Entre
as consequências mais comuns às crianças que não dormem bem estão: queda no
desempenho escolar, desatenção, irritabilidade e até mesmo agressividade
A quantidade de sono
adequada é sempre alvo de questionamentos. Quanto tempo meu filho precisa
dormir? Pesquisa publicada no Journal of the National Sleep Foundation
aponta que recém-nascidos precisam dormir de 14 a 17 horas por dia; já entre os
bebês de quatro a 11 meses, a indicação é de 12 a 15 horas. Conforme a idade
aumenta, a necessidade de sono diminui; crianças de um a cinco anos precisam de
10 a 14 horas de sono; dos seis aos 13 anos, a recomendação cai para nove a 11
horas. No entanto, não só quantidade é importante, mas também qualidade.
“Dormir bem, seja em quantidade como em qualidade, evita o registro de
problemas futuros no desenvolvimento da criança. Se não há sono reparador, pode
haver consequências diurnas como queda no desempenho escolar, desatenção,
irritabilidade e até mesmo agressividade”, alerta a Otorrinolaringologista
especializada em Medicina do Sono, Dra. Sandra Doria Xavier.
O problema é que, muitas
vezes, os pais têm dificuldades para impor essa necessidade e fazer com que os
filhos sigam as orientações, resultando em noites mal dormidas e com um tempo
menor do que o recomendado. “Estabelecer uma rotina antes da hora de dormir
ajuda a criança a entender que aquele é o momento de desacelerar. O que fazer
para mostrar isso à criança varia de família para família. Um exemplo é adotar
uma sequência de atividades, como tomar banho, escovar os dentes, colocar o
pijama, cantar ou ler uma história”, orienta Sandra.
Segundo
a médica, uma das principais causas da qualidade inadequada de sono são os
distúrbios respiratórios do sono, como a apneia do sono, caracterizada por roncos,
respiração pela boca, babação no travesseiro, entre outros problemas.
Vida normal durante o dia e
cuidados especiais no período da noite, essa é a indicação da profissional para
ajudar a estabelecer uma rotina à criança. “Ensiná-los o que é dia e o que é
noite é uma tarefa que deve começar desde cedo, de preferência já na segunda
semana de vida. Não precisa mudar a rotina da casa durante o dia, ou seja, a
família deve mantê-la iluminada e não evitar barulhos da rotina doméstica, como
o telefone, as conversas, as visitas, o liquidificador ou o aspirador de pó.
Porém, quando estiver próximo ao horário de dormir, evite brincadeiras
agitadas, aparelhos eletrônicos, barulhos e diminua as luzes. Quanto mais calmo
o ambiente estiver, melhor para a criança, que entenderá que aquele é o momento
de descansar”, revela a Otorrinolaringologista.
A mudança de rotina é outro
complicador. Aos finais de semana é comum as crianças acordarem e dormirem mais
tarde, irem para a casa de coleguinhas ou dos avós, enfim, alterações que mexem
com o relógio biológico. “Durante o final de semana cabe aos pais determinar
horários um pouco mais flexíveis, sabendo que o ideal é não fugir muito
daqueles habitualmente praticados. Quanto mais exceções a família der aos
horários de dormir e acordar, mais difícil é para a criança entendê-los e
incorporá-los. Para retomar a rotina semanal é muito importante conversar com
as crianças e estabelecer regras, mas isso deve fazer parte de um acordo entre
pais e filhos e não uma imposição sem sentido. As crianças, ainda pequenas,
devem começar a entender que faz parte da vida ter tarefas e responsabilidades.
Diálogo sobre a rotina deve ser incorporado junto com diálogo sobre respeito,
empatia, preconceito, entre outros assuntos”, declara a médica membro da
Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial
(ABORL-CCF).
A alimentação também
interfere no sono, por isso é importante estar atento ao que as crianças comem
em horários próximos de deitar. “Quando se faz uma refeição muito gordurosa, de
difícil digestão, isso pode prejudicar o sono. Muito líquido também não é
recomendável, já que a vontade de ir ao banheiro irá despertá-los no meio da
noite. Por isso, o último copo de água deve ser ingerido, preferencialmente,
pelo menos uma hora antes da criança ir para a cama”, explica Sandra Doria
Xavier.
Por fim, a especialista em Medicina do Sono esclarece a
questão dos cochilos no meio do dia. “Até os três anos é comum algumas crianças
ainda dormirem durante o dia. A partir de cinco anos a maioria já não tem essa
necessidade. Porém é importante ressaltar que essa não é uma regra, depende de
cada criança e é importante que se observe as características individuais. Os
cochilos também devem seguir uma rotina, de preferência sempre no mesmo
horário. Geralmente, as crianças preferem fazer isso após o almoço. Evite os
horários das 9h ao meio-dia, que pode postergar a soneca da tarde, e o das 17h
às 20h, que pode atrapalhar a rotina noturna”, finaliza.