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quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Por que comer bem é um desafio maior para os mais pobres?

Pesquisa da FGV mostra como a busca por saciedade pode dificultar a alimentação saudável entre indivíduos de baixa renda

 

Consumidores de baixa renda tendem a adotar hábitos alimentares menos saudáveis do que os mais ricos, um problema frequentemente atribuído ao acesso limitado a alimentos saudáveis e aos seus preços elevados. No entanto, estudos da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV-EBAPE), indicam que, além desses fatores, a busca por saciedade pode se apresentar como uma importante barreira para a alimentação saudável entre os mais vulneráveis. A pesquisa, recentemente publicada no Journal of Marketing, foi realizada pelo pesquisador FGV EBAPE, Yan Vieites, em parceria com Larissa Elmor, também da FGV, Bernardo Andretti e Eduardo Andrade, ambos da Imperial College London. 

O artigo é resultado de uma pesquisa com dados de oito estudos, conduzidos entre 2019 e 2024. Durante esses cinco anos, foram entrevistadas 2.902 pessoas em duas áreas-chave do Rio de Janeiro: Complexo de Favelas da Maré e Leblon. No artigo, os pesquisadores mostram que consumidores de baixa renda, mais vulneráveis à insegurança alimentar, buscam alimentos que proporcionem saciedade, enquanto consumidores mais ricos, que vivem em contextos de abundância alimentar, priorizam mais a saúde. O valor dado à saciedade pelos consumidores de baixa renda se sobrepõe à importância da saúde, mas não ao sabor, que é um critério importante para todos, independentemente de classe social. Essa prioridade por alimentos que trazem maior saciedade torna os itens saudáveis menos desejáveis, já que estes geralmente são percebidos como menos saciantes, particularmente por aqueles com menos recursos. 

Como resultado, consumidores de baixa renda podem achar alimentos saudáveis menos atrativos, mesmo quando acessíveis e econômicos, caso não sejam percebidos como satisfatórios, o que desafia políticas focadas apenas na oferta desses alimentos. Esses achados sugerem que formuladores de políticas podem melhorar dietas incorporando a saciedade nas diretrizes alimentares e promovendo alimentos saudáveis que saciem mais. “Considerar tanto a acessibilidade quanto a atratividade dos alimentos saudáveis, principalmente em relação à saciedade, é essencial para reduzir a desigualdade nutricional e promover hábitos mais saudáveis entre populações de baixa renda”, resume o pesquisador Yan Vieites. 

A pesquisa, em inglês, pode ser baixada gratuitamente no site do Journal of Marketing.


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