Levar
uma vida saudável já é um conceito bastante conhecido pela sociedade. Mas, o
que muitas pessoas ainda não conseguem compreender são alguns paradigmas que
permeiam, por anos, a vida das mulheres sobre a própria fertilidade. “Mesmo com
a tecnologia e a facilidade de se obter informações, ainda encontro pacientes
com muitas dúvidas sobre a capacidade de reprodução do organismo”.
Para
desmistificar o que muitas têm receio de perguntar ou que foram condicionadas a
pensar, a especialista em reprodução humana esclarece os principais mitos e
verdades sobre a fertilidade feminina:
1. Toda mulher
nasceu para engravidar
Mito!
Por fatores fisiológicos, emocionais ou comportamentais, nem todas nasceram
para engravidar e para serem mães. São duas questões que se complementam, mas
são isoladas. Nem sempre o organismo feminino está preparado ou tem os fatores
necessários para engravidar naturalmente. Porém, mulheres férteis ou não podem
escolher viver a maternidade.
2. Os
óvulos envelhecem
Verdade!
Toda menina nasce com uma reserva ovariana determinada, que não é renovada. Os
óvulos envelhecem ao longo da vida e são descartados naturalmente, sendo que a
maior perda ocorre até o nascimento. Com cerca de cinco meses da vida
intra-uterina, acontece o pico de concentração das células germinativas
femininas, em torno de 6-7 milhões. À partir daí ocorre a perda irreversível e
inexorável desse patrimônio e ao nascimento, cada mulher tem cerca de um a dois
milhões de óvulos. Quando chega à puberdade, esse número cai para 300 a 500
mil, sendo que apenas 300 a 500 deles chegam a ovular durante a vida
reprodutiva. Por volta dos 37 anos, o número diminui para aproximadamente 25
mil e, aos 51 anos, é natural que a mulher entre na menopausa, mesmo que ainda
se identifiquem alguns raros folículos (“casinha" do óvulo) ao exame de
ultrassom. Ou seja, a quantidade de óvulos disponíveis para gerar um embrião é
cada vez menor com o passar do tempo e a possibilidade de gestar é diminuída ao
longo da vida de uma mulher.
3. Se
há menstruação, há chances de engravidar
Mito!
A presença da menstruação nem sempre indica que há qualidade e quantidade de
óvulos saudáveis para serem fecundados. O que muitas mulheres não sabem, é que
menstruação é diferente de sangramento. O ato de menstruar só é reconhecido
como tal, quando existe um ciclo, ou seja, o óvulo maduro foi liberado por um
dos ovários. O útero é revestido pelo endométrio – camada interna que se
prepara para receber e abrigar o embrião. Quando não ocorre a fecundação, esse
revestimento se desprende da parede uterina e é eliminado do organismo sob a
forma de menstruação. Sendo assim, muitas mulheres que não têm esse ciclo de
forma completa podem apresentar irregularidade menstrual. Há casos em que o
processo se dá poucas vezes durante o ano e, nos intervalos, pode ocorrer
apenas escape de sangue ou quando vier o fluxo, ser hemorrágico.
4. A
idade é o principal fator que atrapalha a fertilidade hoje
Verdade!
Quanto mais jovem, mais fácil será para engravidar naturalmente. Sabemos que,
ao longo da vida, os óvulos são consumidos continuamente e eles também
envelhecem gradativamente, perdendo a eficiência. Não há uma regra, afinal, a
fertilidade é um processo individual e cada organismo tem um ritmo que trabalha
no tempo dele. Sendo assim, é recomendado ter acompanhamento médico e exames
específicos para saber, o nível de reserva ovariana e receber orientações
personalizadas. Vale lembrar que o exame não prevê a idade da menopausa, mas
nos dá uma ideia da resposta ovariana aos medicamentos estimulantes da
ovulação. É comum que, após os 30 anos de idade, seja intensificada a queda da
quantidade e qualidade dos óvulos.
5. Há
um período certo para congelar óvulos
Verdade!
O melhor é congelar óvulos quando se tem reserva em quantidade e qualidade
adequada. Por este motivo, recomenda-se o procedimento de preservação da
fertilidade entre os 25 e 35 anos de idade, assim a mulher ou o casal ficam
livres para poderem tentar gerar seus filhos num melhor momento, se assim
desejarem.
6. O
congelamento de óvulos é o último recurso
Mito!
É importante destacar que o congelamento de óvulos deve ser
um recurso preventivo da fertilidade e não uma opção para conseguir engravidar
quando já se esgotou todas as possibilidades naturais. Há uma grande diferença
entre preservar os óvulos e utilizá-los como a única opção para
gestar. Aliás, mesmo tendo óvulos congelados, o recomendado é tentar a
gestação natural primeiro se não houver outro impedimento.
Deixar
os óvulos saudáveis guardados para o momento em que a mulher ou o casal se
sintam preparados para terem um bebê deve ser o primeiro pensamento. Há
mulheres, por exemplo, que aos 30 anos já apresentam uma baixa qualidade
ovariana e nem sempre o recurso do congelamento é possível. Por isso, atentamos
para a herança genética daquelas mulheres que apresentam casos familiares de
menopausa precoce, principalmente quando ocorre antes dos 40 anos.
7. Tratamentos
oncológicos não interferem na fertilidade
Mito!
Terapias oncológicas, sejam elas quais forem, podem prejudicar a saúde fértil
das pacientes, pois, além de diminuírem a população de óvulos, reduzem a
qualidade deles. “O nível de comprometimento da fertilidade de quem se submete
a quimioterapia, por exemplo, varia de acordo com o tipo de droga, a idade da
mulher e a condição em que o ovário se encontrava quando foi utilizada, podendo
chegar em um alto índice de risco de evolução para menopausa prematura,
atingindo até 80% das mulheres que se submetem a tratamentos de câncer.
8. Posso
não conseguir fazer o congelamento dos meus óvulos na primeira tentativa
Verdade!
A obtenção de óvulos em quantidade suficiente, nem sempre é possível no
primeiro ciclo do tratamento. Após exames específicos para descartar infecções
transmissíveis pelos gametas, a mulher começa a se preparar para a retirada dos
óvulos, estimulando a produção por meio de medicamentos injetáveis. A fase dura
de 8 a 12 dias, tempo em que os óvulos estão maduros e prontos para serem
aspirados. Porém, se o material não for de qualidade para fecundação futura ou
estiver em quantidade insuficiente, é recomendado iniciar um novo ciclo.
9. O
procedimento para congelamento de óvulos é doloroso
Mito!
Os óvulos estarão maduros e serão aspirados (removidos) com uma agulha inserida
através da vagina sob orientação ultrassonográfica. Este procedimento é feito
sob sedação endovenosa e não é doloroso. Os óvulos coletados são mantidos na
incubadora para por algumas horas para equilíbrio da temperatura, pH, condições
de gases e congelados antes de serem fertilizados. Então, quando a paciente
desejar, serão descongelados, fertilizados e os embriões transferidos para o
útero. O ciclo demora, normalmente, de 4 a 6 semanas e até o resultado do exame
de gravidez.
10. Óvulos
congelados têm prazo de validade
MITO. A técnica utilizada para a preservação dos óvulos é a
vitrificação, uma das mais modernas e que apresenta recuperação de mais de 90%
do material coletado, intacto. Isso ocorre porque os óvulos são envolvidos em
uma solução que protege a célula de qualquer dano que possa ser causado pelo
congelamento ou criopreservação.