A gravidez na adolescência, ausência de pré-natal, doenças gestacionais e desinformação são os principais motivos para os altos índices de partos prematuros no Brasil. Freepik |
Últimos dados divulgados pelo DataSUS, de 2023, mostram quase 40 mil partos prematuros em adolescentes; ONG Prematuridade.com destaca as principais consequências da gestação precoce e apoia a campanha do Ministério da Saúde
A primeira semana do mês de fevereiro (entre os dias 1 e 8) é
marcada pela campanha nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência.
Instituída pelo Ministério da Saúde, a data tem como objetivo conscientizar a
sociedade sobre os desafios e impactos da gravidez precoce, entre eles, a
prematuridade.
Dados coletados pelo Sistema de Informações sobre Nascidos
Vivos (SINASC)¹, divulgados no mês de dezembro, e referentes à 2023, revelam
que, de um total de 2.537.012 nascimentos registrados no país naquele ano, a
taxa média de prematuridade foi de 11,95%*. As informações, analisadas por
região e unidade da federação, mostram variações significativas tanto no
percentual de prematuros quanto no número absoluto de nascidos vivos.
Os dados trazem outro dado alarmante: meninas que se tornaram mães
entre 10 e 14 anos somaram 2.608 partos de bebês prematuros, enquanto, na faixa
etária de 15 a 19 anos, o número aumenta significativamente: 37.237 partos de
bebês prematuros (abaixo de 37 semanas de gestação) em todo o território
brasileiro. A amostra por regiões aponta que o total de bebês prematuros nascidos de
mães entre 10 e 14 anos, nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, é de 1.613 —
quase o dobro do número registrado nas outras três regiões brasileiras juntas
(Sul, Sudeste e Centro-Oeste), que somam 995 partos prematuros.
A relação entre a gravidez na adolescência, questões financeiras e
desenvolvimento acadêmico é destacada pela diretora executiva da Associação
Brasileira de Pais, Familiares, Amigos e Cuidadores de Bebês Prematuros – ONG
Prematuridade.com, Denise Suguitani. “Essa adolescente acaba, muitas vezes,
abandonando os estudos, o que prejudica seus projetos de vida como um todo.
A gravidez precoce é uma grande bola de neve e requer a implementação de
políticas públicas efetivas direcionadas a essa população, para um combate
eficaz”, ressalta.
Outra questão são desafios que podem ser enfrentados a longo prazo
por esses bebês, como sequelas motoras e cognitivas. A prematuridade impacta,
ainda, os custos no sistema de saúde, já que a internação em unidades de
terapia intensiva neonatal envolve uma série de tratamentos especializados,
como ventilação mecânica, monitoramento constante e administração de
medicamentos.
De acordo com um estudo do Fundo das Nações Unidas para a
Infância (UNICEF, 2021), fatores como gravidez na adolescência, ausência de
pré-natal, doenças gestacionais e desinformação são os principais motivos para
os altos índices de partos prematuros no Brasil. A diretora ressalta que as disparidades
regionais evidenciam o quanto é relevante olhar com mais atenção para a
influência de determinantes sociais, como fatores econômicos, culturais e
étnico-raciais, no acesso e na qualidade dos cuidados de saúde.
“Precisamos estudar o que os dados nos dizem e atuar com mais
efetividade, especialmente nos locais que padecem com assistência pré-natal e
neonatal precárias, como Roraima, que tem mais de 18% de nascimentos
prematuros, taxa que supera a de países da África Subsaariana, uma das regiões
mais pobres do mundo. A prematuridade é uma emergência social. Todos somos
afetados, e precisamos unir esforços para garantir melhorias para a população”,
salienta Denise.
Comparativo Histórico - Um levantamento da ONG Prematuridade.com,
com base em dados do DataSUS, analisou os índices de prematuridade entre 2017 e
2021, em estados e idades das mães. A média nacional passou de 10,95% em 2017
para 11,57% em 2021. O Acre liderou o período analisado com a maior taxa
de prematuridade (14,02%), seguido por Roraima (13,98%) e Amapá (13,82%); Rio
Grande do Norte (12,79%) e, por fim, o Rio Grande do Sul (12,04%).
A análise dos dados também revelou uma tendência de aumento na
taxa nacional de prematuridade. Em 2017, o Brasil registrou uma média de 10,95% de
nascimentos prematuros. No ano seguinte, o percentual subiu para 11,05%. Em
2019, a média evoluiu para 11,42%; em 2020, atingiu 11,45%; e, em 2021, chegou
a 11,57%.
A prematuridade é a principal causa de mortalidade infantil antes
dos cinco anos de idade. O Brasil está no ranking global entre os dez países
com partos prematuros, que resultam em uma taxa de mortalidade infantil 10
vezes maior do que a causada pelo câncer. Quando se trata de gravidez
precoce, os riscos aumentam.
Dados do Ministério da Saúde revelam que durante o primeiro ano de
vida, filhos de mães adolescentes apresentam uma taxa de mortalidade infantil
de duas a três vezes maior do que a de filhos de mães adultas, além de um
aumento de seis vezes na incidência da síndrome da morte súbita.
Diante desse cenário, a diretora da entidade ressalta que muitas
meninas em situação de vulnerabilidade, que enfrentam uma gravidez na
adolescência, não recebem o acompanhamento médico adequado durante a gestação.
Outro fator relevante para a saúde dessas jovens mães é o alto risco da
gravidez para a gestante. “Isso implica uma maior probabilidade de mortalidade
materna, pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, hipertensão, anemia, infecções
urinárias, entre outros problemas”, explica Denise.
Notas¹: Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC) é gerenciado pelo Ministério da Saúde do Brasil, criado para monitorar e registrar os nascimentos no país. Dados finais disponíveis até 2022 e preliminares referentes a 2023. Data da atualização dos dados 08/2024.
*Dados sobre nascidos vivos no Brasil em 2023
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