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sábado, 19 de agosto de 2023

Crianças e jovens podem ter saúde mental comprometida devido ao excesso de internet

 Com grande acesso à internet, muitos estão entrando virtualmente em lugares que jamais iriam fisicamente. 

 

São inúmeras as notícias que mostram jovens sendo manipulados e envolvidos, através de conversas e conteúdos da internet, a fazerem o que provavelmente não fariam, por não terem idade para isso. Segundo Silvia Tocci Masini, educadora, psicanalista e psicopedagoga, a pandemia permitiu que jovens e crianças permanecessem mais tempo nas telas, em celulares ou computadores, pois com muito tempo ocioso, devido a redução das atividades, e os pais trabalhando, ainda que estivessem juntos na mesma casa, estavam isolados em mundos separados. Um ano e meio depois disso, a conta da saúde emocional e mental ainda cobra um preço alto de muitos estudantes e suas famílias.

A especialista conta que iniciou um trabalho na Escola do Futuro, no ano passado, focado justamente na saúde mental de crianças e jovens que ainda sofrem com as marcas deixadas pela pandemia. “Percebemos que quando criamos um ambiente de escuta e acolhimento, os alunos se abrem e podemos ajudar. Isso é urgente no momento atual. Esse período de isolamento trouxe luz sobre uma situação que já havia se iniciado. Atualmente um dos temas que mais trago à tona é ‘Onde os jovens ficaram durante a pandemia?’. Muitos pais estavam tranquilos por terem seus filhos em casa, na segurança do seu quarto, mas não percebiam que eles estavam submersos na internet, vendo coisas e tendo acesso a lugares que não têm condições de absorver”, explana.

Silvia explica que criou dentro da instituição particular uma Escola de Pais, voltada para o Ensino Fundamental II e Médio, onde realiza Rodas de Conversas com o objetivo de conscientizar a família, com temas como ‘Onde o seu filho anda?’. “Alguns reagem dizendo que eles necessitam de privacidade, mas é fundamental proteger sem controlar e monitorar por onde andam e o que estão fazendo. Para auxiliar as famílias, criamos uma rede de apoio. Nas salas há um professor tutor e dois conselheiros, que observam os alunos e quando necessário, essa rede de apoio é acionada, para buscar a melhor ação, e, em muitos casos, informar a família. Não é muito difícil perceber que um adolescente ou jovem está com problemas. Os sinais são evidentes e pode ser na mudança de comportamento, com isolamento, uso de roupas diferentes ao habitual - como capuz ou roupas escuras, com mangas compridas - e até na mudança alimentar. Na Escola, quando percebemos sinais como depressão ou crise de ansiedade, acionamos a família e encaminhamos para um profissional especializado”, detalha.

Segundo ela, tanto o jovem como a criança necessitam de rotina e precisam sentir-se importantes em casa, tendo a sensação de pertencimento e, por isso, a família deve monitorar, estar presente, se interessar pelo que fazem, trazendo-os para perto. “Os pais devem participar da vida dos filhos, compartilhando momentos juntos, proporcionando atividades que eles gostam e não o que os adultos preferem. Como, por exemplo, assistir a filmes, ouvir música, praticar algum esporte, ir a shows, parques e propor atividades diferentes. No começo o jovem pode até resistir, pois ele passa por um momento em que está criando identidade, quer ser diferente. Com jeito e cuidado, a família pode se aproximar; trazer amigos em casa, viajar, entre tantas outras coisas. Os pais devem lembrar-se de como eram nessa fase e exercitarem a empatia, para que seus filhos não se isolem. É preciso substituir o celular de forma criativa e interativa”, alerta.

Os jovens e adolescentes necessitam ser vistos e ouvidos e, em alguns casos, muitos dos problemas que os pais enfrentam com os filhos são porque não estiveram atentos na infância. “É fundamental dar atenção à criança enquanto ela é pequena, para que quando entre na adolescência, época em que irá se desgarrar um pouco, não perder o vínculo já criado. Estar perto na infância é plantar uma semente para a juventude”, alerta Silvia.

Para a psicanalista, a escola realiza um trabalho de parceria com as famílias, mas os pais têm a responsabilidade total, são o modelo e precisam estar perto, mesmo sendo trabalhoso, é um processo prazeroso. “Por terem profissionais capacitados, as instituições de ensino, muitas vezes, percebem os sinais primeiro e podem auxiliar no direcionamento do caminho destes estudantes. O jovem precisa de limite para adquirir segurança, por isso, me preocupo quando um dos pais diz que é muito amigo dos filhos. Isso é muito bom, mas quem está fazendo o papel de pai? Esse lugar está vazio? Muitas das frases que nos lembramos a vida toda, foram aquelas ditas pelos pais com amor. É muito triste quando hoje no consultório pergunto a um jovem ‘por que você faz isso', e ele me responde: ‘Ninguém nunca me parou. Ninguém nunca me disse não’. Em alguns casos, os pais precisam primeiro ressignificar algumas questões das suas próprias vidas, para então ajudarem os filhos. Os adultos também precisam de autoconhecimento, pois muitas vezes a família toda está precisando de ajuda. E é preciso agir rápido, pois as coisas acontecem de repente na vida dos jovens e temos que estar atentos para tirá-los de alguns lugares ruins onde estão entrando”, completa.

 

Silvia Tocci Masini - educadora, psicanalista e psicopedagoga, realiza um trabalho na Escola do Futuro, focado na saúde mental de crianças e jovens que ainda sofrem com as marcas deixadas pela pandemia


Escola do Futuro
https://www.escoladofuturo.com.br/a-escola/


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