, inclusive, constatou-se que 4.475 entrevistadas estavam na faixa etária dos 45 aos 49, enquanto 373 optaram pela gestação após os 50 anos.

"Muitas mulheres se sentem mais seguras com a chamada gravidez tardia porque conseguem ter uma visão mais ampla de suas vidas pessoais, por vezes já realizadas e sem a preocupação primária de ser bem-sucedida em seus trabalhos. O risco é, na verdade, mais biológico, já que as mudanças que acontecem no corpo da mulher após essa idade podem trazer algumas complicações", avalia o Dr. Antonio Pera, que trabalha há mais de 30 anos com gestação de risco.

A idade pode, por exemplo, influenciar já no momento da concepção do bebê, pois o número de óvulos de uma mulher cai consideravelmente ao longo de sua vida fértil. Além disso, fatores externos podem influenciar ainda na qualidade deste material. "Existe a possibilidade de congelamento de óvulos, para as mulheres que desejam esperar para engravidar, mas esse procedimento também tem melhores chances se feito com idade menos avançada", explica o profissional.

Outros riscos a serem considerados em relação à saúde da gestante: após os 40 anos, são maiores a chances de que a mulher desenvolva hipertensão, diabetes e outras doenças. "Mas há casos de pacientes mais novas que já apresentam este tipo de doença. Depende de cada mulher e também do estilo de vida seguido", avalia Dr. Pera. Já para o bebê, há o risco de anomalias congênitas.

E o ginecologista acrescenta: "O importante é que a mulher tenha um bom acompanhamento médico e faça escolhas que possam trazer benefícios para a futura gestação - alimentação mais saudável e eliminar o cigarro do dia a dia, por exemplo. Mantenha os exames ginecológicos em dia e atente-se ao pré-natal”.

 


Clínica Pera
Rua Cardoso de Almeida, 788 - Perdizes, São Paulo
11 3673-9959 


Mitos do Transtorno de Borderline


Dr. Diego Tavares, psiquiatra do Hospital das Clínicas de SP explica que algumas doenças psiquiátricas são tão mal compreendidas que com o tempo vão perdendo o sentido original e incorporando características que não são e nunca fizeram parte delas. “Hoje em dia o transtorno borderline de personalidade (TPB) tem sofrido uma ampliação tamanha a ponto de transtorno bipolar clássico (tipo I), esquizofrenia, TOC e até transtornos ansiosos estarem sendo chamados de transtorno borderline por conta da falha na formação adequada de psiquiatras e psicólogos”, fala o médico.


Afinal, qual a verdade sobre o problema? 

1) A principal e definidora característica de um indivíduo com personalidade do tipo borderline é um problema no vínculo com as outras pessoas. “São indivíduos que lançam mão de esforços desesperados para evitar o abandono real ou imaginado. Qualquer fim ou separação (namoro, casamento, amizade, emprego) pode deflagrar uma crise em que a pessoa interpreta o afastamento como sinal de rejeição”, explica Dr Diego.

2) Um padrão de relacionamentos instáveis caracterizados pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização, que é o típico “tudo ou nada”, “amo ou odeio”. O outro tem que ser perfeito e se errar, passa a ser depreciado. Assim, ao recusar um pedido o “melhor psiquiatra do mundo” se transforma em “lixo”. Também é comum a pessoa ficar íntima rapidamente de alguém, alimentar um monte de expectativas e, logo depois, cair em frustração e passar a odiar o outro. 

“Estas são as duas principais e ESSENCIAIS características para um diagnóstico deste transtorno. Todos os outros sintomas (alterações de humor, aumento de impulsividade, ideias de suicídio, automutilação, etc) são secundários a uma situação que envolva um relacionamento interpessoal problemático que tenha envolvido o medo do abandono e de se sentir rejeitado. Além disso, pra ser um TPB estes sintomas ocorrem desde o início da adolescência até a idade adulta”, fala o psiquiatra. 

Dr Diego comenta que mesmo que um paciente comece a apresentar problemas de relacionamento relacionados ao medo do abandono, se for APENAS durante um período de depressão, por exemplo, e não durante a vida toda, NÃO é transtorno de personalidade.  Esse é o problema mais grave que vemos nos dias de hoje, avaliar uma pessoa no momento o presente e por conta de sintomas “típicos de alteração emocional do borderline” fechar este diagnóstico. O transtorno de personalidade é crônico e relacionado ao amadurecimento da personalidade. Não são sintomas que ocorrem exclusivamente em um momento da vida. 


O que muita gente chama de TPB, mas não é:

1) Mudanças constantes de humor;

2) Alteração de humor marcada por raiva, ódio e rancor;

3) Automutilação em pessoas deprimidas;

4) Pessoas extremamente impulsivas;

5) Tentativas de suicídio constantes;

6) Pessoa com transtorno de humor que sofreu abuso sexual ou bullying na infância; 

7) Baixa tolerância à frustração e imaturidade;

8) Pessoa irônica, provocativa e manipuladora que causa uma sensação ruim no terapeuta ou no médico. 

“O grande problema que tenho visto para um excesso de diagnósticos de TPB é que muitas vezes se utilizam sintomas isolados para o diagnóstico, isso é, alterações de humor mais rápidas (no mesmo dia) ou mistas (com disforia, raiva e agressividade) que até podem ocorrer em um portador de TPB são usados como critério essencial e apenas a presença deles leva ao diagnóstico, sem uma devida avaliação da personalidade ao longo da vida. Outro erro comum é achar que todo adolescente que se mutila é borderline, sendo que este sintoma ocorre muito em alguns transtornos de humor”, finaliza o médico.








FONTE: Dr. Diego Tavares - Graduado em medicina pela Faculdade de Medicina de Botucatu - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (FMB-UNESP) em 2010 e residência médica em Psiquiatria pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPQ-HC-FMUSP) em 2013. Psiquiatra Pesquisador do Programa de Transtornos Afetivos (GRUDA) e do Serviço Interdisciplinar de Neuromodulação e Estimulação Magnética Transcraniana (SIN-EMT) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPQ-HC-FMUSP) e coordenador do Ambulatório do Programa de Transtornos Afetivos do ABC (PRTOAB). https://drdiegotavarespsiquiatra.com/

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