A tortura psicológica é uma forma devastadora de violência. Ela destrói a autoestima, a autoconfiança e o amor-próprio das vítimas por meio de ataques sutis. Raramente a pessoa que sofre essa violência reconhece os impactos dela em sua saúde mental.
Acontecimentos envolvendo conflitos no BBB21
geraram uma discussão necessária acerca deste tema. Entretanto, como a maioria
das pessoas está acostumada a associar violência somente a socos e pontapés,
pode ser difícil identificar reais agressões contra o psicológico.
O que é tortura psicológica?
Esta forma de tortura consiste em um conjunto de
agressões sistemáticas ao fator psicológico das vítimas. Tem objetivo de causar
sofrimento sem recorrer ao contato físico para intimidar, manipular ou punir.
A literatura sobre tortura psicológica no Brasil
ainda é escassa, porém, podemos nos embasar na teoria oriunda de autores e
instituições estrangeiras. De acordo com a Organização das Nações Unidas
(1987), tortura, seja física ou psicológica, é todo ato com a intenção de
causar dor ou sofrimento intencionalmente.
Essa descrição faz referência à tortura exercida
no contexto de guerras e sequestros. Todavia, pode ser trazida para o âmbito
dos relacionamentos interpessoais , uma vez que o agressor psicológico sempre possui um
objetivo oculto relacionado à vítima.
Ele pode não ter ciência de que suas ações
caracterizam violência psicológica. Ainda assim, escolhe ativamente causar
sofrimento mental e emocional ao indivíduo que desgosta.
Tortura psicológica é crime?
A Lei 9.455/97 reconhece que o crime de tortura
não se trata somente de abusos físicos, englobando situações que resultam em
sofrimento mental ou psicológico. Porém, para configurar crime, é necessário
que sejam identificadas pelo menos uma das seguintes situações:
• tortura com o fim de incitar alguém a prestar
informações ou declarações pessoais ou de terceiros;
• tortura para provocar ação ou omissão de
natureza criminosa;
• tortura em razão de discriminação religiosa ou
racial.
Caso algum desses elementos não faça
correspondência à acusação de tortura psicológica, os atos violentos ainda
podem configurar outro tipo de crime, como constrangimento ilegal ou ameaça.
Como identificar a tortura psicológica?
A identificação desse tipo de violência é
desafiadora porque normalmente as agressões são sutis. Disfarçadas de
comentários ligeiramente maldosos ou indiretos, os abusos são proferidos com
frequência pelo agressor. A vítima, confusa com as atitudes do mesmo, não sabe
muito bem como responder a eles.
Outra característica que dificulta a
situação é o vínculo entre o agressor e a vítima. Não raro a tortura psicológica é cometida por parceiros,
chefes, amigos, colegas de trabalho, familiares e outras pessoas do círculo
social da vítima.
Por conta do grau de afeição, quem sofre a
agressão leva tempo para assimilar o comportamento do agressor à violência.
Será que fulano seria mesmo capaz de fazer uma coisa dessas?
Em alguns casos, os abusos psicológicos não são
nada sutis.
Qualquer pessoa pode perceber as intenções pouco
inocentes do agressor, bem como o semblante e a postura de derrota da vítima. Ainda
assim, o agressor se esconde atrás de justificativas. Admite estar somente
sendo "sincero" ou afirma que a vítima merece aquele tratamento em
razão de suas ações.
Tipos de tortura psicológica
Para identificar os abusos psicológicos, é
preciso prestar atenção na conduta do agressor e nas justificativas utilizadas
para isentá-lo da culpa.
Confira abaixo formas comuns de tortura
psicológica:
1. Humilhações públicas e privadas
O abusador humilha a vítima por meio de
comentários que, a princípio, parecem pouco ofensivos. "Você não é
muito bom com isso, né?" aos poucos se transformam em "Você
não é muito inteligente, né?" para, enfim, chegar a "Você é
muito burro!".
A saúde mental de quem é alvo dessa conduta hostil é minada
diariamente. As humilhações podem ser feitas tanto em público quanto em um
ambiente íntimo. Não raramente o agressor ataca os pontos fragilizados da
vítima, ferindo-a onde dói mais.
2. Chantagem emocional
A chantagem emocional consiste em atitudes
manipuladoras para inverter a culpa de uma situação ou conseguir algo da
vítima. É um método de manipulação que costuma ser ignorado por não
parecer tão relevante. Todavia, é tão prejudicial quanto outras formas de
abuso.
3. Perseguição sistemática
Há agressores psicológicos que não desistem até
conseguirem o que desejam. Humilhar, xingar e constranger a vítima é um
alimento para o seu ego.
Assim, um agressor pode perseguir a vítima para
obter a sensação de superioridade que tanto deseja. Faz comentários hostis e a
ridiculariza na frente de amigos e familiares para manchar a sua imagem.
4. Distorção da realidade
Outra forma clássica de abuso psicológico é
distorcer a palavra da vítima para que sua concepção da realidade fique confusa.
Essa tática também pode ser conhecida como gaslighting, e a estimula a duvidar de sua capacidade de interpretação e
acreditar nas palavras do agressor.
As palavras da vítima também podem ser
distorcidas para quem estiver ao redor. Dessa forma, o agressor se consolida na
posição de detentor da verdade.
5. Ridicularização
Quem comete a agressão psicológica não deixa nada
passar. Ele ou ela critica a personalidade, o modo de falar, as roupas, as
escolhas, as opiniões, as crenças religiosas e até a família da vítima
constantemente.
6. Restrição da liberdade de expressão
A vítima é privada de expressar-se abertamente
porque suas opiniões são consideradas "impróprias" ou
"infames". Ela pode até ser ridicularizada quando pratica a sua
religião ou os costumes tradicionais da região onde nasceu. Com o tempo, a
vítima sente que não possui permissão para ser quem é e passa a seguir as
convenções impostas pelo agressor.
7. Isolamento
Para elevar a eficácia de suas táticas
manipuladoras, a pessoa que agride psicologicamente isola a vítima de outras
pessoas. O isolamento pode acontecer por meio de "fofocas" sobre a
vítima para outros indivíduos, distanciamento social quando ela adentra o
cômodo e, como dito, restrição da expressão.
Quais as consequências dessa violência
para a saúde mental?
Qualquer forma de violência (até mesmo a física)
causa impactos na saúde mental. Como as agressões psicológicas visam
exclusivamente danificar o estado emocional da vítima, contudo, as
consequências são mais acentuadas.
As constantes humilhações fazem a vítima duvidar
de si mesma. Será que ela merece passar por isso? Será que o agressor tem razão
quando a acusa de ser uma pessoa ruim?
Esses questionamentos incitam pensamentos
negativos e autodepreciativos. Consequentemente, a
vítima passa a desgostar de si mesma.
Esse é justamente o objetivo do agressor. Quando
a vítima está com a autoestima baixa, cai facilmente em suas armadilhas. Ela
aceita a manipulação e os constrangimentos sem lutar contra eles.
Além disso, a pessoa que sofre tortura
psicológica pode desenvolver uma série de transtornos mentais, como depressão, ansiedade, síndrome do pânico , estresse pós-traumático, entre outros.
Qualquer interação com o agressor requer imenso
esforço para ela. A vítima passa a temer encontrar o seu algoz ou ser
confrontada por ele, então, escolhe ficar em silêncio para preservar a sua
saúde mental.
Quando o seu estado psicológico se encontra muito
deteriorado, ela pode ter um ataque de pânico só de pensar nessas
possibilidades.
Abaixo, confira outras maneiras como o estado
psicológico das vítimas pode ser afetado:
• sentimento constante de infelicidade;
• paranoia;
• medo excessivo;
• esgotamento psicológico e emocional;
• comportamento defensivo;
• falta de confiança;
• dificuldade para se expressar;
• isolamento social;
• crise de choro;
• conduta retraída;
• irritabilidade;
• insônia;
• sintomas psicossomáticos , como alergias de pele, gastrite e enxaqueca.
Como lidar com a tortura psicológica?
O que fazer se eu ou alguém próximo estiver
sofrendo tortura psicológica?
Primeiramente, é preciso buscar se afastar
do agressor. Quando um cônjuge ou
um familiar que reside na mesma residência é o abusador, o distanciamento pode
ser difícil. Portanto, passe alguns dias na casa de alguém de confiança ou se
afaste quando a pessoa adentrar o cômodo.
Esse período de afastamento vai ajudá-lo a pensar
com clareza, sem as influências do indivíduo hostil ou de terceiros.
Em seguida, procure ajuda para reerguer a sua
autoestima e curar as feridas emocionais causadas pelas agressões constantes.
Ela pode vir de amigos ou de familiares, preferencialmente daqueles cujo
conhecimento da situação é vasto.
A ajuda psicológica também é extremamente
necessária no processo de recuperação. A
psicoterapia ajuda as vítimas que se encontram presas a relacionamentos
abusivos ou que não conseguem cortar o vínculo com o agressor e reconstruir sua
autonomia.
Com o apoio do psicólogo, as vítimas desenvolvem
a força necessária para reavaliarem as suas vidas e tomarem decisões
objetivando o seu bem-estar.
O autoconhecimento proporcionado pelo acompanhamento psicológico é outro
fator que auxilia a vítima a combater as humilhações e xingamentos
proferidos pelo abusador, os quais podem permanecer em seu inconsciente por
um longo período.
Assim como pessoas doentes fisicamente buscam
ajuda médica para se curarem, quem está com a saúde mental deteriorada precisa
buscar ajuda psicológica.
Uma das lições que podem ser aproveitadas neste
momento é a necessidade de fazer psicoterapia para cuidar da saúde da mente e,
assim, aproveitar cada oportunidade sem se engajar em conflitos com terceiros.
A Vittude pode ajudar nessa! Em nossa plataforma de terapia online , pacientes são conectados
com psicólogos especializados em todo o tipo de problema emocional e
psicológico.
Tatiana Pimenta - CEO e fundadora da Vittude. Engenheira que se apaixonou
pela Psicologia, pelo estudo constante do comportamento humano e da felicidade.
Com mais de 15 anos de experiência profissional, foi executiva de sucesso em
empresas de grande porte como Votorantim Cimentos e Arauco. Única brasileira
finalista da premiação internacional Cartier Women's Initiative Awards em 2019.
Faz terapia há mais de 8 anos, é maratonista amadora e praticante de
Mindfulness. Encontrou na corrida de rua e na meditação fontes de disciplina,
foco, felicidade e produtividade. É colunista dos portais Money Times, Startupi
e Superela.