O Sebrae
entrevistou medalhistas olímpicos e de outras competições que hoje são
empreendedores. Persistência, disciplina, proatividade, trabalho com metas e
objetivos bem definidos são algumas das características que esportistas levam
para o mundo dos negócios quando decidem empreender
Adriana Samuel, medalhista olímpica por duas vezes,
pioneira nos jogos de vôlei de praia feminino nas Olimpíadas, em 1996, trouxe
medalha de prata, de Atlanta para o Brasil. Nos anos 2000, jogou em Sidney,
trazendo para casa o bronze. Pedro Pizarro, campeão brasileiro de remo, com
apenas 19 anos de idade, foi convocado para a seleção brasileira. Conquistou
várias medalhas, liderou equipes e até hoje treina grandes potências do
esporte. As duas personalidades carregam em comum, além da paixão pelo esporte,
a atitude empreendedora.
Já é uma tradição, de quatro em quatro anos as
Olimpíadas despertarem multidões de expectadores do mundo inteiro para
acompanhar as provas de atletas de excelência. Nesta edição, em Tokyo, são mais
de 12 mil esportistas divididos em 46 modalidades em disputa. Além da emoção e
do orgulho durante a corrida pelas medalhas, o esporte traz consigo diversas lições
que podem ser aplicadas no empreendedorismo. Tanto é que diversos atletas
conseguem estruturar seus próprios negócios, ao longo de suas carreiras,
aproveitando características fortalecidas no mundo do esporte.
A medalhista olímpica Adriana Samuel Divulgação |
Foi assim com Adriana Samuel, a ex-jogadora de
vôlei. Hoje ela administra três negócios: a Escola Adriana Samuel, o projeto
Sem Barreiras, além de uma consultoria em gestão de patrocínios que oferece
para outras empresas e atletas. “Os dois primeiros são projetos sociais que já
eram latentes em mim, desde a época em que eu treinava. O esporte mudou a minha
vida, mudou a vida do meu irmão (Tande) e essa foi uma forma que encontramos de
retribuir para a sociedade um pouco disso. A ideia é ensinar, dar oportunidade
para tantas pessoas que sonham em ser atletas. Já o trabalho de consultoria,
surgiu organicamente. Eu costumo dizer que o vôlei foi a minha faculdade. No
começo, a gente não tinha um empresário para buscar patrocínio, treinadores,
terapeutas. Eu fazia isso sem imaginar que se tornaria meu ofício hoje em dia”,
relembra Adriana.
De acordo com a atleta, o esporte transformou sua
mentalidade, despertando diversos potenciais que ela desconhecia. “Me descobri
no esporte, descobri capacidades, descobri paixões. O trabalho que faço hoje
pelos atletas, eu fazia por mim e por minha equipe. Tem muito da veia
empreendedora nisso. A disciplina, a iniciativa, a tomada de decisões, o apreço
pela qualidade e pela eficiência são todas características de empreendedores e
de esportistas também”, analisa Adriana.
“Empreender no Brasil não é fácil, porque você tem
um sonho, você imagina sua empresa resolvendo problemas, mas precisa tirar
aquelas ideias do papel. São vários nãos ao longo da história, é por isso que
você precisa acreditar muito. Ter muita persistência, planejamento, metas e
trabalhar com objetivos reais e bem definidos. Tudo isso eu trouxe do esporte.
A vida do atleta também é assim. Imagina, ele não pode desistir na primeira
derrota, achar que está errado e parar. É preciso recalcular a rota e
continuar”, indica a medalhista olímpica e empreendedora.
Superando desafios do cotidiano
Dono de uma das maiores academia de remo olímpico
da capital federal, a @Crossrowing, o campeão brasileiro Pedro Pizarro, também
leva consigo diversas lições do esporte para a vida empreendedora. “Com certeza
há muitas similaridades. A gente brinca que o atleta mata um leão por dia. Tem
uma prova de remo com 2km, que eu digo para os alunos que quem completa ela é
capaz de resolver qualquer problema na vida. A realidade é que o esporte te
prepara não só para as provas, mas para os desafios do cotidiano mesmo, as
pessoas ganham mais sabedoria com a vivência dos treinos”, afirma Pizarro.
Ainda durante sua carreira no remo, Pedro teve a
oportunidade de comprar uma tradicional escola do esporte em Brasília, com
apenas 21 anos. “Na época eram 30 alunos, mas quando eu assumi com um amigo, muitos
ficaram receosos com a nova administração e deram baixa na matrícula. Eu
comecei então com 15 alunos que acreditavam na nova história que viria. Em três
anos nos tornamos a maior escola de remo do Brasil, com mais de 400 matrículas.
O tempo passou e esse projeto ficou estável, não me trazia tantos desafios.
Vendi o negócio e dei uma pausa”, conta ele.
Pedro Pizarro e alunos no Lago Paranoá, em Brasília Divulgação |
Após dois anos de reflexão e planejamento, Pedro Pizarro retornou ao mundo dos negócios, inspirado nas dinâmicas norte-americanas de treinos coletivos. “A Crossrowing nasceu com uma pegada mais dinâmica, com treinos coletivos, horários marcados, gerando um clima de parceria. As equipes se entrosam, há muita sinergia. Acaba que o ambiente de treino se torna uma comunidade, existe uma motivação a mais. Nós misturamos o remo com o crossfit e resultado tem sido fantástico. Hoje temos três atletas sondados pela seleção brasileira, já foram convidados para jogar pelo Flamengo, no Rio de Janeiro e venceram vários campeonatos. Então, eu acho que o esporte me deu muito disso, de parar, analisar, planejar, me inspirar, não desistir e buscar inovar”, diz ele.
Para a analista de competitividade do Sebrae,
Hannah Salmen, as capacidades empreendedoras não são usadas somente em
negócios, mas em toda a trajetória de vida das pessoas. “Praticar esportes
profissionalmente é também uma forma de empreender. O esporte e o
empreendedorismo possuem uma convergência muito maior do que pode aparentar num
primeiro momento, pois em ambos é fundamental que se tenha disciplina, foco,
metas bem definidas, perseverança e principalmente ética. Via de regra o
esporte te ensina competir, ou seja, a perder e, mais importante, te ensina a
ganhar e como ganhar do jeito certo, conhecendo suas potencialidades e pontos
de melhoria e respeitando o seu oponente, que no mercado é o seu concorrente”,
declara.
Hannah comenta que no caso do empreendedorismo
social, as competências empreendedoras são igualmente evidentes. “Ainda há
muito a ser transformado na sociedade, tanto o empreendedorismo quanto o
esporte podem fazer isso, desde a infância até a vida adulta. Porém, ainda
existe pouco apoio na promoção dos esportes (especialmente os olímpicos), o que
requer além de resiliência, uma constante prospecção de oportunidades, fontes
de apoio e capacidade de inovação para que sua iniciativa seja bem-sucedida”,
complementa.