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quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Estudo comprova efetividade da vacina do HPV contra câncer invasivo

Estudo populacional de vida real demostra que o risco de desenvolver câncer de colo do útero reduziu 88% nas mulheres vacinadas antes dos 17 anos, em comparação às não imunizadas1


A revista cientifica The New England Journal of Medicine acaba de publicar um grande estudo científico de base populacional que comprova a efetividade da vacina quadrivalente contra o papilomavírus humano (HPVs 6, 11, 16 e 18) na prevenção do câncer do colo de útero invasivo¹. A pesquisa inédita "HPV Vaccination and the Risk of Invasive Cervical Cancer", foi conduzida por epidemiologistas do Karolinska Institutet da Suécia e usou dados de registro nacional, acompanhando 1,7 milhão de meninas e mulheres (população total de 1.672.983) com idades entre 10 e 30 anos de 2006 - ano em que a vacina contra o HPV foi aprovada naquele país - até 2017. Destas, 527.871 haviam recebido pelo menos uma dose da vacina durante o estudo¹.

A pesquisa de larga escala demonstrou que as mulheres imunizadas contra o HPV têm um risco significativamente menor de desenvolver câncer de colo do útero, sendo aquelas vacinadas durante a adolescência as mais beneficiadas. Houve uma redução de 88% do risco de desenvolver câncer de colo do útero invasivo nas jovens imunizadas antes dos 17 anos e de 53% naquelas imunizadas entre os 17 e os 30 anos de idade, quando comparadas com as não vacinadas. O câncer cervical foi diagnosticado em 19 mulheres vacinadas e em 538 mulheres não vacinadas durante o período do estudo. Os pesquisadores explicam que mulheres que foram vacinadas quando meninas provavelmente tiveram melhor proteção porque foram imunizadas antes de serem expostas ao HPV através da atividade sexual¹.


Os resultados estão tendo grande repercussão e foram recebidos pela comunidade médica e científica como um marco significativo na luta pela eliminação do câncer cervical. "O estudo é significativo porque, embora pesquisas anteriores tenham mostrado repetidamente que a vacina do HPV protege contra a infecção do papilomavírus humano, verrugas genitais e lesões pré-cancerosas, ainda não havia comprovação em vida real de que a vacina realmente previne o câncer cervical invasivo. Esta é a primeira vez que foi demonstrado em nível populacional que a vacinação contra o HPV é protetora não apenas contra as mudanças celulares que podem ser precursoras do câncer de colo do útero, mas também contra o câncer", destaca a pesquisadora do Departamento de Radiologia e Oncologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, Luísa Villa.

Com aproximadamente 570 mil casos novos por ano no mundo o câncer do colo do útero é o quarto tipo de câncer mais comum entre as mulheres. Ele é responsável por 311 mil óbitos por ano, sendo a quarta causa mais frequente de morte por câncer em mulheres1. No Brasil, em 2020, são esperados 16.710 casos novos. É a terceira localização primária de incidência e a quarta de mortalidade por câncer em mulheres no país, com 6.526 óbitos registrados em 2018².

De acordo com estudo POP-Brasil, projeto realizado pelo Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre (RS), em parceria com o Ministério da Saúde, a infecção é muito comum em jovens brasileiros. Sabe-se que, entre os jovens de 16 a 25 anos 53.6% estão infectados por algum tipo de HPV, sendo que o HPV de alto risco para o desenvolvimento de câncer presente em 35,2% dos participantes. A prevalência de HPV geral na população feminina pesquisada foi de 54,6% e na masculina, de 51,8%³.


Quanto mais cedo, maior a eficácia na prevenção do câncer

"A vacinação é mais eficiente quando aplicada em meninas e meninos, antes da atividade sexual", afirma Luísa Villa. Os estudiosos, completa, observaram uma redução maior quando a vacinação ocorreu nas meninas a partir dos 10 anos de idade, na comparação com a faixa etária entre 17 e 30 anos de idade. "Apesar de existir benefício em diferentes faixas etárias, a efetividade é indiscutível quando a vacinação é realizada em meninos e meninas mais jovens", reflete acerca da publicação.

No Brasil, a vacina contra o HPV é distribuída gratuitamente pelo SUS para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos. A vacinação gratuita no posto de saúde ainda está disponível para pessoas que vivem com HIV e pacientes transplantados na faixa etária de 9 a 26 anos4.

Adultos que não foram imunizados também podem decidir receber a vacina após conversar com seu médico sobre o risco de novas infecções por HPV e os benefícios da vacinação5. Estimativas apontam que a probabilidade de infecção em algum momento da vida é de 91,3% para homens e 84,6% para mulheres. Mais de 80% das pessoas de ambos os sexos contraem o vírus antes dos 45 anos6.

A pesquisadora Luísa Villa ainda informa que também é importante fazer o rastreamento da população. "É relevante considerar que as mulheres devem ser acompanhadas de maneira preventiva, com exames como o Papanicolau e, mais recentemente, com os testes de HPV para aquelas que, por ventura, sejam infectadas e/ou possam vir a desenvolver lesões precursoras ou o próprio câncer recebam assistência adequada", finaliza a especialista.


O que é o HPV

Sigla em inglês para Papilomavírus Humano (Human Papiloma Virus - HPV). Os HPV são vírus capazes de infectar a pele ou as mucosas. Existem mais de 150 tipos diferentes de HPV, dos quais cerca de 40 podem infectar o trato genital. Destes, aos menos 12 são de alto risco e podem provocar câncer (oncogênicos) e outros podem causar verrugas genitais4.

O HPV também pode causar o câncer cervical e outras lesões, incluindo as de vulva, vagina, pênis ou ânus. Também pode causar câncer no fundo da garganta, incluindo a base da língua e as amígdalas (chamadas de câncer de orofaringe). Não há como saber quais pessoas com HPV desenvolverão câncer ou outros problemas de saúde, por isso a importância de rastrear com exames médicos a população4.

 



Referências:


1-HPV Vaccination and the Risk of Invasive Cervical Cancer. Jayao Lei et al. N Engl J Med 2020;383:1340-8. Disponível em: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1917338?query=featured_home . Acesso em 06 OUT 2020.

2- Instituto Nacional de Câncer. Controle do câncer do colo do útero. Conceito e Magnitude. Disponível em: https://www.inca.gov.br/controle-do-cancer-do-colo-do-utero/conceito-e-magnitude. Acesso em 08 OUT 2020

3- Wendland, E.M., Villa, L.L., Unger, E.R. et al. Prevalence of HPV infection among sexually active adolescents and young adults in Brazil: The POP-Brazil Study. Sci Rep 10, 4920 (2020). https://doi.org/10.1038/s41598-020-61582-2

4 -Ministério da Saúde. HPV: o que é, causas, sintomas, tratamento, diagnóstico e prevenção. Disponível em: https://saude.gov.br/saude-de-a-z/hpv. Acesso em 15 MAI 2020.
5- Centers for DiseaseControl and Prevention (CDC). Genital HPV Infection: FactSheet. Disponível em:
https://www.cdc.gov/std/hpv/stdfact-hpv.htm. Acesso em 15 MAI 2020.
6- Chesson et al. The Estimated Lifetime Probability of Acquiring Human Papillomavirus in the United States, Sexually Transmitted Diseases: November 2014-Volume 41-Issue 11-p660-664. Disponível em:
https://journals.lww.com/stdjournal/Fulltext/2014/11000/The_Estimated_Lifetime_Probability_of_Acquiring.4.aspx e acessado em 15 MAI 2020.


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