segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

6 em cada 10 escolas brasileiras já limitam uso de celular

Pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil mostra que em 28% das instituições já acontece a proibição total 



Seis em cada 10 escolas brasileiras de ensino fundamental e médio, tanto urbanas quanto rurais, restringem o uso de celulares, com limitações de horários e espaços específicos. Em 28% das instituições, o uso é completamente proibido, segundo pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). O tema tem ganhado força no Senado, com a tramitação em urgência do primeiro projeto de lei (PL 104/15) que limita celulares em salas de aula. Em São Paulo, a lei estadual nº 18.058 sancionada em dezembro de 2024 já proíbe o uso dos aparelhos em escolas públicas e privadas.

O mestre em Inteligência Artificial e Ética, educador e consultor da Escola Lourenço Castanho, Alexandre Le Voci Sayad, destaca que a questão é complexa e não pode ser tratada de forma simplista, ressaltando sua relação direta com a cultura digital. “Trata-se de um assunto que carece de debate com a sociedade. A única visão não pode ser apenas sobre a proibição, mas, sim, da cultura digital, que é parte da vida das pessoas hoje”, explica. “Vemos o impacto que a inteligência artificial tem dado na sociedade em todos os campos e, muitas vezes, a proibição é uma maneira mais fácil de lidar com uma questão que é complexa”, completa.

Ele ressalta que é papel da escola promover a educação midiática, preparando os alunos para usar a tecnologia com ética e responsabilidade na análise de informações. “No mundo digital, a educação midiática é fundamental. Ela capacita o aluno a usar o celular com ética e a interpretar os signos da mídia”, afirma. Nesse contexto, a participação da família é essencial. “A educação midiática começa em casa, no que chamamos de educação parental. Cabe à família decidir sobre a compra ou não de um aparelho. Afinal, o celular não faz parte da lista de material obrigatório do aluno”, enfatiza.

A coordenadora do Ensino Fundamental do Colégio Bilíngue, em Santos (SP), Lúcia de Melo, convive diariamente com as realidades do âmbito escolar e defende que o aparelho pode ser uma ferramenta valiosa, desde que utilizado de forma adequada. “O celular proporciona acesso a diversos conhecimentos quando há uma excelente orientação pedagógica e é usado de maneira integrada a todas as áreas do conhecimento”, afirma.

Por outro lado, ela alerta para os riscos do uso inadequado, como a utilização exclusiva para jogos, que limita o aprendizado ao expor os usuários a conteúdos sem valor educativo, prejudicando a memória. “Precisamos manter nossa memória ativa, estimular a organização e a criatividade. O uso do celular sem propósito educativo pode encurtar ainda mais a memória”, ressalta. Lúcia também destaca a importância de envolver as famílias nesse processo. “Trabalhamos junto com os pais para que o celular seja utilizado pelos alunos apenas como uma ferramenta pedagógica dentro da escola”, explica.


Tecnologia como aliada

Para Vitor Azambuja, um dos criadores e sócio criativo do programa De Criança Para Criança, que oferece metodologias de educação híbrida para escolas ao redor do mundo,  o tema está mais relacionado à educação sobre o uso do celular do que à proibição, aplicando-se a diversas situações do cotidiano. “Uma alternativa nas salas de aula seria promover o diálogo, pedindo aos alunos que deixem o celular em modo avião, por exemplo, garantindo que, em casos de urgência, a família tenha acesso a outros meios de comunicação com a escola”.

Vitor reforça, ainda, que o mundo vive em uma era digital e que o celular, além de ser útil em situações como emergências ou avisos importantes, é parte de uma discussão mais ampla sobre acesso à tecnologia. “Vivemos em um mundo digital e os meios pelos quais acessamos a tecnologia são importantes, inclusive para o programa De Criança Para Criança, que pode ser acessado por meio do celular. Por isso, é fundamental avaliar o que se consome”, conclui.

 



Alexandre Le Voci Sayad - consultor nas áreas de cultura, arte e criatividade da Escola Lourenço Castanho, de São Paulo. Mestre em Inteligência Artificial e Ética pela PUC-SP e especialista em negócios digitais pela Universidade Califórnia - Berkeley. Atualmente é doutorando em políticas de lifelong learning e IA na Universidade Autônoma de Barcelona (UAB - Espanha).


Lúcia de Melo - Coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental II no Colégio Progresso Bilíngue Santos. Formada em Letras e Pedagogia, com pós-graduação em Educação e Língua Portuguesa, e 30 anos de experiência na área da educação.


Vitor Azambuja - Especialista em criação, diretor de arte e artista plástico. Formado em publicidade e piano clássico, trabalhou em diversas agências de propaganda, criando filmes e anúncios para grandes anunciantes. Um dos criadores do programa De Criança Para Criança, é sócio e diretor criativo da empresa. Foi premiado em festivais de propaganda no Brasil e no exterior. Realizou exposições de pinturas em São Paulo, Rio de Janeiro, Nova Iorque, Miami e Paris. Seu propósito é fazer com que as crianças do mundo inteiro aprendam desenvolvendo a sua criatividade.


Nenhum comentário:

Postar um comentário