Inovar é a palavra de ordem do momento. No entanto, o caminho para implementá-la ainda enfrenta muitos obstáculos, especialmente no Brasil. Nosso país possui todo o potencial para se tornar uma referência mundial em inovação, mas, segundo os dados divulgados no Índice Global de Inovação 2024 (IGI), ocupamos a 50ª posição, atrás de países que, certamente, podemos superar nesse aspecto. Então, o que de fato está faltando para que possamos subir nesse ranking? Dentre as razões está, principalmente, uma maior participação governamental.
O IGI é calculado com base em dois subíndices
principais: insumos de inovação (Inputs) – os quais englobam fatores que
promovem e facilitam a inovação, como capital humano e instituições – e
produtos de inovação (Outputs), os quais refletem os resultados das atividades
inovadoras, divididas em produtos de conhecimento e tecnologia, e produtos
criativos.
Segundo o relatório, divulgado pela
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), o Brasil caiu uma
posição em relação ao ano anterior, sinalizando um alerta sobre nossa
capacidade de inovar e competir globalmente. Isso porque, por mais que o
relatório revele que o país consiga gerar resultados inovadores superiores ao
nível de seus investimentos, convertendo, de maneira eficiente, seus recursos
em atividades inovativas, ainda não exploramos todo o nosso potencial inovador,
especialmente considerando que somos a 9ª maior economia do mundo.
Analisando sob uma ótica mais positiva sobre
o tema, um dos principais fatores destacados no relatório foi o fato de termos
um mercado vasto e dinâmico, o que atrai uma grande quantidade de investimentos
estrangeiros, resultando na entrada de capital, tecnologia e expertise,
beneficiando, assim, a economia nacional. Essas características fazem com que
ocupe a oitava posição global, avaliado em bilhões de dólares PPP.
Obtivemos, ainda, um resultado promissor na
quantidade de marcas registradas por origem, ajustadas por bilhões de dólares
PPP do PIB, o que nos permitiu ocupar a 9ª posição global. Isso reflete um
significativo investimento em propriedade intelectual no país, uma vez que as
marcas protegem ativos intangíveis como nomes, logotipos e slogans, que são
essenciais para a identidade e o valor de mercado das empresas.
Um elevado número de registros indica um
ambiente empresarial dinâmico, onde a inovação é constante e as empresas são
fortemente incentivadas a isso, aprimorando seus produtos e serviços para
atender às crescentes demandas dos consumidores – o que resulta em avanços
tecnológicos e maior eficiência operacional. Porém, mesmo considerando esses
pontos positivos, precisamos lembrar que caímos uma posição em relação ao
relatório de 2023, o que significa que o Brasil está enfrentando dificuldades
para manter seu ritmo de inovação e competitividade global.
Entre as principais dificuldades
identificadas estão a formação bruta de capital, percentual do PIB (posição
108) – o qual reflete o volume de investimentos produtivos na economia,
abrangendo gastos em infraestrutura, máquinas, equipamentos e construção – e a
estabilidade política para fazer negócios (a qual nos encontramos na posição
115) – fator crucial que influencia, diretamente, a capacidade das empresas de
operar e crescer. Isso é ainda mais relevante no contexto da inovação, que é
inerentemente associada a altos riscos.
As incertezas governamentais podem
levar as empresas a adotarem uma postura mais cautelosa em relação a grandes
inovações, ou, até mesmo, a optarem por não desenvolver esse tipo de atividade.
Essa situação interfere diretamente no desempenho do país a nível global,
resultando em uma oferta de serviços e produtos com menor valor agregado.
Ademais, o Brasil também enfrenta desafios em
relação à falta de atualizações de informações, o que interfere diretamente na
posição do país no Índice. Por exemplo, os dados sobre a alocação de
talentos em pesquisa nas empresas não são atualizados desde 2014, resultando em
um cenário desatualizado que dificulta a identificação precisa da situação
atual.
Para reverter esse cenário e permitir que o
Brasil, de fato, inove com qualidade, a participação governamental é de suma
importância. Isso pode ser alcançado, principalmente, por meio de mecanismos de
fomento, como incentivos fiscais e a oferta de crédito. O Brasil já conta com
políticas de incentivo à inovação, como a Lei do Bem (Lei nº 11.196/05), a Lei
de TICs (Lei nº 8.248/91) e financiamentos via Finep.
No entanto, o desempenho pode ser aprimorado
por meio de atualizações legislativas. A Lei do Bem, como exemplo, possui dois
projetos em tramitação que poderiam otimizar e atrair um número maior de
empresas, permitindo que aquelas em prejuízo fiscal também se beneficiem dos
incentivos. Essas mudanças legais possibilitariam um desenvolvimento maior de
inovações, ao criar um ambiente mais favorável para investimentos em pesquisa e
desenvolvimento.
Fomentar a inovação é essencial para o desenvolvimento
econômico e social do país, capaz não só de impulsionar o crescimento, mas
também de aprimorar a competitividade das empresas brasileiras no mercado
global, promovendo o desenvolvimento de novas tecnologias e soluções que
beneficiam toda a sociedade.
Essas mudanças são essenciais para criar uma
cultura empresarial cada vez mais inovadora, onde as empresas adotam ações
perenes e estratégicas, integrando a inovação ao seu cotidiano. A perenidade
dessas ações assegura que os benefícios da inovação sejam sustentáveis e
duradouros, criando um ciclo virtuoso de desenvolvimento contínuo.
Com a colaboração entre empresas e governo, é
possível construir um Brasil mais inovador e competitivo no cenário global,
melhorando, assim, as posições do país no Índice Global de Inovação nos
próximos anos.
Andressa Melo - diretora de inovação do FI Group, consultoria especializada na gestão de incentivos fiscais e financeiros destinados à PD&I.
Sabrina Bauer - analista de inovação do FI Group, consultoria especializada na gestão de incentivos fiscais e financeiros destinados à PD&I.
FI Group
https://br.fi-group.com/
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