Pesquisa inédita mostra que os desempregados
têm em média 36 anos, possuem ensino médio completo e têm filhos. 37% eram os
principais responsáveis pelo sustento da casa. Tempo médio de desemprego é de
mais de 12 meses. Maior parte das demissões ocorreram devido à crise
O
Brasil ainda vive sua pior recessão dos últimos vinte anos e os impactos
sentidos pela indústria, comércio e serviços resultam em uma taxa de desemprego
que se aproxima dos 20%, levando em conta quem está sem trabalho e procura por
emprego, quem tem empregos com poucas horas semanais ou aqueles que já
desistiram da busca. A pesquisa “O desemprego e a busca por recolocação
profissional no Brasil”, realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC
Brasil) e pela 'Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), investiga
qual o perfil dos desempregados, os motivos que levaram ao desemprego, as
consequências na vida familiar e as medidas adotadas para encontrar nova
colocação no mercado. O estudo mostra que sete em cada dez desempregados
(68%) estão dispostos a ganhar menos do que recebiam no último emprego,
principalmente os homens (74%) e os que pertencem às classes C, D e E (70%).
As principais justificativas nestes casos são que o que importa atualmente é
arrumar um emprego para pagar as despesas (29%) e que o importante é voltar ao
mercado de trabalho (25%). Por outro lado, 32% não estão dispostos a receber
menos, principalmente as mulheres (36%) e os que pertencem às classes A e B (44%),
sendo a razão mais citada o fato de encararem o salário menor como regressão
profissional (15%), seguido da possibilidade de ser difícil voltar ao patamar
salarial que possuía antes (12%).
O levantamento revela que, considerando aqueles que participaram de ao menos
uma entrevista desde que estão desempregados, 50% chegaram a recusar alguma
proposta, sendo que 20% o fizeram porque a remuneração e/ou benefícios eram
insuficientes, enquanto 10% alegam que o local era muito distante de casa.
A pesquisa do SPC Brasil e da CNDL mostra o seguinte perfil dos
entrevistados: 58% são do sexo feminino, com média de idade equivalente a
35,7 anos; 65% têm até o ensino médio completo, 89% pertencem às classes C, D e
E e 55% têm filhos, sendo que destes 75% têm filhos com idade abaixo de 18
anos.
60% não estão sendo chamados para entrevistas de emprego
Em geral, o desemprego não é novidade para a maioria dos brasileiros ouvidos na
pesquisa: 74% já passaram pela experiência de perder o emprego, sobretudo nas
faixas etárias de 35 a 49 anos (84%) e acima de 50 anos (79%). Em
contrapartida, 26% garantem nunca ter enfrentado o desemprego, aumentando para
33% entre os mais jovens. Praticamente metade dos entrevistados estão
desempregados por um período que se estende por até seis meses (47%), sendo que
a média de tempo chega a 12,2.
“Números como esses repercutem gravemente em todo o quadro social, pois menos
pessoas trabalhando significa retração no consumo, aumento da inadimplência,
impactos negativos no padrão de vida das famílias e, em geral, ampliação da
recessão e resultados piores para a economia do país”, explica o presidente do
SPC Brasil, Roque Pellizzaro.
A busca por um novo lugar no mercado de trabalho é praticamente unânime (94%),
sendo que 80% estão procurando emprego atualmente e 14% estão recorrendo a
outras formas de renda enquanto não conseguem a recolocação. Nove em cada dez
entrevistados se sentem preparados para conseguir um novo emprego (93%), e
somente 3% sentem não estar preparadas. O otimismo predominante decorre,
principalmente, do fato de que 59% garantem possuir boa experiência
profissional, além de terem preenchido cadastros em diversos sites de emprego
(28%) e porque frequentemente leem jornais e visitam sites de emprego para ver
vagas disponíveis (24%).
Um em cada cinco desempregados afirma estar buscando capacitação profissional
para conseguir melhores oportunidades (21%), sobretudo os mais jovens (28%).
Dentre estes, as áreas mais mencionadas são as de idiomas (9%), administração
de empresas (6%), técnico de informática (5%), técnico em enfermagem (5%) e
estética (5%). Já 75% admitem não estar em busca de capacitação profissional.
De qualquer modo, mesmo entre os que procuram aumentar sua empregabilidade, por
meios de cursos e outras formas de capacitação, o cenário não é animador, uma
vez que seis em cada dez entrevistados, no geral, afirmam que não estão
sendo chamados para entrevistas de emprego (60%).
87% dos demitidos alegam motivos externos, em grande parte associados à
crise econômica
A maioria das pessoas ouvidas já trabalhou anteriormente (97%) e somente 2%
garantem nunca ter trabalhado. Considerando o último emprego, a forma de
contratação mais usual foi CLT, com carteira assinada (59%), seguida pela
contratação informal sem registro na carteira (13%), a contratação temporária
(9%) e a terceirização com carteira assinada (8%).
Considerando a experiência de trabalho anterior, cinco em cada dez
desempregados eram do setor de serviços (48%), seguido pelo comércio (34%),
indústria (12%) e setor público (5%). Em 68% dos casos, o desligamento foi
feito por demissão, mas outros 16% garantem ter pedido demissão e 14% alegam
que foi feito um acordo.
Dentre os que foram demitidos, praticamente nove em cada dez (87%) alegam
causas externas, principalmente ligadas à crise econômica vigente, como redução
de custos por parte da empresa para lidar com os efeitos da crise (43%),
diminuição nas atividades da empresa, resultando em mão de obra ociosa (15%) e
fechamento da empresa (10%). Somente 7% falam em motivações pessoais, como
resultados abaixo do esperado no trabalho (3%) e dificuldade de relacionamento
com os colegas e/ou chefe (2%).
Levando em conta apenas os que pediram demissão, a principal razão apontada é a
insatisfação com as atividades realizadas na empresa (19%), seguida da
insatisfação com o salário (12%) e do desejo de mudar de carreira e/ou área de
atuação (9%).
Perguntados sobre o tipo de oportunidade desejada pelos desempregados, 51%
preferem os postos com carteira assinada, enquanto 32% mencionam qualquer vaga,
independente do formato.
59% estão confiantes em conseguir emprego nos próximos 3 meses
Ainda que o tempo médio na condição de desempregados seja equivalente a mais de
um ano, seis em cada dez entrevistados estão otimistas sobre a possiblidade de
encontrar emprego os próximos 90 dias (59%). Em média, os respondentes
acreditam em resolver essa situação nos próximos 4 meses.
Levando em conta a expectativa para conseguir emprego nos próximos três meses,
58% se mostram confiantes, pois são bons profissionais e acreditam que tudo
dará certo. Em contrapartida, 28% estão desanimados, seja porque não têm visto
muitas vagas disponíveis no mercado (21%), seja porque estão fazendo entrevistas,
mas não conseguem vaga (7%).
Para Pellizzaro, embora muitos brasileiros se sintam prontos para voltar ao
mercado de trabalho, o fato é que não parece haver vagas disponíveis para
absorver todo esse contingente. “A questão não passa apenas pela qualificação,
e sim pela fragilidade atual da economia brasileira, que não oferece as
condições necessárias para que sejam criados novos empregos”, afirma. “Para
2017, a expectativa é de um cenário econômico melhor do que em 2016, mas a
recuperação deve se tornar mais sólida apenas no segundo semestre. Sendo assim,
a expectativa é de que os dados de desemprego ainda mostrem alguma piora no
primeiro semestre do ano, antes de demonstrar algum alento na segunda metade do
ano”, explica o presidente.
37% dos desempregados que não moram sozinhos eram os principais responsáveis
pelo sustento da casa
Além de investigar o perfil e o comportamento dos desempregados na busca por
uma recolocação, a pesquisa aprofundou a análise em relação àqueles que não
moram sozinhos para entender o impacto do desemprego no contexto familiar. Para
isso, algumas perguntas foram focadas nos desempregados que não moram sozinhos:
35% deles garantem que há pelo menos mais uma pessoa sem trabalho na casa onde
vivem. Ao mesmo tempo, 79% dos respondentes garantem conhecer alguém próximo
que perdeu o emprego ou foi obrigado a fechar a empresa nos últimos três meses.
A pesquisa mostra ainda que 92% desses desempregados ouvidos contribuíam
financeiramente para as despesas da casa, sendo que 37% eram os principais
responsáveis (aumentando para 52% entre os homens, 56% na faixa etária
acima de 50 anos e 39% entre às classes C, D e E) e 55% contribuíam, mas não
eram os principais responsáveis.
Cerca 17% dos desempregados que moram com outras pessoas e que contribuíam com
o sustento da casa afirmam que a perda do trabalho gerou conflitos na família,
principalmente discordâncias sobre as despesas da casa (12%) e brigas por causa
de dinheiro na hora de dividir as contas (8%). Já uma em cada cinco pessoas
ouvidas garante que o desemprego motivou outras pessoas da casa, que antes não
trabalhavam, a trabalhar ainda que fazendo bicos (21%). Em casos mais
agravantes, 4% destes entrevistados afirmaram que após a perda do emprego algum
integrante da família precisou interromper os estudos para trabalhar e ajudar
nas despesas.
“Os efeitos nocivos do desemprego na vida das famílias acabam forçando as
pessoas a buscar fontes alternativas de renda. Em tempos de recessão e
desemprego acentuado, como este que o país atravessa, as pessoas são obrigadas
a se adaptar, pois mesmo cortando gastos, há muitas contas que precisam ser
pagas”, relata o presidente do SPC Brasil.
Para Pellizzaro, é natural que outros integrantes da família procurem formas de
obter renda, mas o problema é que as oportunidades de trabalho são escassas e o
desânimo dos empresários faz com que poucos considerem oferecer novos empregos:
“É preciso, urgentemente, reverter esse quadro - o que passará pela melhora da
economia e retomada do crescimento, fazendo com que o empresariado volte a
acreditar no país. Além disso é necessário que algumas reformas que ajudam a
destravar a economia sejam aprovadas, com destaque para a reforma da
previdência e a reforma trabalhista”, conclui.
Metodologia
A pesquisa buscou traçar o perfil do desempregado brasileiro e o impacto no
processo de recolocação profissional no mercado. O ponto de partida foi a
definição do que vem a ser uma pessoa considerada desempregada. Mediante os
critérios adotados, se o indivíduo está trabalhando ou não tem interesse e/ou
condições de trabalhar no momento, ou mesmo se está se organizando para montar
o próprio negócio e por isso não procura emprego, não foi elegível para
responder à pesquisa. Por outro lado, se está procurando emprego, ou recorrendo
a formas alternativas de renda enquanto não encontra uma vaga, ou ainda, se não
está em busca de emprego porque procurou por muito tempo, sem sucesso, e está
aguardando para ver se surge alguma oportunidade, então foi elegível para responder
à pesquisa.
Foram
entrevistados pessoalmente 600 brasileiros desempregados acima de 18 anos, de
ambos os gêneros e de todas as classes sociais nas 27 capitais. A margem de
erro geral é de 4,0 pontos percentuais para um intervalo de confiança a 95%.
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