Setor de saúde é responsável pela emissão de cerca de 5% de CO2 no mundo, ONA destaca que acreditação contribui para a redução da pegada do carbono ao estabelecer padrões de qualidade e segurança nas instituições
A gravidade da crise climática causada por
catástrofes ambientais cada vez mais constantes tem despertado uma preocupação
em escala mundial. As emergências do clima não causam apenas impactos sociais e
econômicos, mas afetam diretamente a saúde da população. E quando se fala em
saúde, atualmente, o setor tem uma contribuição significativa na pegada do
carbono. Segundo a ONG Health Care Without Harm,
organização não governamental que trabalha para transformar os cuidados de
saúde em todo o mundo para reduzir sua pegada ambiental, a área de saúde é
responsável por 4,4% das emissões de gases do efeito estufa no mundo.
As estatísticas também mostram que a pegada
climática global de saúde é equivalente às emissões anuais de gases de efeito
estufa de 514 usinas movidas a carvão e comparam que se o setor de saúde fosse
um país, seria o quinto maior emissor do planeta. Ainda de acordo com o
relatório da ONG internacional, 71% das emissões de saúde são
atribuídas à cadeia de suprimentos, como produção, transporte e descarte de
bens e serviços.
A preocupação com o assunto não deve ser
vista apenas como um alerta, mas como um chamado à ação. É o que propõem os
padrões e boas práticas ESG - Environmental, Social and Governance
(Ambiental, Social e de Governança).
Neste contexto, a Organização Nacional de
Acreditação (ONA) e outras entidades similares vêm desempenhando um papel
importante na promoção da sustentabilidade no setor da saúde através de novas
certificações que incentivem práticas ambientalmente sustentáveis nas instituições.
A organização destaca que a acreditação pode contribuir para a redução de
emissões de gases do efeito estufa, ao incentivar a otimização dos processos
assistenciais e a redução da variabilidade clínica. “Ao estabelecer padrões de
qualidade e segurança, a acreditação promove a eficiência operacional, o que
pode levar à redução do tempo de internação e da realização de exames
desnecessários”, explica, a gerente geral de operações da ONA, Gilvane Lolato.
Ela destaca ainda, que a organização tem
trabalhado constantemente e incluído critérios ambientais nos padrões de
acreditação, através da revisão dos padrões, como gestão de resíduos, consumo
de energia e água, e emissões de gases do efeito estufa, dentre outros. A
parceria com outras entidades e organizações, como Ministério do Meio Ambiente
e associações médicas, para desenvolver ferramentas e recursos que auxiliem as
instituições de saúde a implementarem práticas sustentáveis, também tem sido
feita. “A ONA também tem investido na promoção de eventos e treinamentos,
como workshops e cursos para capacitar profissionais da saúde sobre a
importância da sustentabilidade e as melhores práticas para reduzir o impacto
ambiental”, acrescenta.
Gestão de dados e redução de desperdícios – A organização vê um papel fundamental para a gestão de dados e a redução de desperdícios na construção de um futuro mais sustentável para a saúde, uma vez que a gestão de dados e a redução de desperdícios são fundamentais para a criação de sistemas de saúde mais resilientes e ambientalmente responsáveis.
“Através da análise de dados, é possível
identificar oportunidades de melhoria e implementar ações mais eficazes para
reduzir o impacto ambiental. A redução de desperdícios, por sua vez, contribui
para a otimização dos recursos e a redução de custos, além de diminuir a
geração de resíduos”, explica Gilvane.
Sustentabilidade
na saúde foi destaque na Conferência da ISQua em Instambul: Um
documento publicado em 2024, durante a Convenção Anual da ISQua, destaca a
importância da sustentabilidade e serve de orientação para as associações
acreditadas. De acordo com a gerente, se trata de um documento, elaborado pela
ISQua em conjunto com o Centro de Sustentabilidade de Genebra e que contou com
a participação da ONA.
O documento traz uma reflexão sobre a
urgência dos sistemas de saúde resilientes em toda a questão de mudança do
clima. “Foram discutidos alguns pontos como os caminhos práticos para que as
associações possam estruturar e colocar, em prática, ações para tentar reduzir
o impacto ambiental. Também detalha o papel da acreditação e o quanto ela pode
ajudar na condução da reorganização interna com ações assertivas. Entre outros
pontos principais, comenta ainda educação e defesa das partes sustentáveis “,
explicou.
Atualização do Manual Brasileiro de Acreditação ONA
O primeiro Manual Brasileiro de Acreditação da ONA foi lançado em 2001. O documento deve ser atualizado a cada quatro anos, por meio de levantamentos que servem como parâmetro para a organização avaliar se os requisitos e padrões exigidos estão claros para as instituições. Além disso, essas revisões permitem identificar melhorias que podem ser implementadas para auxiliá-las em seu trabalho.
A atualização está em processo de revisão e
será apresentada na versão 2026 do manual. Esse trabalho foi baseado em um
levantamento realizado a partir da versão de 2022, que incluiu mais de três mil
avaliações realizadas entre janeiro de 2022 e junho de 2024. A iniciativa
contou com a participação das 1.400 organizações acreditadas até aquele
período. Durante a pesquisa, aspectos como sustentabilidade, impacto ambiental
e mudanças climáticas ganharam destaque no levantamento, incluindo os seguintes
pontos:
-Diretrizes:
refletem o padrão de quanto cada organização de saúde consegue estruturar
uma ação com responsabilidade ambiental, focada no impacto que gera. Este
tópico também destacou a questão da produção de resíduos e política reversa.
-
Contingências: representam o quanto as organizações de saúde conseguem
executar os planos e preparar as pessoas para os impactos ambientais. Neste
tópico, outros dados que também dizem respeito a geração de resíduos, ciclo de
vida, descarte e reutilização de equipamentos foram avaliados.
-
Social: (impacto ambiental e responsabilidade social): foram
inclusos tópicos como, diversidade e inclusão, direitos humanos,
saúde e bem-estar. Já no quesito ambiental: redução e pegada de carbono,
redução de reciclagem de resíduos, avaliação de impacto ambiental, entre
outros.
Gilvane destacou que após o levantamento
elaborado para a revisão do manual três iniciativas já foram adotadas pela ONA
com relação ao tema mudança de clima na saúde e estão em fase de implementação
juntamente com a revisão, são eles:
- Reforço da Governança, Social Ambiental e
Pessoas na Seção da liderança dos manuais ONA;
- Promoção de encontros para apresentação
de ações e boas práticas entre clientes e acreditados ONA;
- Recomendação e publicação de
recomendações e referência externas a respeito do assunto.
Desafios
e soluções na implantação dos padrões de sustentabilidade - A ONA
ressalta que a adoção de padrões de sustentabilidade no setor de saúde enfrenta
diversos desafios. Entre eles, destaca-se o custo de implementação de medidas sustentáveis,
que pode demandar investimentos iniciais significativos, representando um
obstáculo para muitas instituições. “A complexidade do setor também é um ponto
crítico, já que a área da saúde é altamente diversificada e heterogênea,
dificultando a definição de padrões universais. Além disso, a falta de
conhecimento é uma barreira importante, pois muitos profissionais de saúde
ainda não estão familiarizados com questões ambientais e práticas recomendadas
para reduzir o impacto ambiental das instituições", complementa Gilvane.
Entre os exemplos de medidas a serem
adotadas a ONA sugere:
-
Gestão de resíduos: Implementação de programas de coleta
seletiva, redução da geração de resíduos e tratamento adequado dos resíduos
perigosos.
-
Consumo de energia: Utilização de fontes de energia renovável,
otimização do consumo de energia em edifícios e equipamentos, e implementação
de sistemas de gestão da energia.
-
Consumo de água: Redução do consumo de água através de medidas como a
reutilização da água e a instalação de sistemas de irrigação eficientes.
-
Aquisição sustentável: Priorização de produtos e serviços com
menor impacto ambiental na cadeia de suprimentos.
-
Mobilidade sustentável: Incentivo ao uso de
transportes públicos e não motorizados pelos colaboradores e pacientes.
Cenário de acreditação no Brasil - Das mais de 380 mil organizações de saúde instaladas no País, segundo CNES (Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde), 1932 são acreditadas. Deste total, a ONA é responsável por 72,1% no mercado de acreditação, o que corresponde a mais de 1.500 organizações de saúde acreditadas, dos quais 422 são hospitais. Deste montante, 0,45% das instituições de saúde estão certificadas no Brasil. Considerando que 68,4% (917) são de gestão privada; 22,2% (298) são de gestão pública; 8,3% (111) de gestão filantrópica e 0,1% (gestão militar).
Atualmente, 61% das instituições acreditadas pela ONA estão concentradas na região Sudeste. O Sul é responsável por 12,7%; Nordeste 12,1%; Centro-Oeste, 11,4% e Norte por 2,8%. www.ona.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário