Com
o retorno das aulas presenciais, percebe-se o aumento dos casos de ansiedade,
agressividade, bullying e indisciplina em sala de aula. Como lidar com essa
realidade, cada vez mais presente?
Desde 2015 que setembro é batizado no Brasil de Setembro Amarelo. Em pauta estão os assuntos relacionados à saúde mental com o objetivo de conscientizar a população a respeito do suicídio, uma das 10 principais causas de mortalidade em todo o mundo. A campanha, criada pelo Centro de Valorização à Vida (CVV), Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e Conselho Federal de Medicina (CFM) teve esse ano como lema “A vida é a melhor escolha”.
Nos dias atuais, a saúde mental é pauta de muitas conversas e assunto a ser debatido em família e até no trabalho. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) uma pessoa saudável seria aquela capaz de usar suas habilidades para recuperar-se do estresse rotineiro e reconhece esse movimento como um percurso pessoal. Assim como a saúde física, a mental requer manutenção e acompanhamento cotidianos para que a pessoa tenha condições e recursos para conseguir passar por obstáculos e imprevistos.
E esse é um tema que atravessa todas as idades e ambientes, chegando, inclusive, dentro dos muros escolares. Não é de hoje o aumento das crises de ansiedade entre os alunos e dos casos de burnout entre os funcionários. Trazendo implicações não só individuais – como queda do desempenho acadêmico – mas também para o convívio coletivo e o clima escolar, como são os casos de agressividade, bullying e indisciplina em sala de aula. E, em muitos casos, adolescentes chegam às vias de fato, tirando a própria vida. “O suicídio é a segunda maior causa de morte entre adolescentes (de 10 a 19 anos) em todo o mundo, ficando atrás apenas dos acidentes de trânsito. Por isso, é preciso analisar o papel das escolas e educadores na prevenção ao suicídio juvenil e, principalmente, as ideologias por trás das pesquisas convencionais sobre o tema. Afinal, são elas que apoiam as decisões dos gestores escolares e professores referentes às estratégias de prevenção”, analisa Caio Lo Bianco, mestre em educação pela Universidade Columbia, em Nova York, e diretor do Laboratório Inteligência de Vida (LIV).
Para muita gente, a saúde mental está relacionada à felicidade, ao bem-estar e à imagem de alguém sempre sorrindo e cheio de disposição. Talvez seja aí que more o grande perigo: esse tema não é sinônimo de felicidade. Pelo contrário, é normal intercalar momentos de alegria e de tristeza ao longo da vida. Para Caio, o papel do adulto, seja ele familiar ou educador, é demonstrar atenção e uma escuta responsável quando a criança ou o adolescente está passando por um momento difícil. “Quem sofre muitas vezes comunica esse sofrimento de alguma forma a alguém. Por isso a importância de existirem ambientes seguros e acolhedores para que os sofrimentos possam ser colocados e os apelos escutados. Outro ponto importante é entender que esses apelos nem sempre serão verbalizados, muitas vezes eles chegam como encenações de fala.. ou seja, sob forma de comportamentos, por exemplo, os chamados transtornos de conduta do adolescente” explica.
Para quem está de fora, é possível ficar atento em alguns comportamentos e que servem para todas as idades. Mudança repentina de humor e de hábitos alimentares, isolamento social, baixo rendimento escolar e faltas frequentes, baixa autoestima e agressividade são algumas delas. Caio aposta ainda na criação de redes de apoio. É necessário identificar quem são os adultos de confiança daquele aluno. “O suicídio ocorre quando o adolescente não se faz mais ouvido pelo outro… ou seja, ele nao enxerga mais lugar pra ele na quela sociedade. Por isso a importância de criar relações de confiança, que tornem as condições de sua fala possíveis, espaços de menos julgamento, que possibilitam que o jovem reconheça as questões que ele está enfrentando”, observa Caio. Esse é um trabalho realizado pelo LIV, ao promover conversas sobre quem são essas pessoas, especialmente os adultos de confiança.
E ele
vai além. “Quando o suicídio é considerado pelas escolas como algo anormal, que
acontece a partir da insanidade, os alunos identificados como “potenciais
suicidas” também são considerados como anormais. No entanto, se as escolas
reconhecessem o suicídio como um problema social e constituinte do sujeito,
talvez uma abordagem diferente fosse possível. Com isso, não pretendo invalidar
a existência de problemas mentais e a importância dos medicamentos, mas
problematizar o que está em jogo quando o suicídio juvenil é reduzido a uma
preocupação médica ou à insanidade ”.
Cuidar de quem cuida - Se de um lado os números de casos entre alunos vem aumentando, do outro, e como consequência direta, educadores e funcionários também estão atentos com suas próprias emoções. Com altas demandas de resultado, novas organizações curriculares e elevadas cargas de trabalho, não é difícil encontrar profissionais da educação que apresentem sintomas de exaustão física e emocional.
Por
isso, é preciso caminhar para o reconhecimento de que, para cuidar dos alunos,
é preciso cuidar da equipe escolar. E na tentativa de amenizar esses
sofrimentos foi criado o Guia do Movimento LIV: Caminhos para cuidar da saúde mental dos alunos, para que educadores e famílias se sintam mais capazes de
administrar essa questão em seu dia a dia.
LIV - Laboratório
Inteligência de Vida