Um alerta sobre a
conscientização dos profissionais de saúde
Chama a atenção o alerta dado pelo FDA (Food and Drug
Administration) sobre o uso abusivo da testosterona e, mais especificamente,
como antídoto antienvelhecimento, área em que as evidências disponíveis não
justificam a indicação. De acordo com os dados, o Profº. da Universidade de
Boston, Thomas Perls, alerta para a influência do marketing da indústria, que
acaba determinando as “diretrizes” para o uso desses medicamentos,
aproveitando-se das lacunas deixadas pelas próprias sociedades de
especialistas, que não alertam sobre os riscos.
Caso - Uma criança de dois anos é avaliada pelo pediatra por apresentar um quadro de virilização, com acne discreta, hipertrofia de clitóris e aumento de pilificação. A suspeita clínica foi de carcinoma adrenal. No entanto, os resultados dos exames estavam normais, à exceção da testosterona (354 mg/dL). O diagnóstico foi de contaminação exógena por pomada de testosterona. O pai, um rapaz de 34 anos, apresentou um quadro de fadiga, dores musculares, febre durante cinco dias, sugestivo de mononucleose, mas sem confirmação. Orientado para consultar um endocrinologista, realizou vários exames e recebeu a prescrição de pomada de testosterona, devido à limitação física para praticar esportes.
“Esse é apenas um caso com uma indicação controversa do uso da testosterona. No Brasil, conforme dados da IMS Health, no período de 2011 a 2014, as prescrições de suplementos à base de testosterona e similares aumentaram de 1,85 milhões de unidades prescritas para 2.32 milhões, o que corresponde a um aumento de 28%.
Nos Estados Unidos, o FDA alerta: desde 2001 triplicaram as receitas de testosterona e similares: 1,7 milhão de pessoas têm usado suplementos hormonais. Entre os usuários, estão atletas de alta performance, frequentadores de academias, adolescentes e mulheres. As expectativas são grandes: aumento da massa muscular, melhora da libido, maior disposição, antienvelhecimento, prevenção de osteoporose, entre outros.
Entre os efeitos adversos do uso indiscriminado da testosterona é importante considerarmos a possibilidade de acidente vascular cerebral, tumor de próstata, ginecomastia, infarto e alterações hepáticas.
Proibir a publicidade de produtos “off label” não é o suficiente. É necessária a conscientização dos profissionais de saúde em relação às diretrizes que regem os tratamentos médicos, a necessidade de valorizar as evidências que comprovem os benefícios aos pacientes e os riscos legais de prescrições de medicamentos não licenciados para determinados usos.
A Sociedade Americana de Endocrinologia (The Endocrine Society) publicou um direcionamento clínico (J Clin Endocrinol Metab 95:2536, 2010) que orienta sobre o uso de testosterona nas síndromes de deficiência androgênica, única indicação reconhecida cientificamente. A principal recomendação é a importância do diagnóstico da deficiência, especialmente a presença de sinais e sintomas consistentes e compatíveis com concentrações diminuídas de testosterona. É sugerida uma simples dosagem de testosterona pela manhã, realizada por ensaio clínico adequado, como o teste diagnóstico inicial, que deverá ser repetido para confirmação.
Um dos principais pontos é a importância da avaliação de possíveis contraindicações, como risco de câncer de próstata (avaliar parentes de primeiro grau), apneia obstrutiva do sono e hematócrito elevado.
A única diretriz disponível na AMB, em relação ao uso da testosterona, foi realizada em julho de 2004 (Projeto Diretrizes, AMB, Martits AM, Costa EMF, 2004) com uma acreditação sobre Atualização em Hipogonadismo Masculino Tardio, de 2012 (RAMB vol 60, número 4 e 5) e, embora ainda bastante adequada, precisa ser revista face às utilizações e recomendações que ainda permanecem off label. Será que estas indicações podem ter uso terapêutico? Fica aqui um pedido para essa tarefa, que deverá envolver não só especialistas da Endocrinologia, mas também as sociedades de Geriatria, Urologia, Ginecologia e Medicina Estética, visto o uso frequente de testosterona em mulheres.
Dra. Ângela Maria
Spinola e Castro - endocrinologista e membro da diretoria da Regional São Paulo
da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e MetabologiaCaso - Uma criança de dois anos é avaliada pelo pediatra por apresentar um quadro de virilização, com acne discreta, hipertrofia de clitóris e aumento de pilificação. A suspeita clínica foi de carcinoma adrenal. No entanto, os resultados dos exames estavam normais, à exceção da testosterona (354 mg/dL). O diagnóstico foi de contaminação exógena por pomada de testosterona. O pai, um rapaz de 34 anos, apresentou um quadro de fadiga, dores musculares, febre durante cinco dias, sugestivo de mononucleose, mas sem confirmação. Orientado para consultar um endocrinologista, realizou vários exames e recebeu a prescrição de pomada de testosterona, devido à limitação física para praticar esportes.
“Esse é apenas um caso com uma indicação controversa do uso da testosterona. No Brasil, conforme dados da IMS Health, no período de 2011 a 2014, as prescrições de suplementos à base de testosterona e similares aumentaram de 1,85 milhões de unidades prescritas para 2.32 milhões, o que corresponde a um aumento de 28%.
Nos Estados Unidos, o FDA alerta: desde 2001 triplicaram as receitas de testosterona e similares: 1,7 milhão de pessoas têm usado suplementos hormonais. Entre os usuários, estão atletas de alta performance, frequentadores de academias, adolescentes e mulheres. As expectativas são grandes: aumento da massa muscular, melhora da libido, maior disposição, antienvelhecimento, prevenção de osteoporose, entre outros.
Entre os efeitos adversos do uso indiscriminado da testosterona é importante considerarmos a possibilidade de acidente vascular cerebral, tumor de próstata, ginecomastia, infarto e alterações hepáticas.
Proibir a publicidade de produtos “off label” não é o suficiente. É necessária a conscientização dos profissionais de saúde em relação às diretrizes que regem os tratamentos médicos, a necessidade de valorizar as evidências que comprovem os benefícios aos pacientes e os riscos legais de prescrições de medicamentos não licenciados para determinados usos.
A Sociedade Americana de Endocrinologia (The Endocrine Society) publicou um direcionamento clínico (J Clin Endocrinol Metab 95:2536, 2010) que orienta sobre o uso de testosterona nas síndromes de deficiência androgênica, única indicação reconhecida cientificamente. A principal recomendação é a importância do diagnóstico da deficiência, especialmente a presença de sinais e sintomas consistentes e compatíveis com concentrações diminuídas de testosterona. É sugerida uma simples dosagem de testosterona pela manhã, realizada por ensaio clínico adequado, como o teste diagnóstico inicial, que deverá ser repetido para confirmação.
Um dos principais pontos é a importância da avaliação de possíveis contraindicações, como risco de câncer de próstata (avaliar parentes de primeiro grau), apneia obstrutiva do sono e hematócrito elevado.
A única diretriz disponível na AMB, em relação ao uso da testosterona, foi realizada em julho de 2004 (Projeto Diretrizes, AMB, Martits AM, Costa EMF, 2004) com uma acreditação sobre Atualização em Hipogonadismo Masculino Tardio, de 2012 (RAMB vol 60, número 4 e 5) e, embora ainda bastante adequada, precisa ser revista face às utilizações e recomendações que ainda permanecem off label. Será que estas indicações podem ter uso terapêutico? Fica aqui um pedido para essa tarefa, que deverá envolver não só especialistas da Endocrinologia, mas também as sociedades de Geriatria, Urologia, Ginecologia e Medicina Estética, visto o uso frequente de testosterona em mulheres.
SBEM-SP - Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia do Estado de São Paulo -
Twitter: @SBEMSP - Facebook: Sbem-São-Paulo - http://sbemsp.org.br