Pesquisa da FGV mostra como a busca por saciedade pode dificultar a alimentação saudável entre indivíduos de baixa renda
Consumidores de baixa renda tendem a adotar
hábitos alimentares menos saudáveis do que os mais ricos, um problema
frequentemente atribuído ao acesso limitado a alimentos saudáveis e aos seus
preços elevados. No entanto, estudos da Escola Brasileira de Administração
Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV-EBAPE), indicam que, além
desses fatores, a busca por saciedade pode se apresentar como uma importante
barreira para a alimentação saudável entre os mais vulneráveis. A pesquisa, recentemente publicada no Journal
of Marketing, foi realizada pelo pesquisador FGV EBAPE, Yan Vieites, em
parceria com Larissa Elmor, também da FGV, Bernardo Andretti e Eduardo Andrade,
ambos da Imperial College London.
O artigo é resultado de uma pesquisa com dados de
oito estudos, conduzidos entre 2019 e 2024. Durante esses cinco anos, foram
entrevistadas 2.902 pessoas em duas áreas-chave do Rio de Janeiro: Complexo de
Favelas da Maré e Leblon. No artigo, os pesquisadores mostram que consumidores
de baixa renda, mais vulneráveis à insegurança alimentar, buscam alimentos que
proporcionem saciedade, enquanto consumidores mais ricos, que vivem em
contextos de abundância alimentar, priorizam mais a saúde. O valor dado à
saciedade pelos consumidores de baixa renda se sobrepõe à importância da saúde,
mas não ao sabor, que é um critério importante para todos, independentemente de
classe social. Essa prioridade por alimentos que trazem maior saciedade torna
os itens saudáveis menos desejáveis, já que estes geralmente são percebidos
como menos saciantes, particularmente por aqueles com menos recursos.
Como resultado, consumidores de baixa renda podem
achar alimentos saudáveis menos atrativos, mesmo quando acessíveis e
econômicos, caso não sejam percebidos como satisfatórios, o que desafia
políticas focadas apenas na oferta desses alimentos. Esses achados sugerem que
formuladores de políticas podem melhorar dietas incorporando a saciedade nas
diretrizes alimentares e promovendo alimentos saudáveis que saciem mais.
“Considerar tanto a acessibilidade quanto a atratividade dos alimentos
saudáveis, principalmente em relação à saciedade, é essencial para reduzir a
desigualdade nutricional e promover hábitos mais saudáveis entre populações de
baixa renda”, resume o pesquisador Yan Vieites.
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