Desmistificar a visão distorcida de algumas pessoas
acerca dos
fertilizantes é a principal missão da Nutrientes para a Vida – NPV. A
iniciativa, coirmã da americana Nutrients For Life, almeja esclarecer e
informar a sociedade sobre os benefícios dos fertilizantes na produção dos
alimentos, bem como sobre sua utilização adequada.
A NPV atua somente com informações embasadas cientificamente, de modo a
explicar claramente o papel essencial dos diversos tipos de fertilizantes na
segurança alimentar e nutricional, além de seu efeito multiplicador na
produtividade das culturas.
Sob essa ótica, há de se destacar e esclarecer a importância do cálcio (Ca) e
do magnésio (Mg) – elementos essenciais para a qualidade dos alimentos que
chegam à nossa mesa. O professor Dr. Eduardo Fávero Caires, da Universidade
Estadual de Ponta Grossa, ressalta que o Ca desempenha papel fundamental
para o funcionamento do organismo humano, uma vez que é o mineral responsável
pela construção e manutenção dos ossos. Segundo ele, cerca de 99% do cálcio
presente no corpo humano está armazenado nos ossos e nos dentes, e a
osteoporose é a principal consequência da perda desse nutriente dos ossos.
Já o magnésio, além de melhorar a absorção da vitamina D, auxilia na regulação
do Ca no organismo e sua devida fixação nos ossos. Também é indispensável ao
bom funcionamento dos nervos e dos músculos, desempenhando papel relevante na
contração e relaxamento muscular. Aliás, a falta de Mg pode gerar fraqueza
aguda, cãibras, dores e espasmos musculares.
Para saber mais sobre esses nutrientes, confira a seguir a entrevista com o
professor Dr. Eduardo Fávero Caires.
Qual a importância do cálcio
no desenvolvimento dos produtos agrícolas?
É um nutriente de grande importância para a produção e a qualidade dos produtos
agrícolas. O cálcio é integrante da parede celular e atua na elongação celular,
na maturação dos frutos, na germinação das sementes e na ativação enzimática.
Em condições de deficiência, compromete o crescimento do sistema radicular das
plantas e gera podridões de frutos em culturas que apresentam alta exigência do
nutriente, como é o caso do tomate, da maçã e do amendoim. As podridões
inviabilizam totalmente a comercialização desses produtos.
E o papel do magnésio?
O Mg é de grande importância para o processo fotossintético das plantas. Ele
participa da molécula de clorofila e está envolvido em reações de transferência
de energia e na regeneração da ribulose difosfato – enzima responsável pela
fixação de CO2 durante a fotossíntese. A deficiência de magnésio ocasiona
clorose (amarelecimento) entre as nervuras das folhas mais velhas e compromete
o processo fotossintético, a síntese de proteínas e a produtividade das
culturas.
Como a fertilização com
cálcio e magnésio pode contribuir para o enriquecimento das plantações de forma
sustentável?
Ambos os nutrientes são componentes de corretivos de acidez do solo e de alguns
fertilizantes. A principal forma de fornecer cálcio e magnésio ao solo é por
meio da aplicação de calcário, utilizado para corrigir os problemas gerados
pela acidez do solo. Os corretivos da acidez do solo mais utilizados na
agricultura são as rochas calcárias moídas, constituídas por misturas de
minerais, como a calcita e a dolomita, que contêm, em suas composições,
carbonatos de cálcio (CaCO3) e/ou de magnésio (MgCO3).
Qual é a relação direta dos
fertilizantes com esses elementos?
O cálcio e o magnésio também podem ser fornecidos por meio da utilização de
alguns fertilizantes que contêm esses nutrientes em sua composição. É o caso do
superfosfato simples e do gesso para o fornecimento de cálcio; e do sulfato de
magnésio, do sulfato duplo de potássio e magnésio e do termofosfato magnesiano
para o fornecimento de Mg. Também podem estar presentes em algumas formulações
NPK, que, aliás, são fontes de macro e micronutrientes.
Como o solo recebe esses
macronutrientes e quais os riscos de contaminação?
A principal forma de suprir o solo com cálcio e magnésio é por meio da
calagem. Os solos brasileiros são, em sua maioria, naturalmente ácidos.
Os solos ácidos limitam a produtividade das culturas, principalmente devido à
deficiência desses nutrientes e à toxidez causada por alumínio (Al) e manganês
(Mn). Ao se fazer a calagem para a correção da acidez do solo aporta-se ao solo
consideráveis quantidades de cálcio e magnésio, que são dependentes do tipo de
calcário utilizado. Dessa forma, o fornecimento desses elementos normalmente
supre a demanda necessária às culturas e
não gera nenhum risco de contaminação ambiental.
Em que casos a fertilização
deve reforçar esses macronutrientes e em que casos eles devem ser evitados?
Em algumas culturas que apresentam maior exigência em cálcio, como tomate, maçã
e amendoim, a fertilização deve ser reforçada. Isso pode ser feito por meio de
aplicações do nutriente no solo e via foliar. Cálcio e magnésio não geram
problemas de toxicidade às plantas. Porém, o magnésio em níveis excessivos pode
prejudicar a absorção de cálcio pelas plantas. O manejo desses nutrientes deve
ser feito de modo a garantir teores adequados e equilibrados no solo. Como
regra geral, para que não ocorram desordens nutricionais mais graves, o teor de
magnésio nunca deve ultrapassar o teor de cálcio no solo.
Gostaria de acrescentar algo?
Gostaria de salientar que os dois nutrientes são de extrema importância para a
agricultura. Com as atuais previsões de mudanças climáticas e aquecimento
global, a importância do cálcio tem sido ainda mais destacada. Isso porque, em
muitas áreas agrícolas, os seus níveis são baixos nas camadas mais profundas do
solo, servindo de entrave ao aprofundamento do sistema radicular das plantas.
Para mitigar os efeitos de estresses causados por períodos de seca, é
fundamental que a planta apresente um sistema radicular vigoroso em maior
profundidade. Porém, para que isso ocorra, o solo precisa apresentar níveis
adequados de cálcio em camadas mais profundas. O cálcio tem função
preponderante na proteção do carbono e na mitigação de estresses causados por
períodos de seca. Para obter altos níveis de produção sem depender das
condições de clima, é fundamental adotar práticas de manejo que aumentem o teor
do nutriente em maiores profundidades no perfil do solo.