- Na
contramão do argumento de que o cigarro eletrônico seria utilizado como
redução de danos, apenas 3% afirmam que optaram pelo dispositivo para parar de fumar o
cigarro convencional;
- A maioria
dos entrevistados que usam ou já experimentaram o cigarro eletrônico o
fizeram por curiosidade (20,5%) ou porque está na moda (11,6%);
- Inquérito
Covitel 2023 foi desenvolvido pela Vital Strategies, organização global de
saúde pública, e pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a partir da
articulação e financiamento da Umane
Apesar de ter venda e propaganda proibidas no
Brasil, o cigarro eletrônico vem estimulando a curiosidade de novos usuários,
principalmente os mais jovens. É o que mostra o Covitel 2023, Inquérito
Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em
Tempos de Pandemia, desenvolvido pela Vital Strategies, organização global de
saúde pública, e pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a partir da
articulação e financiamento da Umane. De acordo com o levantamento, 20,5% das
pessoas que usam ou já experimentaram o cigarro eletrônico o fizeram por
curiosidade, enquanto outros 11,6% dizem que já fumaram ou
fumam porque está na moda.
Embora um argumento recorrente a favor dos cigarros
eletrônicos seja a redução de danos, com a afirmação
de que eles têm como principal função substituir os cigarros convencionais
no caso de adultos fumantes, o Covitel traz dados inéditos sobre as motivações
para usar cigarro eletrônico que mostram um cenário diferente: 3% optaram
pelo dispositivo eletrônico para parar de fumar o cigarro convencional e
1% por acreditarem que o cigarro convencional faz menos mal do que o cigarro
industrializado.
CONSUMO ENTRE JOVENS
Quando falamos de dispositivos eletrônicos de
fumar, o público jovem é o mais atraído pela novidade. A faixa etária que mais
tem contato com o cigarro eletrônico é a dos jovens adultos. Dos brasileiros
com idades entre 18 e 24 anos: 17,3% já usaram pelo menos uma vez, mas não usa
mais; 6,1% usam, mas não diariamente; 0,5% usam diariamente.
Para efeito de comparação, quando se fala do uso de
cigarro eletrônico em relação à população brasileira adulta geral, 5,7% já
usaram alguma vez na vida, mas não usam mais, 2% usam, mas não diariamente, e
0,3% usam diariamente.
Da parcela da população brasileira que já usou ou
usa cigarro eletrônico, 37,7% experimentaram o dispositivo quando tinham entre
18 e 24 anos de idade. Ainda mais alarmante é o fato de que 19,2% das
pessoas, que já usaram pelo menos uma vez na vida o cigarro eletrônico,
experimentaram o produto com 17 anos ou menos. Ou seja, quase
60% das pessoas que já usaram ou usam o dispositivo tiveram seu primeiro
contato com ele antes dos 24 anos. 36,1% experimentaram na faixa entre 25 e 34
e os outros 7% fumaram pela primeira vez depois dos 35 anos.
“Se levarmos em consideração que o cigarro
eletrônico foi lançado em 2003 e não chegou imediatamente ao Brasil, a
tendência de experimentação na adolescência poderia ser ainda maior do que os
19,2%, pois grande parte da população que já usou o dispositivo já era mais
velha quando o produto chegou, ilegalmente, no país e não tiveram o risco de
ser fisgados ainda mais jovens”, explica Fernando C. Wehrmeister, professor da
UFPel.
FISCALIZAÇÃO E COMÉRCIO ILEGAL
O Covitel também buscou traçar um raio x do
comércio dos cigarros eletrônicos no país e identificar onde os usuários mais estão
tendo acesso ao produto e driblando a legislação que proíbe a venda dos
dispositivos no Brasil. Considerando o momento em que o entrevistado usou o
cigarro eletrônico pela última vez, 37,5% disseram que compraram seu próprio
dispositivo, sendo que, entre os que compraram, 53,3% compraram em lojas
físicas e 29,9% pela Internet.
Outra estratégia da indústria que tem driblado a
legislação brasileira é achar um caminho para fazer marketing dos produtos
online, em um cenário em que propagandas e anúncios desse tipo de dispositivo
são proibidas no país – 33,3% dos brasileiros já teriam sido impactados por
algum tipo de propaganda de cigarros eletrônicos na internet ou nas redes
sociais.
Luciana Vasconcelos Sardinha, da Vital Strategies,
chama atenção para a falta de fiscalização no universo online, sobretudo nas
redes sociais, onde não é difícil achar perfis focados na venda desse produto
fazendo comentários com anúncios em posts de festas ou influenciadores digitais
estimulando o uso. “É preciso que o Brasil invista em sistemas que rastreiem o
marketing online de tabaco. Há experiências internacionais exitosas nesse
sentido, como o Movimento de Denúncia e Fiscalização do Tabaco (Term, na sigla
em inglês) que atua em países como Índia, Indonésia e México. As evidências
geradas por ele são compartilhadas regularmente com ministérios da saúde,
oficiais de controle do tabagismo, acadêmicos e jornalistas, contribuindo com a
fiscalização”, exemplifica.
TABAGISMO NO BRASIL
Para além do cigarro eletrônico, o Covitel também
levantou outras informações sobre o tabagismo no Brasil. O inquérito
identificou que 11,8% da população brasileira é tabagista, o que inclui
usuários de cigarros convencionais, de palha, de papel, charuto e cachimbo.
Quando comparado com o Covitel 2022, não houve queda na porcentagem de fumantes
na população, mostrando que a prevalência tem se mantido estável, diferente de
um histórico persistente de queda dos últimos anos.
“O Brasil é um país referência em políticas de
controle de tabaco e muitos avanços foram registrados nas últimas décadas, mas
os esforços não podem parar ou teremos retrocessos. Hoje temos um problema que
é o fato de o cigarro convencional estar muito barato. É o segundo mais barato
da região das Américas, uma vez que não há reajuste real de preço desde 2016”,
explica Luciana Sardinha, Gerente Sênior de DCNT da Vital Strategies.
Ela reforça que estratégias, como a inclusão do
imposto seletivo (que incide sobre produtos que fazem mal a saúde, como o
tabaco) na nova Reforma Tributária, são fundamentais: "O imposto aumenta o
preço e esse aumento é uma estratégia comprovada de desincentivo ao consumo. O
preço do cigarro precisa voltar a aumentar e essa arrecadação deve ser
destinada a ações de prevenção de uso e cessação do fumo, além de custear parte
dos custos de tratamento das doenças relacionadas ao tabagismo”.
SOBRE O COVITEL 2023
O Covitel 2023 traz um retrato da magnitude das prevalências e do impacto dos principais fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) na população adulta brasileira. As DCNT são quadros clínicos que não são provocados por agentes infecciosos, como doenças cardiovasculares, câncer, diabetes, doenças respiratórias crônicas e condições mentais e neurológicas. Essas condições são impactadas por uma combinação de fatores, como tabagismo, alimentação inadequada, consumo abusivo de álcool, sedentarismo e poluição do ar. Esse grupo de doenças causa 41 milhões de mortes por ano, o equivalente a 74% de todas as mortes globais, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Por ter sua primeira edição durante a pandemia em 2022, a pesquisa ainda levantou dados específicos sobre Covid-19, que também foram incluídos na edição de 2023.
SOBRE A VITAL STRATEGIES
A Vital Strategies é uma organização global de saúde que acredita que todas as pessoas devem ser protegidas por políticas e sistemas de saúde forte e equitativos. Nossa equipe trabalha com governos e a sociedade civil para conceber e implementar estratégias e políticas baseadas em evidências para enfrentar alguns dos maiores desafios mundiais de saúde pública. Temos experiência em gerenciar programas de forma eficiente, fortalecer sistemas de dados, realizar pesquisas e desenvolver campanhas estratégicas de comunicação para mudanças de políticas e comportamentos.
SOBRE A UFPEL
A Universidade Federal de Pelotas (UFPel) é uma instituição brasileira de ensino superior cujos campi se localizam nas cidades de Pelotas e Capão do Leão, no Rio Grande do Sul. Oferece atualmente 99 cursos de graduação, 39 cursos de mestrado e 16 de doutorado distribuídos em 20 unidades acadêmicas (6 Institutos Básicos, 12 Faculdades, 1 Escola Superior de Educação Física e 1 Conservatório de Música). Atualmente, a UFPel possui cursos de mestrado e/ou doutorado em todas as áreas do conhecimento: Ciências Exatas e da Terra, Ciências Biológicas, Engenharias, Ciências Agrárias, Ciências da Saúde, Ciências Sociais Aplicadas, Ciências Humanas, Linguística, Letras e Artes, contando também com cursos com atuação Multidisciplinar.
SOBRE A UMANE
A Umane é uma associação civil sem fins lucrativos dedicada a apoiar iniciativas de prevenção de doenças crônicas não transmissíveis e promoção à saúde, no âmbito da saúde pública, com os objetivos de contribuir para um sistema de saúde mais resolutivo e melhorar a qualidade de vida da população brasileira. A Umane dirige seu apoio para três linhas programáticas: a Atenção Integral às Condições Crônicas, com iniciativas de controle dos fatores de risco, rastreamento, ampliação do acesso à saúde e ao monitoramento dos fatores de risco na Atenção Primária à Saúde; o Fortalecimento da Atenção Primária à Saúde por meio do apoio a iniciativas que visem melhorias operacionais, de produtividade de equipes, de integração de serviços e da incorporação de novas tecnologias ao sistema de saúde e a Saúde Materno Infantil e Juvenil, financiando programas que acompanhem e monitorem desfechos desfavoráveis durante a gestação e as condições de saúde de crianças e adolescentes no contexto das Doenças Crônicas Não Transmissíveis e dos fatores de risco.
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