Pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil mostra que em 28% das instituições já acontece a proibição total
Seis em cada 10 escolas brasileiras de ensino
fundamental e médio, tanto urbanas quanto rurais, restringem o uso de
celulares, com limitações de horários e espaços específicos. Em 28% das
instituições, o uso é completamente proibido, segundo pesquisa do Comitê Gestor
da Internet no Brasil (CGI.br). O tema tem ganhado força no Senado, com a
tramitação em urgência do primeiro projeto de lei (PL 104/15) que limita
celulares em salas de aula. Em São Paulo, a lei estadual nº 18.058 sancionada
em dezembro de 2024 já proíbe o uso dos aparelhos em escolas públicas e
privadas.
O mestre em Inteligência
Artificial e Ética, educador e consultor da Escola Lourenço Castanho, Alexandre
Le Voci Sayad, destaca que a questão é complexa e não pode ser
tratada de forma simplista, ressaltando sua relação direta com a cultura
digital. “Trata-se de um assunto que carece de debate com a sociedade. A única
visão não pode ser apenas sobre a proibição, mas, sim, da cultura digital, que
é parte da vida das pessoas hoje”, explica. “Vemos o impacto que a inteligência
artificial tem dado na sociedade em todos os campos e, muitas vezes, a
proibição é uma maneira mais fácil de lidar com uma questão que é complexa”,
completa.
Ele ressalta que é papel da escola promover a
educação midiática, preparando os alunos para usar a tecnologia com ética e
responsabilidade na análise de informações. “No mundo digital, a educação
midiática é fundamental. Ela capacita o aluno a usar o celular com ética e a
interpretar os signos da mídia”, afirma. Nesse contexto, a participação da
família é essencial. “A educação midiática começa em casa, no que chamamos de
educação parental. Cabe à família decidir sobre a compra ou não de um aparelho.
Afinal, o celular não faz parte da lista de material obrigatório do aluno”,
enfatiza.
A coordenadora do Ensino
Fundamental do Colégio Bilíngue, em Santos (SP), Lúcia de Melo, convive diariamente com as realidades do âmbito escolar e defende que
o aparelho pode ser uma ferramenta valiosa, desde que utilizado de forma
adequada. “O celular proporciona acesso a diversos conhecimentos quando há uma
excelente orientação pedagógica e é usado de maneira integrada a todas as áreas
do conhecimento”, afirma.
Por outro lado, ela alerta para os riscos do uso
inadequado, como a utilização exclusiva para jogos, que limita o aprendizado ao
expor os usuários a conteúdos sem valor educativo, prejudicando a memória.
“Precisamos manter nossa memória ativa, estimular a organização e a
criatividade. O uso do celular sem propósito educativo pode encurtar ainda mais
a memória”, ressalta. Lúcia também destaca a importância de envolver as
famílias nesse processo. “Trabalhamos junto com os pais para que o celular seja
utilizado pelos alunos apenas como uma ferramenta pedagógica dentro da escola”,
explica.
Tecnologia como aliada
Para Vitor Azambuja, um dos
criadores e sócio criativo do programa De Criança
Para Criança, que oferece metodologias de educação híbrida para
escolas ao redor do mundo, o tema está mais relacionado à educação sobre
o uso do celular do que à proibição, aplicando-se a diversas situações do
cotidiano. “Uma alternativa nas salas de aula seria promover o diálogo, pedindo
aos alunos que deixem o celular em modo avião, por exemplo, garantindo que, em
casos de urgência, a família tenha acesso a outros meios de comunicação com a
escola”.
Vitor reforça, ainda, que o mundo vive em uma era
digital e que o celular, além de ser útil em situações como emergências ou
avisos importantes, é parte de uma discussão mais ampla sobre acesso à
tecnologia. “Vivemos em um mundo digital e os meios pelos quais acessamos a
tecnologia são importantes, inclusive para o programa De Criança Para Criança,
que pode ser acessado por meio do celular. Por isso, é fundamental avaliar o
que se consome”, conclui.
Alexandre Le Voci Sayad - consultor nas áreas de cultura, arte e criatividade da Escola Lourenço Castanho, de São Paulo. Mestre em Inteligência Artificial e Ética pela PUC-SP e especialista em negócios digitais pela Universidade Califórnia - Berkeley. Atualmente é doutorando em políticas de lifelong learning e IA na Universidade Autônoma de Barcelona (UAB - Espanha).
Lúcia de Melo - Coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental II no Colégio Progresso Bilíngue Santos. Formada em Letras e Pedagogia, com pós-graduação em Educação e Língua Portuguesa, e 30 anos de experiência na área da educação.
Vitor Azambuja - Especialista em criação, diretor de arte e artista plástico. Formado em publicidade e piano clássico, trabalhou em diversas agências de propaganda, criando filmes e anúncios para grandes anunciantes. Um dos criadores do programa De Criança Para Criança, é sócio e diretor criativo da empresa. Foi premiado em festivais de propaganda no Brasil e no exterior. Realizou exposições de pinturas em São Paulo, Rio de Janeiro, Nova Iorque, Miami e Paris. Seu propósito é fazer com que as crianças do mundo inteiro aprendam desenvolvendo a sua criatividade.
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