A mãe não é amiga da filha. Ela é a mãe!
Essa expressão não anula a possibilidade de “mãe e
filha” desfrutarem de um relacionamento afetuoso e próximo, mas considera que é
de extrema importância que a mãe se mantenha em seu lugar de orientadora,
protetora e cuidadora da formação básica da filha. Tornarem-se amigas intimas
reforça o adoecimento da mãe e deforma o crescimento da filha, já que elas são
de gerações diferentes e se relacionam saudavelmente com amigas que
compartilham a mesma fase da vida.
Em razão de seus momentos distintos, a mãe saudável
abre espaço para o caminho da filha como mulher que, também de forma saudável,
segue os seus melhores ensinamentos. A filha, em geral, precisa de uma certa
distância da mãe para crescer, e a mãe, quando realmente está cuidando da
própria vida, acompanha esse crescimento e sente segurança na formação que lhe
dá. No entanto, a mãe que se comporta como “amiguinha” da filha, desfaz os
limites necessários com ela e “perde” o seu lugar de maior.
Neste caso, quando a filha tem uma mãe que se
comporta como ela, ou mesmo, precisa dela, inconscientemente, sente-se perdida
e busca outra “mãe” em suas relações. Para que a filha possa amadurecer sem
carregar tantas dores, precisa de uma mãe que assuma as responsabilidades da
própria idade e não projete sua vida na vida dela.
Quando mãe e filha são capazes de vivenciar os
ciclos separadamente, percebo que elas se tornam mais preparadas para se
respeitar e, em consequência disso, a filha consegue confiar nas escolhas da
mãe, não se envolve em seus problemas e tem mais facilidade para ter relações
saudáveis (e respeitosas) com outras mulheres.
A mãe que se alimenta da vida da filha, a torna
faminta da própria vida, pois com olhos sempre vigilantes, aprisiona-a em suas
necessidades e dificulta que ela cresça como mulher. Por exemplo, a filha de
uma mãe carente e deficiente de amor próprio, em grau máximo, talvez tenha dificuldade
de se abrir para o autodesenvolvimento, dedicando-se a promover a vida da mãe.
Ainda pequena, a filha descobre que pode acalmar o desconforto da mãe sendo
atenciosa, carinhosa e adaptável aos seus vazios e ocupa o famoso lugar da “mãe
da mãe”, pagando um preço alto quando compreende o que lhe custou.
Outro lugar perigoso de se tornar a “queridinha da
mamãe” é quando a filha escolhe seguir a dor dela e passa a se sentir carente o
suficiente ao compartilhar os sentimentos maternos na própria vida, um lugar
onde mãe e filha se aquecem na mesma solidão. Essa filha acredita que a
história difícil da mãe a impede de potencializar as próprias habilidades e,
por ser vítima dessa realidade, tem uma forte tendência em sentir-se “amada”
apenas se estiver servindo à mãe, tornando-a orgulhosa.
Quando a mãe diz para a filha: “O que eu faria sem
você?”, mostra a necessidade de tê-la constantemente em sua vida, proibindo-a
secretamente de formar outras relações de afeto. Daí se explica o motivo pelo
qual algumas filhas ligadas à dor da mãe encontram-se afetivamente solitárias e
não conseguem se realizar na vida a dois. Elas se ferem, gritando seus vazios
nas relações abusivas e/ou mendigando por uma libertação, pelo simples fato de
carregarem muita raiva de si mesmas.
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