O cinema, a literatura, o teatro e
mesmo músicas são grandes fontes de histórias que podem servir de inspiração ou
mesmo nos ajudar na nossa motivação pessoal. Algumas dessas histórias chamam a
nossa atenção por serem biografias ou eventos reais que revelam momentos de
crise e superação pessoal tão emocionantes que é quase inevitável tirarmos
alguma lição de vida delas.
Porém, também é possível fazer algumas
boas ponderações sobre obras ficcionais, que de tão instigantes e, por vezes,
semelhantes à realidade, bem que poderiam mesmo ser relatos da vida real.
Hoje quero falar de duas histórias que
não são reais, mas que captaram a minha atenção e me fizeram pensar no poder da
resiliência e na importância de se gerenciar as emoções. Dois romances escritos
no início do século XX que são fonte de grande sabedoria, embora muitas vezes
sejam consideradas conteúdo infanto juvenil. Trata-se da história de Pollyanna
(livro de Eleonor Poter) e Anne de Green Gables (romance escrito por Lucy Maud
Montgomery).
Eu tive a feliz oportunidade de
conhecer Pollyanna quando eu era adolescente. E tenho que dizer que essa
criança órfã e com uma vida muito conturbada mexeu com minhas emoções na época
e também me fez utilizar o “jogo do contente” algumas vezes. Filha de
missionários pobres, mas muito afetivos, Pollyanna perde seu pai aos 11 anos de
idade (ela já não tinha mais sua mãe também), tendo que ir morar com a austera
tia, que não conhecia, numa cidade e casa novas. Cheia de expectativas boas
sobre sua nova fase de vida, a menina vive grandes confrontos e choques de
realidade, principalmente por conta da personalidade difícil de sua tia.
Contudo, Pollyanna tem uma resiliência impressionante, dando a volta por cima e
pensando sempre em possibilidades para mudar os desagrados da vida. Aplica
constantemente o “jogo do contente”, aprendido com seu pai (um homem de muita
fé) e que consiste em tentar encontrar algo de bom em tudo que acontece na
vida, mesmo nos infortúnios. Desse modo, tentando encontrar soluções para seus
problemas e tentando ficar contente (o que eu traduziria por não ficar abalada
e numa postura derrotista), Pollyanna adquire muito amigos, muda a vida de
pessoas e encontra apoio quando vive uma grande desventura. O “jogo do
contente” salvou Pollyanna inúmeras vezes, e pode salvar você também.
Vamos deixar Pollyanna de lado por
alguns instantes e falar então de Anne de Green Gables, ou Anne de cabelos
ruivos. Essa outra personagem, também órfã de pai e mãe, passa por uma
experiência talvez um pouco mais severa que a personagem descrita
anteriormente. Diferentemente de Pollyanna, Anne não chega a conhecer e
conviver com os pais verdadeiros que morrem quando ela ainda era um bebê de
poucos meses. Por isso, Anne precisou viver pulando da casa em casa, de
orfanato em orfanato, vivendo de favores ingratos e trabalhando muito para
poder continuar tendo um teto e comida para viver. Sofreu bullings
significativos por ter cabelos vermelhos como o fogo e toda essa história de
vida a tornou insegura de si mesma, de sua beleza e de suas qualidades
pessoais. No entanto, o ponto de aproximação com Pollyanna é a capacidade de
Anne de encontrar a beleza onde ela não existe, ou onde ninguém mais valoriza.
Tanto Anne quanto Pollyanna, crianças
com sofrimentos que não deveriam ter vivido, são arquétipos daquilo que pode
acontecer na existência humana. Suas trajetórias nos mostram que na vida,
alguma tantas vezes sofremos adversidades. No entanto, o que percebo através
destas heroínas é que viver é a arte de gerenciar os pensamentos e as emoções.
Olhar para as circunstâncias e tentar
encontrar o “the brightside” das coisas, ou o lado positivo
(mesmo que seja apenas uma grande lição aprendida), ou simplesmente olhar as
bençãos diárias e exercer a gratidão, tem efeito muito benéficos para o nosso
cérebro. Estudos de grandes universidades americanas e em outros países já nos
revelam os resultados positivos do exercício da fé e da esperança para nossa
mente.
Para se ter resiliência, antes de tudo,
é preciso ter fé e esperança. Uma pessoa que vence desafios, como Pollyanna e
Anne de Green Gables, é alguém dotado da capacidade de ressignificar a
existência, procurando dar um novo sentido, uma nova solução ou apenas tirando
– com alegria verdadeira – algum aprendizado por algo vivido. A resiliência é
fundamental para a superação dos obstáculos da vida. E ser capaz de superar
adversidades é uma qualidade inerente de pessoas emocionalmente inteligentes e
administradoras de si.
Sendo assim, que tal começar a jogar o
“jogo do contente” (com mais maturidade que Pollyanna é claro)? Ou,
simplesmente, ver o belo e o positivo nas coisas que te cercam, assim como
Anne, ao invés de banalizar seu lindo jardim, sua grama verdinha ou a lua que
dá espetáculos mensais de beleza? Se você quiser ver diferença real em sua vida
e em sua emoções, acredito que pode começar por aí. Conte comigo sempre!
Silvia Queiroz - Psicóloga Clínica,
Especialista em Gestão Estratégica de Pessoas, Mestre em Teologia, Coach e
Analista DISC pela SLAC, Escritora, Palestrante e Membro Toastmasters
Internacional. www.silviaqueiroz.com.br