A perda auditiva, a partir da quinta ou sexta década de vida, faz parte do processo natural de envelhecimento humano. Ou seja, é algo mais do que previsto e comum - assim como as alterações da visão, perda de cabelo e perda de massa muscular, dentre outras tantas perdas também associadas ao envelhecimento.
No caso da audição, porém, é algo que penaliza de
sobremaneira os pacientes quando têm essa condição agravada. Afinal, a surdez
provoca uma situação de isolamento social, justamente pela perda da capacidade
de comunicação que lhe é imposta.
Trabalhos recentes vêm associando a deficiência
auditiva em idosos à evolução de quadros demenciais. Nesses casos, a
reabilitação com aparelhos de amplificação sonora individual, segundo o tipo de
perda auditiva, pode evitar essa progressão e, em alguns casos, até melhorar a
cognição.
Quando se trata de idosos em especial, a
dificuldade auditiva com comprometimento da comunicação interpessoal é,
sem dúvida, um fator de risco a quem preza por uma boa qualidade de vida. Por
isso, é tão importante o acompanhamento médico regular.
Afinal, cuidar da audição é cuidar das memórias e
das relações das pessoas idosas, que são tão importantes para os manter com o
propósito de viver e garantir a autonomia e independência deles. As pessoas que
convivem com idosos precisam ter isso muito claro e sempre estar atentos!
Os indicativos de surdez costumam partir de
situações cotidianas, como aumentar demasiadamente o volume da TV, solicitar
que repitam as frases recorrentemente, não responder a chamados
e apresentar dificuldades para manter conversação em ambientes com ruido competitivo,
como em uma mesa de restaurante com alguns familiares. Também é bastante comum
a dificuldade em falar/entender ao telefone; falta de uma boa compreensão das
palavras que ouve; dificuldade em conseguir manter conversas simples; e
elevação do som da própria voz.
Para um diagnóstico correto, o exame de audiometria
é o mais recomendável, pois identifica o tipo e o grau da perda auditiva. Ele é
fundamental para detectar perdas auditivas ainda em seu estágio inicial, para
que seja feita uma intervenção precoce a fim de melhorar a qualidade de vida
das pessoas que já apresentam algum grau de deficiência. Isso porque o exame
ajuda a identificar se o paciente precisará utilizar um aparelho auditivo e
qual a melhor indicação (tecnologia e modelo), de acordo com as suas
necessidades.
O meio mais indicado para iniciar a reabilitação,
tão logo ocorra alterações sensoriais auditivas, é avaliá-la periodicamente a
partir dos 60 anos. O ideal é que o idoso não espere sentir desconforto
auditivo para fazer o exame, principalmente se houver histórico de surdez na
família. Da mesma forma, os parentes e cuidadores devem ficar atentos para que
essa condição não comprometa a qualidade de vida.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam
que, no Brasil, há 28 milhões de pessoas com surdez, representando 14% da
população, com incidência maior em idosos. Em média, segundo a Associação
Brasileira de Otorrinolaringologia, as pessoas demoram cerca de sete anos para
procurar um especialista após perceberem algum dano à audição e ainda levam
mais dois anos para escolher um tratamento.
Componentes genéticos e fatores de risco
específicos, como diabetes, pressão alta, tabagismo e uso excessivo de álcool,
podem acelerar o processo de perda auditiva. As causas mais recorrentes, por
sua vez, são a exposição ao ruído ao longo da vida, atuação em alguns tipos de
ambientes de trabalho e a não-utilização de protetor auditivo.
Dr. Gilberto Ferlin - médico otorrinolaringologista e foniatra no Hospital Paulista
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